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Produção de veículos faz indústria crescer em junho, mas distante de rombo da pandemia

Setor industrial brasileiro despencou 26,3% no início da Covid-19 no país e ainda não se recuperou

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Rio de Janeiro

Mais uma vez influenciada pela produção de carros e caminhões, a indústria brasileira voltou a esboçar uma retomada no mês de junho, com alta de 8,9% na comparação com maio, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Porém, o setor ainda está longe de retomar os 26,6% perdidos em março e abril, durante o avanço da Covid-19 no Brasil.

A retomada gradual das atividades —principalmente no segmento automobilístico— em meio à pandemia da Covid-19 já havia feito a produção industrial do Brasil iniciar recuperação em maio, com crescimento de 8,2% em relação a abril. Os dois últimos meses juntos, contudo, não conseguiram resgatar todas as perdas na pandemia, segundo o IBGE.

De acordo com o gerente da pesquisa, André Macedo, embora tenha crescido bastante, com expansão de 17,9% nos meses de maio e junho, a produção industrial ainda está longe de eliminar a perda concentrada nos meses de março e de abril. "O saldo negativo desses quatro meses [março a junho] é bastante relevante [-13,5%]”, disse.

Em abril, considerado o fundo do poço da indústria até o momento, o registro negativo havia superado até a queda de 11% de maio de 2018, quando ocorreu a greve dos caminhoneiros. Porém, aquela produção foi reposta no mês seguinte, algo que não aconteceu agora, já que as medidas de isolamento social continuaram em maio.

O acumulado do primeiro semestre de 2020 registra um recuo de 10,9% na produção industrial. Em 12 meses, a queda foi de 5,6%, retração mais intensa desde dezembro de 2016, quando havia caído 6,4%. Em relação a junho de 2019, a indústria diminuiu 9%, oitavo resultado negativo seguido nessa comparação.

O IBGE apontou que o resultado positivo de junho foi influência do setor de veículos automotores, reboques e carrocerias, que avançou 70% em junho, puxado principalmente pela produção de carros e caminhões.

“Esse segmento acumulou expansão de 495,2% em dois meses consecutivos de crescimento na produção", disse o gerente da pesquisa. Ele lembrou, porém, que o ramo está 53,7% abaixo do patamar de fevereiro, antes da pandemia.

O setor de outros equipamentos de transporte, que engloba as motocicletas, também se destacou em junho e cresceu 141,9%, após expansão positiva também no mês de maio (57%). Contudo, segundo André Macedo, esses avanços estão longe de superar as perdas observadas em março e abril.

A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) apontou que indústria automobilística viu sua produção cair pela metade no primeiro semestre de 2020 e estima uma retomada lenta, com previsão de duração até 2025.

De acordo com o presidente da instituição, Luiz Carlos Moraes, a situação geral do setor é de uma crise maior que as enfrentadas nas décadas de 80 e 90 e na recessão econômica de 2015/16. "Ela veio num momento em que as empresas projetavam um crescimento anual de quase 10%", apontou.

O setor de automóveis projeta que o ano termine com uma produção de 1,630 milhão de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, volume 45% inferior ao que ocorreu em 2019. A Anfavea também projeta exportação de 200 mil unidades, uma queda de 53%, e calcula vendas de 1,675 milhão de veículos, redução de 40%. "Um recuo dessa magnitude no ano terá impactos duradouros", disse Moraes.

No primeiro semestre, a Anfavea informou ainda que registrou o licenciamento de 808,8 mil autoveículos, retração de 38,2% na comparação com o mesmo período do ano passado. Já as exportações totalizaram 119,5 mil, queda de 46,2%.

"Nossa estimativa para 2020 é realista com base no prologamento da pandemia no Brasil e na deterioração da atividade econômica e da renda dos consumidores", analisou Luiz Carlos Moraes.

Os setores de Alimentos e Coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, por outro lado, caíram no mês de junho.

O primeiro vinha de resultados positivos, enquanto o restante da indústria estava em queda, além de queda no açúcar, o que contribuiu para o resultado. Já o segundo mostrou um recuo natural depois de expansão de 16,3% em maio, segundo André Macedo.

Entre as grandes categorias econômicas, todos os ramos tiveram registro positivo.

Bens de consumo duráveis (82,2%) e bens de capital (13,1%) foram para o segundo mês seguido de expansão na produção, com avanços de 287,4% e 47,3% desde maio. Mesmo assim, ainda bem abaixo de antes da pandemia (-40,1% e -27,1%, respectivamente).

Renata de Mello Franco, economista do FGV-Ibre, apontou que o crescimento positivo apontado pelo IBGE no setor de veículos no mês de junho é reflexo da reabertura das fábricas, que ficaram fechadas nos primeiros meses de pandemia. "Não podemos falar que é um momento de recuperação da indústria", analisou.

Ela lembrou que a produção industrial nacional já vinha sem crescimento no ano passado, com o setor automobilístico impactado pela queda nas exportações para a Argentina e o mercado doméstico sustentando a indústria. Por isso, o momento já não era bom antes da pandemia. E uma segunda onda de contágio da Covid-19 pode piorar a situação.

"O mercado de trabalho também vai impactar bastante, com a indústria dependendo de consumo interno e do consumo das famílias. O resultado pode ser negativo se o mercado não reagir e a renda continuar deprimida", apontou a economista.

Otto Nogami, economista do Insper, também teme uma segunda onda de contaminação pela Covid-19. Ele acha difícil que o Brasil recupere o patamar pré-crise até o fim do ano e apontou que o início da pandemia, que provocou medidas de isolamento com o fechamento de bares, restaurante e comércio, deixou o país em uma situação de recessão profunda.

"Estamos em um patamar semelhante a 2009, quando houve retração da atividade econômica pela crise nos EUA. Mas dessa vez estamos sem condições de estímulo nenhum por parte do governo, dado o comprometimento das contas", analisou, relembrando que, há 11 anos, o país criou isenções tributárias e desonerou folhas de pagamentos.

Gilberto Braga, economista e professor do Ibmec, foi outro especialista que projetou uma retomada atrelada ao ritmo de controle da pandemia e da capacidade de reação da produção industrial. Para ele, o segundo semestre será de recuperação, mas sem atingir níveis suficientes para recuperar o patamar de 2019. "Vamos fechar próximos de zero".

O professor avalia que a recuperação será baseada no aquecimento da produção agrícola e segmentos industriais voltados ao agronegócio, tem expectativa de retomada nos investimentos em petróleo e gás e vê com bons olhos a reação do setor imobiliário por conta de queda na taxa de juros.

O primeiro óbito conhecido de Covid-19 no país ocorreu no dia 17 de março. A partir daí, com o avanço da doença, o país promoveu o distanciamento social como forma de combater a pandemia.

As medidas restritivas causaram efeitos econômicos e intensificaram o aumento do desemprego no Brasil, que chegou a 12,9% no trimestre encerrado em maio, e contribuiu para que 7,8 milhões de posto de trabalho fossem perdidos. A população ocupada teve uma queda recorde de 8,3% na comparação com o trimestre anterior.

O índice de desocupação de junho sofreu os efeitos do distanciamento social, já que pela primeira vez a pesquisa tem sido feita por telefone. Assim, a Pnad Contínua atrasou a divulgação, que ficou para o fim desta semana.

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