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Descrição de chapéu Copa do Mundo

Seleção do tetra combate fama injusta de retranqueira 30 anos após título

Há 30 anos, Brasil conquistava o título nos EUA; Ricardo Rocha diz que seleção de 1994 foi a única campeã sem sofrer e que derrota de 1990 ajudou a formar o espírito vencedor

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São Paulo

A estatística dos gols marcados durante a Copa do Mundo de 1994, antes da final, mostrava um terço nos primeiros quinze minutos. O Brasil não tinha feito nenhum desta maneira. Motivo para as manchetes de trinta anos atrás estamparem que Parreira queria cautela no primeiro tempo, para decidir no segundo. Técnico do tetra, Carlos Alberto Parreira dizia que não:

"Queremos decidir no início. Mas pode ser necessário ter paciência."

Esta característica, paciência, jamais faltou ao treinador do tetra nos três anos em que dirigiu a seleção. Foi criticado por motivos justos e equivocados. Por perder pela primeira vez um jogo de eliminatórias, contra a Bolívia: Justo!

Por montar time retranqueiro e europeizado: Errado!

"Jogamos com linha de quatro zagueiros, saímos com bola no chão, sem chutões, trocamos passes, estilo brasileiro", dizia Parreira.

Romário beija a taça de campeão mundial, ao lado de Dunga (à dir.) e de Ronaldão (ao fundo) - AFP

É marcante uma imagem na última semana da Copa, em Fullerton, região metropolitana de Los Angeles. O assessor de imprensa, Nelson Borges, improvisou uma entrevista coletiva no jardim do hotel. Parreira sentou-se em uma cadeira com as costas voltadas para uma parede de tijolos. Esticava o corpo para trás, protegendo-se da multidão de jornalistas. Não alterava o tom de voz: "Vamos jogar nosso futebol. Troca de passes, estilo brasileiro. A seleção não é europeizada."

A crítica justa àquele time que tirou o Brasil de uma fila de 24 anos sem a Copa do Mundo é ter praticado um futebol chato. Retrancado, não. "A última parte dos treinos, chamávamos de treinamentos cháticos. Parreira fazia questão de montar os sistemas de coberturas. Se a bola entrasse nas costas do Branco, o Márcio Santos saía à caça, o Mauro Silva vinha no lugar do Márcio e isso se ensaiava do outro lado também, com o Jorginho cobrindo por dentro", lembra-se o zagueiro Ricardo Rocha.

Inscrito com a camisa número 3, Ricardo foi o único beque a vestir a 10 da seleção, no Pré-Olímpico de 1987. A experiência fez dele um dos líderes do elenco, mesmo depois de sofrer lesão que o tirou de combate no primeiro jogo, contra a Rússia. Um ano antes, foi dele a ideia de todos os jogadores entrarem em campo de mãos dadas. Aconteceu no Recife, cidade em que nasceu, na revanche contra a Bolívia. Pelo segundo turno das eliminatórias, o Brasil venceu por 6 a 0 e não deixou de entrar de mãos dadas até o final da campanha dos Estados Unidos.

Ricardo Rocha é amigo de Romário, mas tem um debate ideológico com o craque do tetra. O Baixinho ironiza quem afirma que as derrotas trazem cicatrizes e ajudam a montar equipes vencedoras. "Nunca me fez aprender nada. Derrota só traz tristeza."

Outros nove jogadores presentes ao Mundial de 1990 afirmarão o contrário: "É que o Romário estava na reserva na Itália e não queria saber de nada. Perder quatro anos antes nos ajudou muito", garante Ricardo Rocha, capitão sem braçadeira nos Estados Unidos, em 1994.

Há cinco anos, o craque do tetra faltou à comemoração dos 25 anos do título alegando que não iria em evento oficial da CBF. No entanto, 19 dos 22 campeões organizaram outra celebração num hotel em Ipanema. Romário também não foi.

"Ele disse que viria e não apareceu", lamentou Zinho, na época.

Ninguém dirá publicamente, mas todos lastimam quando escutam que Romário ganhou a Copa sozinho. "A gente comandava tudo. Fazíamos reuniões só entre os dez que tinham jogado em 1990. Não deixamos nada de ruim entrar no grupo. Nem jornal entrava na concentração", diz Ricardo Rocha.

