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Pesquisadores investigam acidente ecológico no 'fim do mundo' da Rússia

Animais marinhos surgem mortos em Kamtchatka, um dos locais mais isolados do país

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São Paulo

Uma grande quantidade de animais marinhos, como polvos, crustáceos e peixes, surgiu morta em praias perto da capital de Kamtchaka, um dos lugares mais ermos da Rússia.

Segundo a filial russa do grupo ambientalista Greenpeace, a água na região da baía de Avatcha registrou níveis de contaminação com petróleo e fenol, elemento usado na indústria química, até quatro vezes acima do normal no fim de semana.

Vista da baía de Avatcha desde Petropavlovski-Kamtchatski, capital de Kamtchaka (Rússia) - Igor Gielow/Folhapress

"É uma catástrofe ecológica", disse o grupo, em nota. Outra entidade ambientalista, o WWF, afirmou que a indicação é de algum acidente com elemento muito tóxico.

O problema parece ter começado antes. "Os surfistas reclamavam já há algumas semanas que a água estava com um cheiro diferente, e alguns disseram ter ficado com irritação nos olhos", disse Iuri Buriokov, morador de Petropavlosvki-Kamtchatski, a capital local.

No Instagram, um desses surfistas, Anton Morozov, descreveu ter visto peixes mortos boiando e a água com aspecto oleoso e gosto amargo. Outros relataram lesões na córnea após entrar em contato com o mar.

As autoridades locais, que no sábado (3) haviam negado o problema, nesta segunda (5) abriram uma investigação formal sobre o episódio.

Segundo declaração do governador Vladimir Solodov à agência de notícias Tass, três hipóteses são consideradas: alguma anomalia envolvendo algas, um vazamento tóxico provocado por humanos ou uma atividade sísmica inusual que possa ter liberado substâncias venenosas.

O serviço federal de proteção ao ambiente afirmou acreditar que, pelas características, o incidente seria de origem natural.

A região tem 160 vulcões, 29 dos quais ativos, e um dos regimes geológicos mais ativos do planeta. Há erupções, gêiseres e lagoas termais. Não é incomum que haja regiões afetadas por gases tóxicos saindo do solo.

Segundo Egor Afanasiev, morador da capital e dono de uma agência de turismo, a maior suspeita é de que algum produto tenha vazado de um depósito militar próximo à baía, talvez combustível de foguetes.

O governador anunciou que o local será inspecionado porque houve relatos de que “uma substância amarela” havia atingido um rio próximo que deságua no mar.

Dada sua localização distante e estratégica, já que a curvatura da Terra a coloca relativamente próxima ao Alasca nos EUA, Kamtchatka sediou unidades da Frota do Pacífico russa desde os tempos do império dos Románov (1613-1917).

Fechada ao mundo exterior durante os anos soviéticos (1922-1991), a península tem base de submarinos e diversas instalações industriais de defesa

Ao norte da região, o campo de provas de Kura é alvo de mísseis balísticos intercontinentais que são disparados 6.000 km em testes a oeste dali, em Arkhangelsk.

Conhecida entre os russos como “o fim do mundo”, a península fica a mais de oito horas de voo de Moscou.

É um dos maiores paraísos ecológicos do planeta e, desde que foi aberta para o público, depois do fim da Guerra Fria, em 1991, um destino de turismo de aventura único.

Além de todos os atrativos geológicos, a fauna é pujante: os rios são ricos em salmão e há a maior população de ursos do país. Simbolicamente, a estátua que recebe os visitantes junto ao aeroporto de Ielizovo é de um urso com um peixe na boca.

O incidente preocupa também porque Kamtchatka, que tem meros 322 mil habitantes (o mesmo que o Guarujá, em São Paulo), tira seu sustento da indústria pesqueira —seu caranguejo gigante, semelhante ao centolla chileno, é uma iguaria famosa em toda a Rússia e exportado.

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