Siga a folha

Descrição de chapéu The New York Times

Trump domina partido e dita regras em nova plataforma dos republicanos

Delegados tiveram seus celulares confiscados antes de entrarem na convenção e foram orientados a aprovar documento formulado pela equipe do ex-presidente

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Jonathan Swan Shane Goldmacher Maggie Haberman
The New York Times

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump decidiu há muito tempo que queria uma plataforma do Partido Republicano diferente em 2024. Os delegados que chegaram a Milwaukee para a Convenção Nacional Republicana com grandes planos de redigir um documento abrangente de princípios partidários rapidamente descobriram o quão determinado o empresário estava.

Assim que chegaram, seus celulares foram confiscados e colocados em bolsas seladas magneticamente. Não haveria vazamentos de informações. Depois, os delegados receberam uma cópia do texto da plataforma preparada meticulosamente pela equipe de Trump, que reduziu o tamanho do documento em quase três quartos.

"Isso é algo que, ao final, vocês vão aprovar", afirmou Trump aos delegados, segundo uma testemunha ouvida sob a condição de anonimato. "Vocês vão aprovar rapidamente."

Uma delegada se senta entre balões para usar o celular no final do quarto dia da Convenção Nacional Republicana, em Milwaukee, Wisconsin - Andrew Harnik - 18.jul.24/Getty Images via AFP

Ele estava certo. Em questão de horas, o comitê da plataforma endossou o documento que Trump havia ditado trechos, de acordo com duas pessoas com conhecimento direto dos eventos, e tudo aconteceu antes que os delegados recuperassem seus telefones. O comitê aprovou a plataforma com 84 votos a favor, e apenas 18 contrários.

O novo conjunto de propostas suavizou a linguagem sobre o aborto, eliminou trechos que se referiam indiretamente à chamada "terapia da cura gay" e cortou uma seção sobre a redução da dívida nacional, que Trump aumentou em quase US$ 8 trilhões (R$ 44 trilhões) durante seu mandato na Presidência. Mas a parte mais reveladora não foi nenhuma disposição ou artigo específico.

Foi, sim, a eficiência implacável de um processo que durou meses e que sufocou, silenciou ou atropelou qualquer força que pudesse se opor a Trump. O resultado foi a mais recente evidência da maturação política dele e de sua operação.

Os primeiros anos da Presidência de Trump foram marcados por obstruções. Ele foi repetidamente redirecionado por assessores e rejeitado no Capitólio. Mas, agora, ao aceitar formalmente a indicação do Partido Republicano em Milwaukee pela terceira campanha consecutiva, ele já é um veterano político que passou quase dez anos eliminando sua oposição, livrando-se daqueles que são desleais e remodelando o partido à sua imagem.

Balões caem enquanto o ex-presidente dos EUA Donald Trump, a ex-primeira-dama Melania Trump e sua família sobem ao palco depois que ele aceitou a nomeação de seu partido na Convenção Nacional Republicana - Jim Watson - 18.jul.24/AFP

Mas a plataforma oficial dos republicanos —e a maneira como a equipe de Trump a impôs à estrutura do partido— prenuncia muito além das palavras nas páginas. Ela destaca um candidato que está cada vez mais confiante em seus próprios posicionamentos e que se cercou de uma equipe que conhece tanto as regras quanto como dobrá-las.

Se o empresário reconquistar a Casa Branca, a maneira pela qual ele impôs a plataforma pode ser um modelo de como Trump pode governar, auxiliado por um Partido Republicano complacente e apoiado por uma Justiça federal que ele próprio remodelou durante seu primeiro mandato.

"O que isso diz é que o Partido Republicano é o partido de Donald Trump", disse Chris LaCivita, um dos principais assessores de campanha dele, em entrevista. "Donald Trump deixou em 2024 a marca, francamente, que deveria ter tido no partido em 2016 e em 2020."

MAIS SIMPLES, MAIS VAGA

Trump deixou claro para sua equipe que queria a plataforma de 2024 como sendo dele e somente dele. Queria que fosse muito mais curta e simples —e, em alguns casos, mais vaga. Estava especialmente focado na linguagem sobre o aborto, que reconheceu ser um problema potencialmente forte contra ele em uma eleição geral.

Não queria nada na plataforma que desse aos democratas uma abertura para atacá-lo e deixou claro para os assessores que estava perfeitamente bem em desafiar os conservadores sociais, para quem entregou uma tremenda vitória ao remodelar a Suprema Corte com uma supermaioria conservadora.

Trump também enfatizou que não queria definir o casamento como entre um homem e uma mulher. Em vez disso, o documento contém uma declaração vaga aberta a interpretações: "Os republicanos promoverão uma cultura que valoriza a santidade do casamento."

Uma pessoa envolvida no processo lembrou que Trump disse de forma privada: "Santidade do casamento. Não defina."

A plataforma em parte parece um discurso de campanha, com a sintaxe idiossincrática do ex-presidente e a capitalização aleatória ao longo do texto. Ele mesmo ditou edições por telefone, incluindo uma ligação noturna nos últimos dias que resultou em um aumento do número de princípios do partido de 10 para 20, de acordo com uma pessoa com conhecimento direto do processo.

PROCESSO HOSTIL

O dia da plataforma chegou na segunda-feira (15). Os membros do partido desembarcaram em Milwaukee com um sentimento de empolgação. Muitos desses ativistas aguardam ansiosamente a cada quatro anos para moldar a visão oficial do Partido Republicano e pagam do próprio bolso para participar do processo.

Os membros do comitê da plataforma chegaram esperando dois dias de trabalho pela frente, preparados para se dividir em subcomitês para redigir seções de um documento que normalmente abrange milhares de palavras.

Em vez disso, entregaram seus celulares aos funcionários do partido. Já Trump e outros líderes da legenda puderam manter seus dispositivos. Apenas delegados e convidados foram impedidos de se comunicar com o mundo exterior.

A senadora Marsha Blackburn, do Tennessee, uma das mais ferrenhas aliadas do ex-presidente no Senado, presidiu a reunião. Ficou claro rapidamente para aqueles que queriam emendar a plataforma que a equipe de Trump controlava a sala.

Delegado e legislador estadual do Arizona, Alex Kolodin havia levado um laptop e uma impressora. Mas houve uma rápida votação para confiscar esses itens —e qualquer outro eletrônico.

Kolodin disse que havia enviado ideias à equipe de Trump antes da reunião do comitê da plataforma, mas não percebeu que os presentes não teriam voz, de fato, no documento final. "Todos nós nos sentiríamos mais respeitados com uma abordagem mais direta", afirmou.

Gayle Ruzicka, que participa de convenções desde 1992 e atuou em vários comitês de plataforma, afirmou que os participantes foram avisados na noite anterior que haveria reuniões de subcomitês.

Em vez disso, segundo ela, os delegados receberam no dia seguinte, segunda (15), o que seria um rascunho. Ela disse que após cerca de duas horas, sem considerar emendas, o rascunho foi ratificado na íntegra. "Não foi honesto, e isso foi o que me incomodou", afirmou Ruzicka. "Acabamos votando na plataforma que nem tínhamos lido ainda."

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas