Descrição de chapéu Chile América Latina

Morte de 3 policiais comove Chile e evidencia principal desafio do governo Boric

Segurança pública se torna calcanhar de aquiles na gestão do presidente que chega a seus dois anos à frente do La Moneda

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Buenos Aires

Um ataque histórico cometido no Centro-Sul do Chile neste fim de semana joga luz sobre o principal desafio que tem o governo de Gabriel Boric: a segurança pública. No sábado (27), três policiais locais, os carabineiros, foram assassinados e queimados em sua viatura.

Policiais chilenos nos arredores do local onde três carabineiros foram assassinatos, em Cañete, na região de Biobio
Policiais chilenos nos arredores do local onde três carabineiros foram assassinatos, em Cañete, na região de Biobio - Guillermo Salgado - 27.abr.24/AFP

O episódio tem peso duplo: além de ser considerado um dos maiores do tipo desde a retomada da democracia chilena, em 1990, ocorreu justamente no dia em que se celebrariam os 97 anos de fundação da instituição. Os festejos deram lugar ao luto e a protestos.

O crime ocorreu no município de Cañete, próximo a Concepción, a capital da região de Biobio. Esta é hoje considerada uma das regiões mais perigosas do país ao lado das vizinhas Araucanía e Los Ríos, na chamada "macrozona sul", uma área indígena mapuche com conflitos históricos e disputas com o governo local.

Pouco após assumir a Presidência em 2022, Boric decretou estado de exceção nessa porção do país e sustenta a medida até hoje. Na prática, militares atuam lado a lado com os carabineiros na região —mas não estavam com os policiais mortos no momento do ataque neste sábado.

O tema é sensível. De esquerda, Boric assumiu o governo prometendo outro tipo de relação com os mapuche e foi um dos defensores da inclusão dos indígenas no debate (fracassado) sobre uma possível nova Constituição para o Chile. Até hoje, ele não logrou esse objetivo.

Nestes dois anos de seu governo a segurança pública se tornou seu calcanhar de aquiles. Trata-se da principal preocupação dos cidadãos. Afinal, ainda que sustente uma das taxas de homicídio mais baixas da América Latina e do Caribe, o Chile viu esse indicador aumentar 70% no decorrer dos últimos dez anos —de 3 homicídios a cada cem mil habitantes em 2014 para 4,8 neste último 2023.

Com expoentes crescentes nas Américas de modelos de populismo penal como em El Salvador de Nayib Bukele, há muitos no Chile que defendem o aumento da repressão, um movimento impulsionado pela oposição ao presidente, liderada por José Antonio Kast.

Antes um crítico constante dos carabineiros, que têm um histórico de violência no país, o atual presidente, antes um líder estudantil e um deputado vocal, tenta desenvolver outra relação com a corporação. Desagrada assim à sua base mais radical, que pede mais investigações contra os delitos cometidos pelos policiais, além de a seus detratores, que dizem que suas ações são insuficientes.

Falando após o crime, Boric disse que "atacar carabineiros é atacar o país todo". "A melhor ferramenta que temos para combater esses delinquentes sem piedade que cometeram um crime horrendo é a unidade. Sem esquerda ou direita, sem governismo ou oposição."

Ele decretou três dias de luto oficial no país, além de um toque de recolher neste fim de semana na região dos assassinatos. O crime está sob investigação, e ainda não foram apontados suspeitos. Além de atirar e queimar os três carabineiros, os criminosos também teriam roubado suas armas e munições.

O acontecimento também alterou os rumos de uma mudança que nos próximos dias ocorreria na instituição policial. Esperava-se que, nos primeiros dias de maio, o diretor dos carabineiros, o general Ricardo Yáñez, renunciasse ao cargo.

Ele é investigado por omissão durante abusos que ocorreram na corporação em meio à onda de protestos no Chile que levou milhares às ruas em 2019 e que culminou na convocatória para tentar redigir uma nova Constituição —e, de certo modo, também na eleição de Gabriel Boric.

Com o triplo assassinato do fim de semana, o governo chileno disse que descarta a renúncia do general. A ministra do Interior, Carolina Tohá, disse que já há "incertezas demais neste momento" para promover uma troca de comando simultaneamente à crise.

Boric tem apenas 33% de aprovação entre os chilenos, segundo os últimos dados do instituto Cadem, o principal do país, divulgados em março passado. Quando assumiu, em um país fortemente polarizado, sua aprovação era de 50%.

Outro levantamento do mesmo instituto mostrou que, para 82% da população, o cenário de delinquência piorou desde que Boric assumiu o Palácio de La Moneda. Uma fatia ainda maior, de 84%, diz que o crime organizado ganhou força neste período no Chile.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.