Mesmo assim, os experientes não suportavam as críticas, especialmente quando vinham dos campeões mundiais de 1970, como Gérson e Rivelino. Sentiam-se como se os velhos campeões tivessem o desejo de se perpetuarem como os últimos orgulhos do futebol do Brasil. "Se você olhar bem, até a seleção de 1970 sofreu em alguns jogos. O time de 2002 teve problemas contra a Turquia, a Bélgica. O nosso time foi o único dos cinco que não sofreu para ser campeão", argumenta Ricardo Rocha.

"Tive certeza do título contra a Suécia, na semifinal. Tocamos a bola o tempo todo. Placar moral: 5 a 0 para nós. Ganhamos de 1 a 0, sem sofrer." Ricardo diz que o Brasil chutou 30 vezes a gol. O gráfico da Folha no dia seguinte à semifinal mostra 25 finalizações, 11 delas certas. A seleção teve mais posse de bola do que o adversário em todas as partidas. Foi quem mais trocou passes.

Há uma diferença entre a posse de bola de Parreira e a atual escola de Guardiola, baseada em Cruyff e Rinus Michels. O catalão e os holandeses pressionam no ataque, assim que são desarmados. O Brasil atrasava seus jogadores, para marcar atrás do meio de campo.

O time titular que enfrentou a Itália na final de 1994; (de pé) Taffarel, Jorginho, Aldair, Mauro Silva, Marcio Santos e Branco; (agachados) Mazinho, Romário, Dunga, Bebeto e Zinho; - Folhapress

Nos dois casos, a obsessão é a posse de bola.

Parreira a preservou sempre e também contra a Itália, na decisão.

O primeiro encontro Brasil x Itália desde Telê, em 1982.

Já parou para pensar quanto foi o jogo em 1994? Brasil 3 x 2 Itália! O placar invertido da derrota no Sarriá, só que nos pênaltis, depois de empate por 0 a 0.

Trinta anos depois, ainda há quem reforce um falso dilema: ganhar como em 1994 ou perder como em 1982. Num país pentacampeão mundial, essa pergunta não faz sentido. Preferimos ganhar como em 1970 ou 2002, vencendo todos os jogos e com o melhor ataque.

Telê respondeu melhor, em sua coluna na Folha durante a Copa de 1994: "Não se trata de jogar bem ou vencer. Trata-se de jogar bem para vencer."

O Brasil de Parreira jogou bem e venceu ao seu estilo.


Números da final

Brasil Itália
652 Passes certos 392
102 Passes errados 115
47min48s Posse de bola 31min10s
13min59s Tempo para repor a bola 23min50s
8 Recuos 7
70 Bolas perdidas 52
18 Faltas cometidas 18
9 Finalizações certas 3
13 Finalizações erradas 3
14 Lançamentos certos 6
15 Lançamentos errados 15
5 Escanteios 3
9 Impedimentos 3

Fonte: Datafolha (publicado na Folha na edição de 18 de julho de 1994)


Os tetracampeões do Mundo

Goleiros

  • Taffarel - Reggina (ITA)
  • Zetti - São Paulo
  • Gilmar - Flamengo

Defensores

  • Jorginho - Bayern de Munique (ALE)
  • Cafu - São Paulo
  • Aldair - Roma (ITA)
  • Márcio Santos - Bordeaux (FRA)
  • Ricardo Rocha - Vasco da Gama
  • Ronaldão - Shimizu S Pulse (JAP)
  • Branco - Fluminense
  • Leonardo - São Paulo

Meias

  • Mauro Silva - Deportivo La Coruña (ESP)
  • Dunga - Stuttgart (ALE)
  • Raí - PSG (FRA)
  • Mazinho - Palmeiras
  • Paulo Sérgio - Bayer Leverkusen (ALE)
  • Zinho - Palmeiras

Atacantes

  • Bebeto - Deportivo La Coruña (ESP)
  • Romário - Barcelona (ESP)
  • Müller - São Paulo
  • Viola - Corinthians
  • Ronaldo - Cruzeiro

Treinador

  • Carlos Alberto Parreira

A campanha do Brasil na Copa de 1994

  • Fase de grupos

20.jun.94
Brasil 2 x 0 Rússia

24.jun.94
Brasil 3 x Camarões

28.jun.94
Brasil 1 x 1 Suécia

  • Oitavas de final

4.jul.94
Brasil 1 x 0 EUA

  • Quartas de final

9.jul.94
Brasil 3 x 2 Holanda

  • Semifinal

13.jul.94
Brasil 1 x 0 Suécia

  • Final

17.jul.94
Brasil (3) 0 x 0 (2) Itália

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