Consumidores priorizam o conforto em nova onda de 'sandálias feias'
'Tamanco marshmallow' se soma a slides, papetes, babuches e birkens em categoria de calçados em que visual tem peso menor
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Depois de slides, papetes, babuches e birkens, pés anônimos e famosos começam a popularizar um novo modelo de calçado que, se não pode ser imediatamente classificado como feio, talvez ocupe a zona do polêmico.
Há quem chame de sandália anatômica ou ortopédica relaxante, de flexy e até de tamanco marshmallow. A publicação norte-americana InStyle deu o nome de “slide confortável de piscina” e a classificou como a nova “sandália feia dominando Hollywood”.
O formato, com a tira grossa sobre o peito do pé, lembra os slides, popularizados no Brasil pelos chinelos Rider.
O solado, porém, é alto, como uma flatform, as plataformas baixas, e é macio, compatível com o apelo por conforto para quem vem passando mais tempo em casa.
A tatuadora Brisa Issa, 37, diz ter conhecido o chinelo via algoritmos –ou seja, conteúdo patrocinado entregue a seu perfil de consumo em uma rede social. “Sempre me pareceu muito confortável, porém tinha medo de comprar e ser golpe”, conta.
Em casa, sua preferência era o slide. Os modelos tipo birkenstock não a agradavam, além de serem caros, conta a tatuadora. Já as babuches tipo Crocs sempre estiveram fora de questão. “Tenho pavor e acho que o possível conforto não vale a feiúra.”
Neste ano, porém, passado o período mais restrito para o funcionamento dos negócios, Brisa voltou a pensar na tal sandália com aparência confortável.
“O que me fez comprar foi a volta ao trabalho. Adotamos o protocolo de não entrar com sapato da rua no estúdio”, diz. Desde então, ela vem usando o calçado no trabalho. Saem os tênis, entram os chinelos com meias.
O que garante a maciez da sandália anatômica é a injeção de ar. Feita em EVA (um tipo de espuma vinílica), ela é produzida em peça única, sem costura ou colagens, o que garante a adaptação ao pé do consumidor, explica Alisson da Silva Maurílio, 26, sócio da Pé de Algodão.
A loja, que tem operação 100% online, foi montada há pouco menos de sete meses, voltada exclusivamente à venda de calçados confortáveis.
A escolha do que seria vendido, diz o empresário, veio de feeling e pesquisa de mercado. “Vimos que era um produto muito popular na China, uma espécie de Crocs tropicalizado, que traz conforto acima de tudo.”
Os períodos de fechamento das empresas e o tempo maior passado em casa, em respeito às medidas de controle da pandemia de Covid-19 também tiveram papel na escolha dos produtos.
No pool de sandálias, há modelos similares às babuches, da Crocs, e ao Yeezy, slide da Adidas também feito em EVA injetado, e que integra a linha assinada pelo rapper Kanye West.
A oferta de produtos da Pé de Algodão vem aumentando e, atualmente, a loja tem cerca de 30 modelos disponíveis. Com a chegada do período frio em parte do país, mais tipos de pantufas começam a aparecer entre as opções. O produto principal, porém, ainda é a sandália anatômica.
Até marcas tradicionais estão com modelos semelhantes. A Picadilly batizou o seu de tamanco marshmallow, em alusão ao doce feito de açúcar e clara de ovo, de textura macia e espumosa.
Paulo Barth, diretor comercial da Grendene, dona de marcas como Rider, Melissa, Zaxy e Grendha, diz que, a partir do fim do primeiro semestre de 2020, houve uma mudança significativa nas categorias de produtos mais vendidos.
O movimento ficou mais forte a partir do segundo semestre, quando slides, papetes e chinelos passaram a registrar resultados positivos de vendas, ao mesmo tempo que o mercado calçadista, no geral, registrava queda de 20%.
Na avaliação de Barth, a pandemia potencializou o interesse de consumidores por produtos mais confortáveis e versáteis, características que, para ele, slides, papetes, chinelos e babuches têm.
A participação desses produtos nos resultados da Grendene, porém, já vinham crescendo. Até 2015, era de 10%, e passou a 18% em 2019. Ao fim de 2020, eles respondiam por 23%.
Alceu Albuquerque, diretor de relações com investidores da Grendene, aposta que o interesse por calçados mais confortáveis continuará uma tendência.
“O home office veio para ficar. Seja ele integral ou híbrido, ele vai continuar. A tendência do casual vai prevalecer”, afirma.
Com o apelo por conforto em alta, a Grendene tem a vantagem de o Rider ser uma espécie de referência para o slide no Brasil –quem nunca ouviu ou se referiu ao modelo como um “chinelo tipo Rider”?
Em 2016, quando o modelo fez 30 anos, a marca relançou o chinelo de tira larga e deu início a uma estratégia de releituras e diversificação. Há pouco mais de três anos, a Rider lançou também papetes e passou a atuar em nichos, com coleções assinadas e limitadas.
As vendas passaram a ser feitas em sneaker shops, lojas especializadas em produtos exclusivos e de tiragem reduzida.
A mais recente surpreendeu até os executivos da Grendene. Assinada pelo designer Pedro Andrade, da Piet, nome conhecido do streeetwear, o estoque da papete R Next acabou em apenas três dias. Ela custava R$ 349.
“Foi um resultado muito acima do esperado, até pelo valor, acima do nosso tíquete médio”, diz Paulo Barth. A Rider chegou a repor os estoques, mas a R Next com Pedro Andrade deve agora virar produto de colecionador, uma vez que a empresa não manterá a produção.
A estratégia, segundo o diretor comercial da Grendene, é manter o lançamento de produtos de circulação restrita, assinados e com história. Toda a linha R Next tem 30% da sola feita de resíduo da produção da Grendene, e os cabedais, produzidos a partir da reciclagem de garrafas pets.
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