Descrição de chapéu The New York Times

J.D. Vance se alinha a Trump de aborto à Ucrânia; saiba a posição dele em temas-chave

Indicado a vice tem sido cético também em relação à intervenção americana no exterior e argumenta que o aumento de tarifas a produtos importados criará empregos

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Adam Nagourney
Los Angeles | The New York Times

O senador J.D. Vance, recém-escolhido companheiro de chapa de Donald Trump na corrida presidencial nos Estados Unidos, deixou de ser o crítico do ex-presidente que era para se tornar leal.

A imagem mostra dois homens em um comício. O homem à esquerda está de pé, vestindo um terno azul e gravata vermelha, enquanto o homem à direita está falando ao microfone, vestindo um terno cinza e gravata vermelha. Ao fundo, há duas bandeiras dos Estados Unidos penduradas.
O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump ouve discurso de JD Vance, agora seu vice na chapa, em comício em Ohio, em 2022 - Gaelen Morse - 17.set.22/Reuters

Foi uma mudança tanto no estilo quanto no conteúdo do republicano do estado americano de Ohio. Agora, Vance está intimamente alinhado a Trump em assuntos tão díspares como comércio e Ucrânia.

Veja abaixo como o senador se posiciona sobre alguns dos principais temas de campanha.

Aborto

Vance se opõe aos direitos ao aborto, mesmo no caso de incesto ou estupro, mas diz que deve haver exceções para casos em que a vida da mãe está em perigo. Ele elogiou a decisão da Suprema Corte dos EUA, em 2022, de revogar Roe v. Wade, medida que legalizou a interrupção da gravidez em 1973.

Enquanto concorria ao Senado naquele ano, a seção de temas de seu site de campanha dizia simplesmente: "Proibir o aborto".

Como Trump, ele se opõe a uma proibição nacional do aborto, dizendo que o assunto agora deve ser deixado para os estados. "Ohio vai querer ter uma política de aborto diferente da Califórnia, de Nova York, e acho que isso seja razoável", disse em uma entrevista em outubro de 2022.

Ucrânia

O agora vice de Trump tem sido um dos principais opositores da ajuda dos EUA à Ucrânia na guerra com a Rússia. "Acho ridículo que estejamos focados nesta fronteira da Ucrânia", disse em uma entrevista em podcast com Steve Bannon, o ex-conselheiro de Trump e antigo aliado. "Tenho que ser honesto com você, não me importo realmente com o que acontece com a Ucrânia de qualquer maneira."

Ele liderou a batalha no Senado, sem sucesso, para bloquear um pacote de ajuda militar de US$ 60 bilhões (cerca de R$ 325 bilhões) para Kiev.

"Votei contra este pacote no Senado e continuo me opondo a praticamente qualquer proposta para os Estados Unidos continuarem financiando esta guerra", escreveu em um artigo para o jornal The New York Times no início deste ano, desafiando a posição do presidente Joe Biden sobre a guerra.

"O senhor Biden falhou em articular até mesmo fatos básicos sobre o que a Ucrânia precisa e como essa ajuda mudará a realidade no terreno."

Imigração

A imigração foi o tema dos primeiros anúncios de Vance em sua campanha de 2022 para o Senado em Ohio. "A fronteira aberta de Joe Biden está matando os habitantes de Ohio", disse à época, olhando diretamente para a câmera. "Com mais drogas ilegais e mais eleitores democratas entrando neste país."

As opiniões de Vance sobre imigração ecoam em grande parte as de Trump. Ele quer concluir a construção do muro na fronteira com o México e proclamou que "se oporá a qualquer tentativa de conceder anistia" a imigrantes que entram irregularmente. Vance defende o que chamou de um sistema baseado em mérito para imigrantes que buscam se estabelecer no país.

O senador argumenta que os imigrantes em situação irregular são uma fonte de mão de obra barata que prejudica os salários dos trabalhadores nascidos nos EUA em estados como Ohio. "Se você não pode contratar migrantes ilegais para trabalhar em seus hotéis, então você tem que recorrer a um dos 7 milhões de homens americanos em idade produtiva que estão fora da força de trabalho e encontrar alguma maneira de reintegrá-los."

