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Eleição em área mais violenta do RJ tem candidatos milionários e sombra da milícia

Empresário faz carreata com BMW em Nova Iguaçu, cidade em que um postulante à Câmara foi preso após disparar contra rivais

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Rio de Janeiro

Área mais pobre e violenta do Rio de Janeiro, a Baixada Fluminense assiste à campanha eleitoral deste ano com disputa entre fortes lideranças locais com patrimônio milionário, em meio a cenas de brigas, tiros, envolvimento de milicianos, estrutura de "fake news" e carreatas com carros importados.

A região, com 22% dos eleitores do Rio de Janeiro, é alvo de especial interesse do PT e do PL em razão da ascensão política das lideranças locais, com forte influência no cenário estadual. Há dois anos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) venceu na região com 60% dos votos válidos, acima da média fluminense.

Carreata de campanha de Cléber Jacaré (União), em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense - Eduardo Anizelli/Folhapress

A disputa mais conflituosa ocorre em Belford Roxo, onde dois vereadores tiveram a candidatura à reeleição indeferida em razão de acusações de envolvimento com milícia.

A cidade viu o rompimento da aliança entre as duas maiores lideranças locais: o prefeito Waguinho (Republicanos) e o deputado estadual Márcio Canella (União Brasil). O primeiro é o principal aliado do presidente Lula (PT) na Baixada, e o segundo, aliado próximo do governador Cláudio Castro (PL).

A cisão tornou a disputa uma barril de pólvora, no qual cabos eleitorais já entraram em conflito nas ruas da cidade com uso de spray de pimenta.

Os dois fazem acusações mútuas de envolvimento com a milícia. No passado, ambos fizeram campanha com o ex-PM Juracy Alves Prudêncio, o Jura, condenado e preso sob acusação de chefiar uma milícia na Baixada Fluminense.

Imagens da campanha de Canella, que tem o apoio do PL, mostram que ele cumprimentou um líder de milícia numa agenda. O deputado também tem feito caminhadas ao lado dos vereadores Eduardo Araújo (PL) e Fabinho Varandão (MDB), acusados de envolvimento com organizações criminosas.

Procurado, o deputado não retornou aos contatos da reportagem.

Waguinho, que lançou o sobrinho Matheus na disputa à prefeitura, também tem candidato alvo de acusações. Dinho Resenha (Republicanos), que busca uma vaga na Câmara Municipal, foi preso no fim de agosto sob acusação de se aliar a criminosos para obter votos este ano.

À esq., o presidente Lula com o prefeito de Belford Roxo, Waguinho (Republicanos); à dir., o ex-presidente Jair Bolsonaro com o secretário Washington Reis (MDB) - Eduardo Anizelli/Folhapress

Ele também não retornou às mensagens da Folha.

Na vizinha Nova Iguaçu, o conflito gerou prisão. O candidato a vereador Marcelo Lajes (União Brasil) foi detido em flagrante no último dia 7 após fazer disparos durante a carreta de um adversário. Foi autuado e pagou fiança de R$ 1.500 para ser solto.

A campanha na cidade tem sido marcada pelas carreatas do empresário Clébio Jacaré (União Brasil), que disputa a prefeitura. O candidato tem inundado bairros simples da cidade com veículos envelopados de verde, entre eles modelos importados da BMW e Dodge Ram, todos avaliados em mais de R$ 300 mil.

Com um patrimônio declarado de R$ 49,6 milhões, Clébio afirma que os carros importados não são uma ostentação, mas uma forma de superar a força da máquina municipal. O prefeito Rogério Lisboa (PP) lançou a candidatura de Dudu Reina (PP), apoiado pelo deputado federal Dr. Luizinho, líder do PP na Câmara e correndo por fora na disputa pelo comando da casa legislativa federal.

"Aqui tem um dito popular que contra a máquina é difícil, ninguém ganha. Ainda mais eu que não tenho mandato. Então, foi uma estratégia que eu usei para marcar a presença, e os carros pesados, [para dar] a pressão", disse Clébio.

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O empresário Clébio Jacaré (União), candidato à Prefeitura de Nova Iguaçu (RJ), faz carreata com BMWs e Dodge Ram - Divulgação/Comunicação Clebio Jacaré

O empresário é acusado de liderar uma organização criminosa que comprou, segundo o Ministério Público, a administração da Prefeitura de Itatiaia, no sul fluminense. De acordo com a investigação, o grupo do empresário assumiu "a condução de fato do município, focando no desvio de recursos públicos, inclusive a partir da nomeação de funcionários fantasmas e fraudes em contratos e licitações".

Clébio chegou a ser preso preventivamente em setembro de 2022, quando concorria a uma vaga na Câmara dos Deputados. Foi posteriormente solto, e a ação penal ainda aguarda sentença.

O juiz Gustavo Quintanilha indeferiu o registro de candidatura dele sob o argumento de que "a Justiça Eleitoral não pode simplesmente fechar os olhos a situações de ilicitude e imoralidade evidentes".

Ele nega as acusações e recorreu ao Tribunal Regional Eleitoral contra o indeferimento.

"Na eleição de 2022, eu conheci três vereadores da cidade que me ofereceram apoio para deputado federal. Nunca indiquei ninguém, nunca tive nomeação em lugar nenhum", disse ele.

Outro candidato com patrimônio equivalente é Netinho Reis (MDB), com R$ 46,4 milhões em bens declarados. Ele sempre foi o braço empresarial da família liderada pelo ex-deputado Washington Reis (MDB), mas foi escalado para disputar o município. Enfrenta o ex-prefeito José Camilo Zito (PV), resgatado pelo PT para tentar fortalecer aliados na cidade dominada por bolsonaristas.

O ambiente violento lida também com artimanhas antigas de campanha. A Polícia Federal prendeu na semana passada quatro pessoas sob suspeita de espalhar informações falsas em dez municípios do estado, metade delas na Baixada Fluminense.

Segundo a PF, o grupo contratava pessoas para se infiltrar "em locais com aglomerações de pessoas como pontos de ônibus, padarias, filas de bancos, bares e mercados, difundindo aos eleitores falsas afirmações sobre um determinado postulante ao cargo de prefeito".

"Apurou-se que os atores contratados, propagadores das informações falsas, recebiam R$ 2.000 por mês para exercer tal função, e que os coordenadores da empreitada criminosa recebiam dos líderes da organização a quantia mensal de R$ 5.000, além de serem contratados pela própria prefeitura", diz a PF.

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