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Livro revisita histórias divertidas de ex-correspondente em Londres

'Do Palácio ao Bordel' narra encontros com prostituta e com o príncipe Charles

O príncipe Charles e a princesa Diana, em 1992 - AFP

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Do Palácio ao Bordel

Avaliação: Bom
  • Preço: R$ 44 (240 págs.)
  • Autor: Antonio Carlos Seidl
  • Editora: Grua Livros

Correspondente da Folha em Londres, de 1985 a 1992, o jornalista Antonio Carlos Seidl lançou há pouco “Do Palácio ao Bordel”, livro que reúne algumas de suas peripécias no reino de Elizabeth 2º.

Não se trata de uma coletânea de textos escritos à época, tampouco de rememoração de fatos políticos e econômicos considerados importantes do período. A fórmula encontrada é engenhosa. O autor selecionou 22 pautas que cumpriu ao longo de sua permanência na Inglaterra e as revisitou, narrando as circunstâncias em que foram imaginadas, realizadas e publicadas.

Na maior parte, ficaram de lado as “hardnews” —notícias quentes— e entraram em cena temas mais amenos e saborosos do universo jornalístico.

Já na abertura temos a história de uma entrevista com Lindi St. Clair, prostituta que decidiu candidatar-se à Câmara dos Comuns em 1991. Seidl, como faz em diversos momentos, usa o estratagema de transportar o leitor ao passado e recria a atmosfera que o envolvia nos diversos episódios. No caso, encontrava-se na sala de seu pequeno apartamento em Chiswick, numa gélida manhã londrina. Entre goles de chá Earl Grey, folheava jornais e revistas em busca de um assunto que pudesse render uma pauta.

Num dos periódicos que vasculhava, deparou-se com o destaque dado a uma personagem “dona de bordel e candidata”. Não precisava mais procurar. Lindi o recebeu num espaço minúsculo de seu bordel, improvisado para servir de escritório eleitoral.

A candidatura tinha por objetivo defender a legalização de bordéis e combater a hipocrisia e os atos de violência que acompanham a atividade. Infelizmente, não obteve sucesso em sua tentativa de ser escolhida para a Câmara, instituição na qual dizia ter “mais de 200 clientes”.

O correspondente não entrevistou apenas figuras, como Lindi, excêntricas e desconhecidas do leitor brasileiro. Conversou também com um leque de gente famosa, como Bill Wyman, baixista dos tempos heróicos dos Rolling Stones, e prestigiosa, caso de Sir Isaiah Berlin, referência do pensamento liberal do século 20.

“Você é o primeiro brasileiro que conheço”, disse-lhe Berlin, então decano de Oxford, ao recebê-lo à porta de seu apartamento. Já tinha 82 anos naquele janeiro de 1992.

Uma das dificuldades, que ocasionalmente se transforma em vantagem, dos correspondentes brasileiros no exterior, a depender do país, é justamente o fato de serem brasileiros. Na Inglaterra, o Brasil não era exatamente conhecido, à exceção do futebol e de uma ou outra notícia nem sempre elogiosa.

“Vocês leem jornal no Brasil?”, perguntou-lhe um ex-reitor da Universidade de Cambridge numa resposta a um pedido de entrevista. “Estava acostumado a ser visto com desconfiança”, diz Seidl, que teve vontade de responder ao ex-reitor que sim, leem-se jornais no Brasil, “entre uma e outra viagem de cipó, de árvore em árvore, para aproveitar a floresta, antes que a ganância do capitalismo selvagem transforme nosso verde num vasto deserto”.

Além de empresários, scholars, jogadores de futebol e estrelas culturais, o jornalista conseguiu em Londres o que poucos conseguem: trocar palavras pessoalmente com o príncipe Charles, primeiro na linha sucessória do trono britânico.

A “entrevista exclusiva”, como Seidl refere-se no livro, em tom jocoso, aos breves diálogos que travou com o primogênito da rainha, aconteceu graças a uma conferência internacional sobre florestas tropicais. Charles, como se sabe, é um dos pioneiros da agricultura orgânica no Reino Unido e defensor de causas ambientais.

O encontro ocorreu durante um “vin d’honneur” em que o respeitado ambientalista brasileiro José Lutzenberger foi recebido com honras de chefe de Estado. Era 17 de maio de 1990 e o presidente Fernando Collor de Mello já havia iniciado seu mandato.

“Sabe o que mais me impressiona em seu país?”, perguntou o príncipe ao jornalista. E respondeu: “Vocês têm um presidente mais jovem do que eu”. Charles tinha então 41 anos, um a mais do que Collor.

Ao final da celebração, o príncipe contou ao correspondente que acabara de convidar Lutzenberger para um almoço no palácio de Kensington: “Vou servir um bufê vegetariano preparado com produtos integrais de minha fazenda de agricultura orgânica”. A história acabou rendendo uma nota para a coluna Painel.

Do bordel de Lindi ao palácio de Charles, os relatos de Seidl são garantia de leitura agradável. E trazem ainda comentários bastante úteis para jornalistas e quem tem interesse pela profissão.

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