Siga a folha

Descrição de chapéu
The New York Times Eleições EUA

Esposa de candidato a vice de Trump desafia estereótipo feminino conservador

Discreta, Usha Vance destoa do combo maquiagem pesada e saltos estratosféricos das demais mulheres do alto escalão do Maga

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Vanessa Friedman
The New York Times

J.D. Vance, potencial vice-presidente dos Estados Unidos caso Donald Trump vença as eleições em novembro, talvez represente a nova geração do Maga —acrônimo para "Make America Great Again", ou façam a América grande novamente, o slogan trumpista.

Mas, como ficou claro na noite desta quarta-feira (17) —quando Usha Vance chamou a atenção para apresentar seu marido na convenção do Partido Republicano—, ela representa uma mudança no modelo feminino representado pelas mulheres ligadas a essa corrente.

Usha Vance chega ao palco durante o terceiro dia da convenção do Partido Republicano, no Fórum Fiserv em Milwaukee, Wisconsin - Angela Weiss - 17.jul.24/AFP

Há um certo tipo que todas as mulheres mais próximas de Trump —sua esposa, suas filhas, suas noras— compartilham. Ele envolve um cabelo brilhante, com muito volume, estilizado de modo a cair sobre os ombros em uma cascata meticulosamente planejada. Muito rímel (ou cílios postiços), gloss e saltos altíssimos. E, frequentemente, um vestido tubinho colorido.

O resultado é uma mistura de uma candidata ao Miss América —ou Miss Universo— com uma apresentadora da Fox, ou o equivalente à versão de Palm Beach das "tradwives", como são conhecidas as mulheres que abraçam valores tradicionais e preferem ser donas de casa a trabalhar fora. Não é um estilo exatamente acessível.

Um exemplo desse estilo é a noiva de Donald Trump Jr., Kimberly Guilfoyle, que deu uma palestra na convenção na quarta. Ela subiu ao palco para animar a multidão em um vestido escarlate, saltos altos, e maquiagem pesada enquanto gritava: "Vamos restaurar uma era de orgulho nacional em que a liberdade de expressão é respeitada, e a cultura do cancelamento chega ao fim. Onde as meninas do ensino médio competem apenas com outras meninas, não com homens biológicos".

Comparemos-a com Usha Vance. Quando ela subiu ao palco naquela mesma noite, ela optou por usar pouca maquiagem —a sombra nos olhos era quase imperceptível, assim como seu batom.

Ela usava um vestido que não parecia ser de marca, um tubinho azul safira com dobras tipo origami e um decote que deixava um ombro à mostra. Nele, não havia o broche da bandeira dos EUA com brilhantes que muitas outras palestrantes usaram para demonstrar seu patriotismo —Vance não usava nenhuma joia, na verdade. O cabelo, preto e na altura dos ombros, tinha mechas grisalhas visíveis. Suas sandálias tinham salto, mas ele era quadrado e de altura média.

O efeito era de alguém que estava vestida de um modo apropriado para a ocasião, mas sem exageros. Ela parecia ser uma pessoa que tinha mais com o se preocupar do que com roupas (quem sabe o quanto sua vida está prestes a mudar) e que queria gastar tempo demais só para agradar o olhar masculino.

Antes do discurso, Joanna Coles especulou em um texto para o The Daily Beast se, entre o anúncio de segunda-feira (15) de que Trump havia escolhido Vance como seu colega de chapa e a coroação desta quarta, Usha Vance receberia uma "transformação Maga" como aquela pela qual Sarah Huckabee Sanders passou ao se tornar secretária de imprensa do ex-presidente.

Afinal, a primeira aparição de Usha na convenção na segunda-feira, em um vestido bege que praticamente desaparecia em meio à multidão e de sapatos sem salto, era tão contrária à estética trumpista predominante que era surpreendente. Além disso, ela não tem muita experiência se vestindo para o escrutínio público.

O senador dos EUA JD Vance e sua mulher, Usha Vance, comemoram quando ele é nomeado vice-presidente na chapa com Donald Trump, no primeiro dia da convenção do Partido Republicano - Anna Moneymaker/Getty Images via AFP

As raras fotos dela nesse sentido até agora sugerem uma mulher que se veste de forma prática, não para chamar a atenção.

Em 2022, quando J.D. Vance venceu as primárias para concorrer ao Senado, ela estava com vestido midi cereja. Mais adiante, na noite das eleições, usou um vestido cinza com estampa floral tipo "chemise". Fora isso, num anúncio de campanha, aparece com uma blusa azul decotada.

Em todas essas imagens, Usha, que é formada em direito na Universidade Yale e é filha de imigrantes indianos, não parecia estar exatamente preocupada com moda —da mesma forma que, como disse em outra ocasião, não está exatamente preocupada com política.

Será que isso mudaria se ela assumisse seu papel como mulher do potencial vice-presidente? Será que ela começaria a aparecer em público com brincos de pérola enormes e cílios postiços nos olhos?

Não. Ela chegou a essa disputa como ela mesma.

Isso pode parecer algo menor, mas em uma campanha em que mensagens visuais são cruciais e que hoje busca alcançar um público mais amplo —e na qual a coerência política de seu marido está sob escrutínio—, isso é uma declaração em si.

Quando J.D. Vance saiu dos bastidores para se juntar a ela, eles se abraçaram longamente. Também esse gesto representou uma mudança notável.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas