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Jovens pintores de sucesso milionário falam da queda repentina de valor em leilões

Artistas e especialistas da arte contemporânea discutem a desaceleração do mercado e os desafios de estrelas emergentes

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Zachary Small Julia Halperin
Nova York | The New York Times

Como os melhores anos da carreira de Amani Lewis se transformaram no pior momento da vida do artista?

Primeiro veio a ascensão meteórica. Uma pintura assombrosa feita por Lewis em 2020 foi vendida em leilão apenas um ano depois por US$ 107 mil, mais do que o dobro de sua estimativa. Duas outras obras haviam triplicado as expectativas recentemente, e um colecionador ofereceu US$ 150 mil em dinheiro por novas peças recém-saídas do estúdio. Houve exposições em Paris e Miami —Lewis aparentemente havia conquistado o mercado aos 26 anos, mudando para um novo estúdio de arte e comprando um Tesla.

Mas, quando a pintura original reapareceu em leilão, em junho, e seu preço despencou para US$ 10.080 —perdendo 90% de seu valor— a festa acabou. Naquela época, Lewis havia parado de alugar um apartamento de luxo de US$ 7.000 por mês em Miami, nos Estados Unidos, e temporariamente se mudou para a casa de seu irmão.

Amani Lewis com uma pintura de 2024

"Foi um grande sucesso e depois caí", disse o artista, agora com 29 anos. "Foi algo como 'estamos acabados com Amani Lewis'."

No último ano, à medida que o dinheiro debandava do mercado de arte, jovens estrelas da arte ao redor do mundo experimentaram retrocessos dramáticos que afundaram suas carreiras.

O artista ganês Emmanuel Taku teve uma pintura vendida em 2021 por US$ 189 mil, apenas para ver seu preço cair em março para US$ 10.160 em leilão. Retratos no estilo cubista de Isshaq Ismail, que foram vendidos por até US$ 367 mil há dois anos, não conseguiram ultrapassar os US$ 20 mil. Allison Zuckerman, uma artista do Brooklyn, em Nova York, também sentiu as contrações do mercado; sua pintura "Mulher com Seu Animal de Estimação" foi vendida por US$ 212,5 mil há três anos, mas arrecadou apenas US$ 20.160 em leilão em junho.

A artista Allison Zuckerman em seu estúdio no Brooklyn, em Nova York, em julho do ano passado

O que aconteceu com o mercado em alta e a noção de que todas as obras de arte se valorizam? O mercado de arte vem experimentando uma desaceleração nos últimos anos, mas a queda tem sido particularmente aguda para jovens artistas.

Durante o início da pandemia, houve um boom especulativo impulsionado por uma crença equivocada em retornos rápidos, com colecionadores gastando US$ 712 milhões em leilões —em 2021 em obras de artistas nascidos após 1974—, um salto gigantesco em relação aos US$ 259 milhões gastos pelos compradores apenas um ano antes. Mas, de 2021 a 2023, os preços desses artistas "ultracontemporâneos" —esse é o termo da indústria para eles— caíram quase um terço, de acordo com o banco de dados de preços Artnet.

Os especialistas dizem que a tendência de queda está continuando; no primeiro semestre deste ano, as vendas de obras de jovens artistas caíram 39% em relação ao ano anterior. Os colecionadores superestimaram a força do mercado; temendo que o trabalho logo se tornasse impossível de vender, eles queriam recuperar pelo menos parte de seu dinheiro —independentemente do que os fracassos públicos poderiam significar para o futuro de um artista.

Os artistas raramente se beneficiam de preços altos em leilões, já que a maioria das obras em leilão é vendida por colecionadores que compraram suas obras anteriormente e agora esperam vender com lucro. Os artistas também raramente falam —como fazem aqui— sobre como a especulação do mercado de arte os afeta pessoal e profissionalmente.

