Sánchez anuncia permanência como premiê da Espanha após denúncias contra esposa; veja vídeo

Líder socialista havia publicado carta em que cogitou renunciar ao cargo em meio a investigações; oposição fala em teatro para ganho político

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Madri

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, anunciou nesta segunda-feira (29) que ficará no cargo. A permanência do premiê à frente do governo foi posta em xeque depois que sua esposa se tornou alvo de investigações —ele próprio havia sugerido que poderia renunciar.

Após a instauração da investigação, na quarta-feira (24), o socialista Sánchez (PSOE) cancelou sua agenda e publicou uma carta na qual afirmou que precisaria "pausar e refletir" antes de tomar uma decisão definitiva sobre sua permanência no cargo.

"Decidi continuar e continuar com mais força, se possível, à frente da Presidência do governo de Espanha", disse Sánchez, em discurso às 11h (no horário local) desta segunda. Apesar de a Espanha ser parlamentarista e o líder ser eleito indiretamente pelos deputados, o nome do cargo máximo no país é presidente.

Homem grisalho de terno ao lado de mulher loira de roupa preta
O premiê da Espanha, Pedro Sánchez, ao lado de sua esposa, Begoña Gómez, alvo de investigação - Remo Casilli - 24.out.2020/Reuters

"Hoje peço à sociedade espanhola que seja mais uma vez um exemplo, uma inspiração para um mundo turbulento e ferido. Porque os males que nos afligem não são de forma alguma exclusivos da Espanha. Fazem parte de um movimento reacionário global que aspira impor a sua agenda regressiva através da difamação e da falsidade, do ódio e do apelo a medos e ameaças que não correspondem à ciência ou à racionalidade", afirmou Sánchez.

"Vamos mostrar ao mundo como se defende a democracia. Acabemos com esta lama da única forma possível: através da rejeição coletiva, serena, democrática, para além das siglas e das ideologias, que estou empenhado em liderar com firmeza como presidente do governo de Espanha", concluiu.

O líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, rival de Sánchez nas últimas eleições, o acusou de fazer um "papel de ridículo" com os seus cinco dias de reflexão. "Ele decidiu fugir, inclusive, usando o rei como ator coadjuvante de seu filme", afirmou.

Já o líder de ultradireita Santiago Abascal, do Vox, comparou a situação a um "teatro bruto, escandaloso e vitimizador que nos levou a um constrangimento internacional de dimensões incalculáveis". Também ecoou Feijóo ao acusar o premiê de "não fazer reparos em usar inclusive a figura de Sua Majestade, o Rei", por tê-lo informado da sua decisão antes de a tornar pública.

A crise começou após a esposa do premiê, Begoña Gómez, tornar-se alvo de uma investigação por suposta corrupção e tráfico de influência. Os investigadores examinam supostos vínculos dela com empresas privadas que teriam recebido recursos e foram beneficiadas com contratos públicos.

O Ministério Público contestou na quinta-feira (25) o despacho de um juiz de Madri que aceitou a denúncia enviada pela associação Mãos Limpas —grupo ligado à ultradireita do partido Vox e aos conservadores do Partido Popular (PP).

A Mãos Limpas reconhece que as acusações se baseiam exclusivamente em informações publicadas por "vários jornais digitais e em papel, e, posteriormente, em talk shows televisivos", e admitiu ser possível que a argumentação se baseie em informações falsas.

As acusações de tráfico de influência vinham sendo publicadas desde o fim de 2022 por canais na internet de direita. As informações foram constantemente negadas pelo PSOE, mas a associação tentou levar o caso aos tribunais por diversas vezes, sem sucesso.

O premiê da Espanha também recebeu apoio de aliados internacionais. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou com Sánchez e disse a ele que sua liderança é importante "para a Espanha e para o mundo".

No sábado (27), milhares de apoiadores do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) participaram de uma manifestação em frente à sede da legenda em Madri para pedir a Sánchez que permanecesse no cargo.

Sánchez está à frente do governo da Espanha desde junho de 2018. Em novembro de 2023, ele foi reconduzido ao cargo mesmo sem o PSOE ter maioria no Parlamento.

O partido conservador PP saiu vitorioso das eleições de julho, mas seu líder, Alberto Feijóo, fracassou em negociações para formar um governo. Isso abriu caminho para Sánchez permanecer no poder por meio de um acordo com partidos separatistas —a promessa de anistia a líderes condenados após organizarem um plebiscito sobre a independência da Catalunha em 2017 gerou protestos e abalou a popularidade do premiê.

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