Brasil está menos desigual porque triplicou Bolsa Família, não porque melhorou
Assim como Argentina em crise, país já gasta mais de 1,5% do PIB com programa
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A queda da desigualdade de renda no Brasil em 2022 parece ótima notícia. Mas ela só ocorreu porque os brasileiros estão cada vez mais dependentes de programas sociais em uma economia que cresce pouco e entrega empregos de baixa qualidade.
Por trás da menor desigualdade da série está o fato de o país ter triplicado o gasto com o Bolsa Família (antigo Auxilio Brasil) em relação ao que despendia antes da pandemia, além das "bondades" no ano eleitoral. Como proporção do PIB, o programa saltou de cerca de 0,4% para mais de 1,5%.
Cerca de R$ 175 bilhões serão gastos neste ano, atendendo a quase 21 milhões de famílias, metade no Nordeste, abrandando a desigualdade também em 2023.
Não é à toa que o rendimento domiciliar per capita da metade da população mais pobre subiu 18% no ano passado, para R$ 537 ao mês —e que a queda da desigualdade tenha sido mais proeminente nos estados nordestinos.
Na conquista por eleitores em 2022, tanto Lula (PT) quanto Bolsonaro (PL) prometerem manter o valor de R$ 600 aos mais pobres pagos na pandemia.
Lula foi além, e acrescentou um adicional de R$ 150 por criança de até seis anos, e mais R$ 50 por dependente entre 7 e 18 anos ou gestante. Com isso, o valor médio aos beneficiários atingiu R$ 714.
Lula foi eleito com essa plataforma na área social, assim como Bolsonaro prometera algo parecido. Politicamente, é o que grande parte do país, majoritariamente pobre, queria. Há também expectativa de que o efeito multiplicador do programa ajude a sustentar o PIB (que tem vindo mais forte do que o esperado).
Mas não deixa de ser preocupante o fato de o Brasil ter triplicado esse gasto social para proporcionar uma vida minimamente digna à população. Mesmo assim, os 5% mais pobres ainda vivem com menos de R$ 90 por mês.
Em crise há muitos anos, a vizinha Argentina também foi aumentando, com o passar do tempo, gastos desse tipo, que hoje equivalem também a cerca de 1,5% do PIB. Em comum, os vizinhos mantêm o PIB per capita e níveis de produtividade estagnados há muitos anos.
Ambos países mostram que, sem crescimento alavancado por reformas pró mercado, usar dinheiro público para combater as mazelas sociais funciona por um tempo, mas não se sustenta. Pois é dos impostos gerados pela atividade, sobretudo privada, que vem o dinheiro para essas ações.
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