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'Ah, pode ser mulher?': executiva muda mentalidade de recrutamento em multinacional

Diana Sabino, que comanda setor de vendas em reparo e manutenção de veículos da Henkel, fez número de mulheres na equipe passar de zero a 14, num total de 18 funcionários

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São Paulo

Diana Sabino, 39, se acostumou com a cena. Cada vez que surgia uma vaga na equipe, consultava seus contatos no mercado em busca de indicações. As respostas eram sempre com nomes masculinos. Quando reclamava, a réplica era a mesma:

"Ah, pode ser mulher?"

No comando da área de vendas da multinacional Henkel no setor de reparo e manutenção de automóveis, ela tem hoje em dia 14 mulheres em um time de 18 pessoas. Quando chegou à empresa, no início de 2020, não havia nenhuma no ramo que, reconhece, ainda tem predominância masculina.

Com 48 mil funcionários ao redor do mundo, sendo 1.000 no Brasil, a Henkel teve faturamento global de 21,5 bilhões de euros em 2023 (R$ 133 bilhões) em 76 países. Faz parte da política corporativa da multinacional que produz de produtos químicos a revestimentos industriais ter mulheres ocupando 50% dos cargos de liderança até 2025. O desempenho de Diana foi elogiado pelo perfil global da empresa no Linkedin.

Nem é isso que mais lhe dá orgulho. O que ela mais gosta de citar são as perdas —de funcionárias que passaram pela sua equipe de vendas e são chamadas por outras filiais internacionais da companhia, principalmente nos Estados Unidos. Diana vê isso como uma vitória pessoal.

A primeira veio bem antes disso. Aos 14 anos, pediu à mãe para ter sua própria carteira de trabalho, porque a via, aos 37, sustentá-la e aos dois irmãos. Arranjou emprego no ramo automotivo, na fabricação de cintos de segurança. Em concessionária de veículos, percebeu algo que, para ela, foi surpreendente: os vendedores não escutavam o que o cliente tinha a dizer.

Diana Sabino, head de vendas em reparo e manutenção na Henkel

"Eu sempre fui vendedora e, quando você gosta de gente, de conversar, fica mais fácil. Você precisa saber o que o cliente pensa, o que traz para você. Escutar pode ser difícil porque a gente tem a tendência de achar que a nossa necessidade é a mesma de todos. E não é", afirma.

Dos 18 anos que ficou no setor, sendo 15 deles na Toyota, conviveu com a rotina das reuniões em que era a única mulher. Havia os olhares enviesados quando fazia perguntas.

"Não é assim [como ela sugeria], porque esta é uma venda técnica", cansou de ouvir.

"Eu via os homens fazendo as coisas sempre do mesmo jeito e percebia que havia outra forma", diz.

Dentro da estrutura da Henkel, Diana lidera uma das três divisões industriais, chamada de ACM, direcionada ao setor de mineração e veículos. Ela comanda esta última, se reportando ao presidente da companhia no Brasil, José Antonio de Castro Filho.

Embora em outros países tenha produtos de limpeza, a operação no país é de adesivos, vedantes e revestimentos funcionais para diferentes setores industriais e do agronegócio, como fabricação e manutenção de aeronaves, automotivos e sistemas eletrônicos, por exemplo.

Diana usa a palavra "diferente" muitas vezes. Emprega-a para dizer como mudou o perfil da equipe de vendas em reparo e manutenção na Henkel. Em como cativar o cliente e mantê-lo fiel. Na maneira de buscar novos mercados. Todas as situações são uma variação da resposta que deu na primeira entrevista de emprego quando lhe perguntaram o que entendia de carro: "Garanto que o que você me disser eu vou aprender."

Formada em marketing com pós em psicologia organizacional e em gestão de concessionária, começou a colocar suas ideias em prática a partir do momento em que assumiu o cargo que ocupa hoje.

Pede que sempre sejam chamadas mulheres para processos seletivos, não apenas homens, que ocupavam 100% dos cargos antes. Solicitou que os textos anunciando oportunidades fossem menos específicos nas qualificações desejadas e ressaltassem também os benefícios oferecidos.

Trocou imagens que divulgavam empregos para incluir mulheres ao lado de homens, como forma de estimular a participação de diferentes gêneros. E, principalmente, começou a desafiar o senso estabelecido.

"Reparei que os processos seletivos só tinham homens, em parte pela maneira como a vaga era descrita. Ninguém contestava e pensava de maneira distinta. Comecei a pedir a busca por perfis diferentes. Se você não busca gente com visão diferente, vai ter sempre as mesmas pessoas."

A resposta para o "pode ser mulher?" deixou de ser "pode" e passou a ser "deve". Por isso, a mudança da Henkel de preencher 50% das vagas de liderança com mulheres caiu do céu.

"Mulher olha o que o homem não vê. Se o homem vai comprar um carro, repara no banco de couro, no motor… A mulher repara no conforto, no acabamento, no detalhe, na segurança. É outra coisa. Não substitui. Complementa", define.

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