Invasão do Capitólio

"Acho que a eleição foi roubada de Trump", disse Vance durante a primária republicana para sua cadeira em Ohio, colocando-o firmemente no campo dos negacionistas da eleição. Ele rejeitou a ideia de que Trump teve um papel em instigar os manifestantes que invadiram o Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

A imagem mostra um grupo de pessoas reunidas em frente ao edifício do Capitólio dos Estados Unidos. Algumas pessoas estão vestindo chapéus vermelhos e roupas de inverno. Uma pessoa está segurando uma bandeira que diz 'TRUMP 2020'. O céu está nublado e o edifício do Capitólio é claramente visível ao fundo.
Apoiadores do então presidente dos EUA, Donald Trump, anexam bandeiras em poste de luz em frente ao Capitólio dos EUA em Washington, durante invasão em 6 de janeiro de 2021 - Leah Millis - 6.jan.21/Reuters

Vance disse que, se fosse vice-presidente de Trump à época, teria cedido à demanda do então presidente e rejeitado os votos eleitorais de vários estados-pêndulo —onde não há apoio consolidado a democratas ou republicanos— vencidos por Biden em 2020.

Ele é cético em relação ao ex-vice-presidente Mike Pence, que se escondeu em uma escadaria enquanto uma multidão invadia os corredores do Capitólio. Pence sentiu-se em perigo porque, em seu papel de presidente do Senado, recusou-se a bloquear a votação que validava a vitória de Biden.

"Acho que a política e as pessoas da política gostam de exagerar as coisas de vez em quando", disse Vance à CNN. "Olha, 6 de janeiro foi um dia ruim. Foi um motim. Mas a ideia de que Donald Trump colocou em perigo a vida de alguém quando disse a eles para protestar pacificamente é simplesmente absurda."

Tarifas de importação

Vance pediu "tarifas amplas, especialmente sobre bens vindos da China", porque em sua visão representam uma ameaça injusta aos empregos e ao comércio americanos. "Precisamos proteger as indústrias americanas de toda a concorrência", disse no programa Face the Nation, da CBS.

Nesse ponto, ele está novamente em grande parte alinhado com Trump, que propôs uma tarifa de 10% sobre bens que entram no país. Essa ideia tem sido criticada por democratas e por muitos economistas, que alertam sobre risco de inflação. Vance considera as críticas exageradas.

Ele disse na entrevista à CBS que aplicar tarifas é como dizer: "vamos puni-lo por usar trabalho escravo na China e importar essas coisas nos Estados Unidos." E acrescentou: "Você acaba produzindo mais coisas na América, na Pensilvânia, em Ohio e em Michigan."

Clima e carros elétricos

Vance disse que a mudança climática não é uma ameaça e expressou ceticismo em relação ao consenso científico de que o aquecimento da atmosfera terrestre é causado pela atividade humana. "Tem mudado, como outros apontaram, tem mudado por milênios", disse ele ao Fórum de Liderança Americana.

O companheiro de chapa de Trump é um forte apoiador da indústria de petróleo e gás —que é dominante em seu estado natal— e se opõe à energia eólica, solar e a carros elétricos.

Oriente Médio

Vance tem sido um firme apoiador de Israel durante a guerra do país na Faixa de Gaza, defendendo suas políticas diante das crescentes críticas sobre o número de mortes de civis.

Quando os senadores americanos consideraram um projeto de lei para fornecer ajuda militar tanto a Israel quanto à Ucrânia, Vance liderou um grupo propondo legislação para enviar dinheiro apenas Tel Aviv.

Ecoando as palavras do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, Vance disse que o país precisava eliminar o Hamas após os ataques da facção terrorista em 7 de outubro de 2023.

"Israel tem um objetivo alcançável", escreveu Vance em um memorando que circulou entre os republicanos do Senado antes de apresentar o projeto de lei. "A Ucrânia não tem."

Vance criticou Biden por atrasar o envio de armas a Israel à medida que as tensões aumentavam entre a Casa Branca e o governo de Netanyahu.

Ele reconheceu as vítimas civis em Gaza —"certamente nosso coração está com eles", disse ele—, mas manteve que a culpa por isso não é de Israel, mas do Hamas.

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