Siga a folha

Descrição de chapéu

Senado tem a chance de aperfeiçoar novo Fundeb

Sugestões evitam 'vitória de Pirro', em que ganho atual de recursos para educação pode significar futura instabilidade macroeconômica

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Alexandre Manoel

Economista-chefe da AZ Quest

A Câmara aprovou a Proposta de Emenda a Constituição n° 15, de 2015 (PEC 15/2015) para renovar o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), aumentando a participação do governo federal no financiamento da educação básica. Trata-se de grande conquista socioeconômica, pois amplia o acesso de crianças e jovens à escola e reforça a função distributiva da União.

O economista Carlos Geraldo Langoni já em 1973, de maneira pioneira no Brasil, documentou a importância da educação para a redução da desigualdades sociais e ampliação do crescimento econômico, não sendo ouvido, no entanto, pelos militares. Apenas a redemocratização trouxe o financiamento necessário para a expansão educacional; inicialmente com o Fundef, em 1996, depois com o Fundeb em 2006, e, agora, com o Fundeb renovado e turbinado.

Contudo, os potenciais benefícios do Fundeb renovado trazem também significativos custos sem fonte perene de financiamento, que não podem ser menosprezados, sob pena de o Brasil se desviar permanentemente de sua trajetória de ajuste fiscal. Como casa revisora, há sempre a chance de o Senado revisar a PEC, sem descaracterizar seu conteúdo, ajudando ao país na busca pela sustentabilidade da dívida, indispensável para manutenção dos juros baixos e inflação sob controle. Ficam aqui três sugestões.

Plenário do Senado Federal durante sessão solene (remota) do Congresso Nacional - Roque de Sá/Agência Senado

Primeira, visto que as receitas de óleo e gás são voláteis e não estão imediatamente disponíveis para financiar a ampliação da complementação da União ao Fundeb, sugere-se utilizar parte dos recursos anualmente repassados aos fundos constitucionais de financiamento do Nordeste (FNE), do Norte (FNO) e do Centro-Oeste (FCO) como fonte perene de receitas para o Fundeb, conforme proposta apresentada ano passado pelo Ministério da Economia. Essa utilização dos fundos pode ser complementada pela diminuição de gastos (subsídios) tributários.

Segunda, faz-se necessário suprimir o parágrafo 7° do artigo 211 da aludida PEC, que institui o CAQ (Custo-Aluno-Qualidade), como instrumento de equalização para a garantia do direito à qualidade da educação. Não se trata de negar a importância do CAQ, mas de reconhecer que seu custo (de até R$ 36 bilhões por ano, considerando o relatório final do GT CAQ do MEC, publicado na portaria 459, de 2015) mais que duplica a expansão da complementação da União ao Fundeb, que hoje é de 10% (R$ 16 bilhões) e chegará a 23% (R$ 46 bilhões) do total, em 2026.

Dito de outra forma, em termos nominais, em 2026, quando a complementação da União alcançar 23% , haverá R$ R$ 30 bilhões a mais por ano do governo federal para o Fundeb, enquanto a regulamentação do CAQ poderá ampliar esse acréscimo para até R$ 66 bilhões. Não se trata de questionar o mérito do CAQ, e sim de apontar a necessidade de explicitar uma fonte perene de financiamento para sua regulamentação.

Como não há fonte de financiamento para o CAQ, sua manutenção na PEC significa aumento de carga tributária ou deterioração do resultado primário, em um cenário de dívida pública bruta em torno de 100% do PIB já em 2021, que imporá ajuste fiscal ainda mais austero que o ocorrido nos últimos anos, caso se opte por manter juros baixos e inflação sob controle.

Terceira, deve-se permitir a utilização dos recursos do Fundeb para pagamento de inativos, a fim de ajudar governadores e prefeitos a conduzir as contas públicas.

Essas três sugestões evitam uma “vitória de Pirro”, em que os ganhos presentes com recursos para educação podem significar futura instabilidade macroeconômica.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas