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Ex-advogado e responsável por mudança em histórico discurso de Mandela morre aos 92

Nascido na Grécia, George Bizos defendeu líder antiapartheid durante período na prisão

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São Paulo

O advogado George Bizos, que morreu nesta quarta-feira (9), aos 92 anos, deu uma pequena, mas decisiva contribuição para um dos discursos mais importantes da história da África do Sul.

Ele defendia Nelson Mandela no julgamento em que o líder antiapartheid acabaria condenado à prisão perpétua, em 1964, quando leu o discurso que o cliente rascunhou em suas alegações finais aos juízes.

O ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, à dir., e seu advogado, George Bizos, durante encontro em Johannesburgo - Siphiwe Sibeko - 28.nov.08/Reuters

Nele, Mandela afirmava que buscava uma sociedade em harmonia racial e que pretendia viver para ver esse objetivo, mas que estava preparado para morrer por ele.

Em entrevista à Folha em 2012, Bizos relembrou o episódio. “Eu disse a ele, pouco antes de discursar: Nelson, isso pode ser interpretado como se você estivesse buscando o martírio. Por que você não adiciona as palavras 'se preciso for'?".

O cliente aceitou a sugestão do advogado, e as palavras, que hoje são recitadas de cor por muitos sul-africanos, entraram para a posteridade assim:

"[Igualdade racial] É um ideal pelo qual espero viver e que espero alcançar. Mas, se preciso for, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer."

Bizos é creditado como um dos responsáveis pelo fato de Mandela e os outros sete réus, acusados de planejar atos de sabotagem contra o governo, terem escapado da pena de morte.

O advogado nasceu na Grécia, e seus pais fugiram para a África do Sul quando ele tinha 13 anos, em razão do avanço nazista. Chegou ao país sem falar uma palavra de inglês, mas aprendeu rapidamente e logo se interessou pela advocacia.

Sua condição de branco lhe trouxe facilidade para conseguir entrar na prestigiosa universidade de Witwatersrand, em Johannesburgo, mas ele logo se envolveu com organizações que lutavam contra o recém-implantado regime de segregação racial, no final dos anos 1940.

À Folha ele contou como foi seu primeiro contato com Mandela, àquela época também estudante de direito, em 1948. “Ele já era notável. Era alto, bonito, fazia ótimos discursos. Era também o mais bem vestido”, disse.

Nas seis décadas seguintes, ambos estreitaram a relação de amizade, especialmente durante os 27 anos em que Mandela passou preso. Quando o líder foi libertado, em 1990, Bizos seguiu como um conselheiro.

Ajudou na elaboração da nova Constituição democrática do país e no processo de seleção de juízes e nunca abandonou a carreira de advogado, resistindo a diversos convites para entrar na política.

Continuou atuante mesmo com idade avançada e status de lenda no país. Em 2012, representou as famílias de 34 mineiros mortos pela polícia sul-africana durante uma greve.

Em 2014, acabou envolvido em uma disputa da família Mandela pelo controle do patrimônio do ex-presidente, que havia morrido no ano anterior.

Duas das filhas do ex-presidente tentaram remover Bizos e outros antigos amigos de Mandela da condição de administradores de fundações ligadas ao líder, mas não tiveram sucesso.

A morte de Bizos, segundo sua família, ocorreu de causas naturais. Em pronunciamento, o presidente Cyril Ramaphosa disse que o país perdia “uma mente jurídica incisiva e um arquiteto da nossa Constituição, que contribuiu imensamente para nossa democracia”.

O advogado é a quarta pessoa próxima a Mandela a morrer em menos de cinco meses e simboliza o fim da geração dos pioneiros na luta contra o apartheid.

Denis Goldberg e Andrew Mlangeni, os últimos dois réus condenados junto com Mandela no famoso julgamento de 1964, morreram respectivamente em abril e julho deste ano, ambos de causas naturais.

Além disso, em julho morreu Zindzi Mandela, conhecida por ter lido uma carta do pai em 1984 em que ele recusava a oferta de ser libertado da prisão pelo regime. Ela tinha 59 anos e contraiu a Covid-19.

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