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Descrição de chapéu mercado de trabalho

Desemprego entre trabalhadores formais chama a atenção de especialistas

Dados de IBGE e Caged trazem resultados controversos no segmento com carteira assinada

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Rio de Janeiro

Depois de atingir principalmente trabalhadores informais nos primeiros meses da pandemia, dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a população desocupada vem crescendo agora principalmente entre os trabalhadores com carteira assinada.

O resultado divulgado nesta sexta-feira (29) se contrapõe ao balanço apresentado no dia anterior pelo governo a partir do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que aponta aumento de contrações e crescentes saldos positivos nos meses de julho, agosto e setembro.

De acordo com a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) do IBGE, o número de empregados com carteira do trabalho chegou ao menos patamar desde o início da série em 2012. De junho a agosto, ficou em 29,1 milhões. Em comparação com o trimestre encerrado em maio, houve uma retração de 2 milhões de vagas. Na comparação com igual período do ano passado, a queda é o dobro: 4 milhões.

Segundo a analista do IBGE Adriana Beringuy, nesse trimestre encerrado em agosto, a parcela informal do mercado de trabalho respondeu por 29% do total de vagas fechadas no país. No trimestre móvel anterior, terminado em maio, esse número correspondia a 74%.

"Isso tem a ver com o fato de que, no auge da pandemia, pelo isolamento social, essa população informal foi a mais afetada", afirma Beringuy.

Agora os dados do IBGE mostram que a perda de ocupação entre os informais perdeu força. Já entre os trabalhadores com carteira assinada, a perda o fechamento de vagas mantém o ritmo.

"O trabalhador informal foi o primeiro a ser impactado e é o primeiro a retomar, ainda que com uma perda muito grande na oferta de ocupação”, disse Beringuy.

Para Rodolpho Tobler, do FGV Ibre, o baque da pandemia na economia e seus efeitos sobre o mercado de trabalho vem em fases.

"Primeiro, o informal foi vetado pela necessidade de isolamento e, em um segundo momento, ocorre a redução do mercado formal, com as empresas equilibrando as contas e vendo o que podem fazer para sobreviver", disse o economista.

Os dados do IBGE contrastam com o que vem sendo divulgado pelo Caged, pesquisa que retrata o mercado de trabalho formal. Os dados mais recentes, divulgados nesta quinta (29), apontam a criação de 313.564 vagas com carteira assinada no país em setembro. Em junho, a pesquisa registrou perda de 24 mil. Em julho, geração de 140 mil empregos. E em agosto, saldo positivo de 244 mil.

Para especialistas ouvidos pela Folha, essa discrepância se deve às diferenças nas metodologias adotadas por cada pesquisa. A Pnad, do IBGE, tem caráter amostral, enquanto o Caged é construído a partir de informações enviadas pelas empresas ao Ministério da Economia.

A pandemia também pesa, criando distorções que podem comprometer os dois levantamentos, mas de maneiras diferentes.

"Na Pnad mudou a metodologia e agora é por telefone quando pessoalmente é melhor", diz Tobler, do FGV Ibre. "No caso do Caged existe uma preocupação em relação à quantidade de empresas que podem não estar atualizando suas informações, seja subnotificarem o desligamento ou mesmo por terem até fechado."

O pesquisador Bruno Ottoni, da consultoria IDados, diz que a falta de sintonia entre formais da Pnad e e do Caged chamam a atenção.

"A perda no emprego formal está num ritmo estranho quando comparada com os dados do Caged, que mostram crescimento na ponta", disse Ottoni. "Os informais não, já perderam muito e chega uma hora que perdeu o que tinha para perder", disse.

Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos a desocupação vai continuar avançando.

"Você teve um crescimento orgânico e disseminado entre setores e regiões, isso dá um tom positivo para estatística, mas a minha perspectiva é que desemprego continue avançando mesmo com a breve recuperação econômica, pois com o arrefecimento da pandemia e eventual vacina vamos ver as pessoas buscarem trabalho, informal ou formal", analisou.

Daniel Duque, também do FGV Ibre, ressalta que a Pnad Contínua é uma pesquisa de trimestres móveis, então ela carrega um pouco do passado. "Quando a gente olha os dados mensalizados, a Pnad Covid mostrou geração de vagas com carteira assinada em agosto, assim como o Caged", diz o pesquisador, citando dados de outra pesquisa do IBGE, criada especificamente para mensurar os efeitos da pandemia no mercado de trabalho.

Na Pnad Covid de setembro, o IBGE já mostrou um aumento na população ocupada com carteira assinada, indo de 31 milhões em junho para 31,4 milhões. Porém, os dados não são considerados como oficiais, sendo divulgados apenas para calcular os efeitos da pandemia, e não podem ser comparados com a Pnad Contínua.

Na Pnad Contínua de agosto, que traz os indicadores oficiais do desemprego, a divulgação desta sexta apontou que os empregados sem carteira assinada no setor privado somam 8,8 milhões, redução de 5% (463 mil pessoas) no trimestre e 25,8% (3 milhões) no ano.

Os trabalhadores por conta própria alcançaram 21,5 milhões, queda de 4% (894 mil pessoas) desde maio e 11,4% (2,8 milhões de pessoas) frente a agosto de 2019.

Já os trabalhadores domésticos atingiram o menor número da série histórica, com 4,6 milhões de pessoas, retração de 9,4% (473 mil pessoas) no trimestre e 27,5% (1,7 milhão de pessoas) no ano.

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