Em retrospecto, Ismail, de 34 anos, disse que se arrependeu de vender até cinco obras de uma vez para consultores de arte e colecionadores —que as revendiam rapidamente. "Todo mundo quer um pedaço do bolo", disse ele, lembrando como os compradores faziam ofertas por email ou pelo Instagram. Era difícil distinguir colecionadores genuínos de especuladores, ele disse.

Foto sem data do artista Isshaq Ismail em seu estúdio

Então, por volta de 2021, os preços recordes causaram um frenesi de vendedores, que inundaram o mercado frágil. Galeristas aumentaram os preços dos artistas, mas, em alguns casos, exageraram o alvo, desencorajando potenciais compradores.

Quando um revendedor aumentou os preços de Lewis em 2022, a exposição do artista não vendeu completamente, aumentando a pressão financeira. Foi o começo do fim. "Quando os preços inflamam tanto, todo mundo fica muito animado —e as pessoas tendem a cometer muitos erros", disse Loring Randolph, diretor da coleção de arte de Nancy A. Nasher e David J. Haemisegger em Dallas. Compradores que sentiram que pagaram caro estão "realmente recuando agora".

'O Ano Mais Difícil da Minha Vida'

"Há coisas que eu deveria ter feito com o dinheiro que ganhei para me proteger da situação atual, mas não fiz", disse Lewis. Lembrando uma infância difícil em Baltimore, nos Estados Unidos —"eu já vivi em carros, venho da periferia"— o artista considera, no entanto, o ano passado, quando a bolha especulativa estourou, "o ano mais difícil da minha vida".

A especulação é característica da longa história de frenesis de compra do mercado de arte que mais tarde desmoronam em desilusão. Nos anos 1980, uma economia japonesa forte e um mercado de ações americano em alta impulsionaram as vendas de arte a novas alturas. Quando chegou 1990, o Japão entrou em sua "década perdida" de problemas financeiros e o mercado de ações americano caiu; metade das obras de arte contemporâneas oferecidas em grandes leilões naquele outono não foram vendidas.

Novamente, há dez anos, um grupo de jovens artistas que os críticos chamaram de "formalistas zumbis", por causa de seus estilos abstratos retrô, se tornaram queridinhos do mercado. Três anos depois, muitas de suas pinturas foram vendidas por uma fração de seus preços máximos —isso se foram vendidas.

Mas a espetacular implosão do mercado de artistas jovens de hoje é diferente. Há muito mais dinheiro —e muito mais arte— fluindo pelo sistema do que antes. O preço médio de uma obra de arte contemporânea vendida em leilão em 2021 foi quase US$ 60 mil, 40% mais alto do que durante a loucura do "formalismo zumbi", de acordo com a Artnet.

Georgina Adam, autora de dois livros sobre o mercado de arte contemporânea, disse que as mudanças de gosto anteriormente ditavam a ascensão e a queda dos artistas ao longo de longos períodos de tempo. Hoje, ela diz, os ciclos são mais curtos, e "a razão é a especulação". Mais de um terço dos compradores na Christie's e na Sotheby's em 2021 eram novos clientes, e Adam disse que eles podem ter estado mais interessados em obter lucro do que em se tornar patronos vitalícios.

Por sua vez, as principais casas de leilão dizem que estão dedicadas a fomentar um mercado saudável para artistas emergentes. "Nossa equipe utiliza dados e atividades do mercado primário para oferecer suas obras com estimativas consideradas de forma responsável, com uma visão de longo prazo", disse uma porta-voz da Phillips, Jaime Israni.

Lewis e outros artistas dizem que a experiência de navegar pelo mercado os tornou mais fortes. Ismail, por exemplo, agora vende seu trabalho exclusivamente por meio de galerias.

Em outubro, Lewis terá sua primeira exposição em galeria em dois anos na Mindy Solomon, em Miami. As novas obras —imagens ricamente coloridas que parecem ter sido mexidas em uma máquina de lavar— foram inspiradas neste capítulo recente e tumultuado. "Este é o momento perfeito para comprar Amani Lewis", disse o artista. "Se você não comprar, vai desejar ter feito."

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