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Filme com filho de Darín mostra anos de prisão de Mujica e amigos na ditadura uruguaia

'Uma Noite de 12 Anos' registra período de isolamento de trio de guerrilheiros na prisão

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Buenos Aires

Em 1973, os três guerrilheiros tupamaros José "Pepe" Mujica, Mauricio Rosencof e Eleuterio Fernández Huidobro começaram a viver a noite mais longa de suas vidas. Seriam 12 anos em que não puderam falar entre si —passaram todo o tempo isolados um do outro e sem acesso a informações do que se passava do lado de fora.

Não sabiam onde estavam, se seriam soltos ou mortos de repente.

Como outros países da região, o Uruguai vivia, na época, uma ditadura militar (1973-1985), mas o foco do filme "Uma Noite de 12 Anos", que estreia nesta quinta (27) não é a política, e sim como cada prisioneiro organizou mentalmente um mecanismo particular para seguir vivo. É um filme sobre o que um longo o cativeiro pode fazer a uma pessoa.

Tampouco passava pelas suas cabeças que, um dia, Huidobro, conhecido como Ñato, viraria ministro, que Rosencof seguiria uma carreira de escritor de sucesso e que Mujica seria presidente do Uruguai (2010-2015).

"É importante levar em conta a incerteza total com a qual atravessaram esses anos, a incerteza de saírem vivos, de reverem seres queridos, de poderem retomar sua luta ou mesmo de serem executados de repente. Foi uma imensa caminhada no escuro", conta o diretor do filme, o uruguaio Álvaro Brechner.

Dos três guerrilheiros "tupas", dois seguem vivos, Mujica e Rosencof.

Foi com base nos escritos deste último que se armou o roteiro do filme. Huidobro morreu em 2016, mas ainda a tempo de conceder entrevistas para o filme.

Por sua fama internacional, o personagem que mais levará as pessoas a ver o longa —aplaudido no Festival de Veneza deste ano– será Mujica. Porém, elas se encontrarão com alguém diferente do espontâneo e irônico ex-chefe de Estado que conhecemos. No confinamento, a forma que encontrou para sobreviver foi voltar-se para dentro de si mesmo.

O filme mostra um homem introspectivo, cujos pensamentos misturavam ficção e realidade e nos quais a figura da mãe é constante.

"Ele realmente guardou muito da dor e do sofrimento dentro dele, e depois fez um exercício imenso para deixar tudo aquilo para trás. Foi difícil conversar com ele sobre o cativeiro, tudo saía entrecortado, a conta-gotas", disse o ator espanhol Antonio de la Torre, que encarnou o personagem.

Ñato, vivido por Alfonso Tort, protagoniza uma das poucas cenas em que é possível rir com alívio. Solto, ainda que dentro do pátio da prisão, cabeça livre do capuz, é reconhecido por outros "tupas" presos em outras celas, e ensaia, na frente dos guardas, uma jogada de futebol, com dribles e um gol imaginário, que todos comemoram.

O personagem mais interessante, porém, é Mauricio Rosencof, pensador lúcido e ainda na ativa, aos 85 anos. Autor de mais de 20 livros, além do "Memorias del Calabozo", obra em que se baseia o filme, também escreveu "As Cartas que Não Chegaram", em que conta o exílio de sua família de judeus poloneses obrigados a fugir do nazismo.

Rosencof é vivido por Chino Darín –filho do ator Ricardo Darín. "Tive a sorte de contar com a lucidez de Rosencof, conversar com ele e poder ler seus livros, que me enriqueceram como pessoa, muito além do necessário para o personagem", afirmou Chino Darín.

Uma das artimanhas que Rosencof encontra para conquistar a confiança de um dos militares foi escrever as cartas de amor com a qual o capitão conquistou a namorada.

"Sua principal lição para mim foi ensinar que nem sempre se necessita de papel e lápis para exercer a imaginação, e foi isso que ele fez naqueles 12 anos, e pôde sair lúcido da experiência", conta o ator.

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