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Potencial de crescimento do Brasil sem gerar inflação está perto de 2%, dizem economistas

PIB do segundo trimestre foi maior do que o esperado pelos analistas; mercado agora projeta mais juros e inflação para 2024

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São Paulo

A capacidade de crescimento do Brasil empregando os recursos disponíveis sem gerar uma pressão sobre a inflação, o chamado PIB (Produto Interno Bruto) potencial, está próxima de 2%, segundo economistas consultados pela Folha.

Na última semana, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que o país cresceu 1,4% no segundo trimestre.

Após o resultado além das expectativas, os analistas consultados no último boletim Focus, do Banco Central, também elevaram previsões para o ano e agora esperam alta de 2,68%.

Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, as medidas macroeconômicas da sua gestão elevaram o potencial de crescimento do país.

"Pouquíssimo tempo atrás, 9 entre 10 economistas diziam que o nosso PIB potencial era de 1,5% [ao ano]. Estamos crescendo 3%, não podemos nos conformar em crescer menos do que a média mundial", disse ele, no fim de agosto.

"Hoje, vejo o potencial de crescimento em 1,8%", avalia Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Ela ressalta que a inflação pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor - Amplo) tem ficado próxima ao teto da meta para este ano (4,5%). Agosto registrou deflação de 0,02%, a primeira desde junho de 2023. Em 12 meses, a inflação desacelerou para 4,24%, após 4,5% em julho, segundo o IBGE.

Para Matos, o aumento do potencial de crescimento ainda depende de um esforço para atacar problemas crônicos do país, como a questão tributária.

"A produtividade média é baixa, a taxa de investimento é de 17%, ainda considerada pequena, falta mão de obra qualificada e mais investimentos em pesquisa e desenvolvimento."

"Acho impossível que o potencial esteja em 3%", diz o economista Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais (do FGV Ibre) e coautor do Monitor do PIB-FGV.

Segundo seus cálculos, no primeiro trimestre de 2024, a margem que a atividade tinha para crescer até atingir sua capacidade máxima estava em 1,7%. "A partir de 2014, ficou estagnada e voltou a crescer há cerca de três trimestres."

"Nos dois primeiros mandatos de Lula, os economistas diziam que o PIB potencial era de 3,5%; no período de crise, de 2015 a 2020, era de 1,5%; no pós-pandemia, de 2% a 2,5%. É sempre uma discussão sobre os últimos anos, olham o retrovisor", diz o professor da UnB (Universidade de Brasília) José Luis Oreiro.

Ele avalia que a economia pode crescer entre 2,5% e 3% sem gerar inflação, mas isso depende de investimentos públicos e privados. "A meta de inflação atual também pode estar errada, mas não importa, a decisão de aumentar juros já foi tomada. No fim, só estão buscando uma justificativa."

Os analistas do Focus projetam uma alta na Selic (os juros básicos) neste mês, com a taxa encerrando o ano a 11,25%. A previsão é de que o Copom (Comitê de Política Monetária) elevará a Selic em 0,25 ponto percentual na reunião de 17 e 18 de setembro. Para a inflação, a projeção do Focus é de 4,30% em 2024.

Parte dos economistas também discute se o mercado de trabalho estaria sobreaquecido ou se o desemprego ainda tem espaço para cair abaixo dos 6,8% registrados no trimestre encerrado em julho.

Esse foi o menor nível para esse período desde o início da série histórica da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua em 2012, também segundo o IBGE.

Oreiro lembra que a pandemia de Covid-19 reduziu a taxa de participação da força de trabalho, que ainda não se recuperou totalmente.

Essa taxa mede a proporção da população em idade ativa que está trabalhando ou buscando trabalho. Ela terminou o primeiro semestre em cerca de 62%, dois pontos percentuais abaixo do pico no segundo semestre de 2019.

"Não podemos falar em sobreaquecimento, o mercado de trabalho informal não gera pressão inflacionária significativa quando está sendo absorvido pelo mercado formal", diz o economista da UnB.

Hélio Zylberstajn, professor sênior da faculdade de economia da USP e coordenador do Salariômetro (Fipe), concorda que a taxa de participação indica que o mercado de trabalho não está sobreaquecido.

"O momento atual, com aumento dos salários, pode levar a um aumento de preços, mas as empresas podem adotar medidas para aumentar a produtividade e mitigar esse efeito", complementa.

"A expectativa é de um desemprego próximo aos 6% no fim do ano. O mercado tem conseguido absorver quem estava fora há mais tempo. Hoje, tudo indica que vamos ter novas quedas", diz o economista da LCA Bruno Imaizumi.

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