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Descrição de chapéu União Europeia Portugal

Ursula von der Leyen precisa controlar dissidências para se reeleger presidente da Comissão Europeia

Votação nesta quinta pode reconduzir alemã ao braço executivo da União Europeia por mais cinco anos

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Lisboa

A matemática está a favor da recondução de Ursula von der Leyen à presidência da Comissão Europeia. Ela foi indicada pelo Conselho Europeu, a instância que reúne os chefes de Estado da União Europeia, para um segundo mandato de cinco anos, e necessita da confirmação do Parlamento Europeu.

Parece fácil: ela precisa de 361 votos, metade mais uma das 720 cadeiras. Ao mesmo tempo, somente a aliança de centro que a apoia desde a legislatura anterior reúne 405 deputados.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, discursa para as eleições europeias em Portugal - AFP

Os partidos do Parlamento Europeu agregam siglas nacionais com ideias semelhantes. A alemã Von der Leyen pertence ao Partido Popular Europeu (EPP), de centro-direita. Ela governou em seu primeiro mandato com o apoio dos Socialistas e Democratas (S&D), de centro-esquerda, e com o Renovar a Europa (Renew), de centro –além de contar com o apoio dos Verdes em questões pontuais.

Política, no entanto, não é matemática. As principais dúvidas sobre a reeleição de Von der Leyen estão dentro do próprio EPP, que está dividido. Como o voto é secreto, os infiéis não são punidos. A sigla vive o grande dilema da direita europeia. Não sabe se deve se aproximar da esquerda –no movimento conhecido como "cordão sanitário", contra os extremos do espectro político– ou da ultradireita.

A política europeia atual se divide em três blocos: esquerda, direita e ultradireita (a esquerda radical não é expressiva em quase nenhum país). Nesse cenário tripartido, a direita ficou no meio. Na Holanda, aliou-se à ultradireita. Em Portugal e na Alemanha, aproximou-se da esquerda para formar governo. Na França, as três forças aparentemente chegaram a um impasse –mas no segundo turno das eleições legislativas a coligação de esquerda e o macronismo se juntaram para barrar a ultradireita de Marine Le Pen.

Logo após as eleições parlamentares, o Partido Popular ensaiou uma aproximação com os Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), ala da ultradireita chefiada pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.

O principal ponto de divisão dentro do Partido Popular é o Pacto Ecológico Europeu, uma das marcas do primeiro mandato de Von der Leyen.

Muitos dos deputados eleitos pelo partido, em diversos países, são próximos aos agricultores, que julgam pagar a conta da transição energética. Pelo Pacto Ecológico Europeu, eles precisam seguir regras rígidas de sustentabilidade, que às vezes envolvem gastos, e eventualmente competir com produtos importados que não seguem as mesmas normas.

Esses agricultores reivindicam uma revisão no Pacto Ecológico Europeu. Fizeram passeatas e tratoradas ao longo do mês de maio, às vésperas das eleições. Muitos políticos da direita tradicional são receptivos a esses apelos. Os republicanos franceses, por exemplo –que integram o Partido Popular Europeu– têm grande parte de suas bases na zona rural do país.

"Vamos colocar a esquerda na oposição", disse Meloni logo depois das eleições do início de junho.

"Os partidos do ECR formam governos de fato e seus apoios podem ser essenciais para aprovar leis importantes", disse na mesma época o porta-voz do Partido Popular, Pedro López de Pablo, em entrevista ao canal Deutsche Welle. "Os Verdes não são confiáveis, e o ECR não é mais percebido como ultradireita", afirmou, refletindo o pensamento da ala mais conservadora de seu partido.

López de Pablo, no entanto, estava errado. Para o grupo de esquerda Socialistas e Democratas, o ECR é, sim, de ultradireita –e qualquer apoio formal de Meloni a Von der Leyen implicaria na retirada do S&D da coligação de centro.

O grupo de Meloni tem 84 cadeiras no Parlamento. Os Socialistas e Democratas elegeram muito mais deputados –136. Os Verdes e os Liberais também ameaçaram retirar seu apoio caso houvesse qualquer tipo de acordo com o grupo de Meloni.

A sessão do Parlamento Europeu desta quarta-feira (17), véspera da eleição, sinalizou a manutenção do "cordão sanitário". Todos os partidos da aliança de centro, incluindo os Verdes, votaram unidos na primeira questão debatida pela nova legislatura –o apoio incondicional à Ucrânia na guerra contra a Rússia. Foram 495 votos a favor, 137 contra e 47 abstenções.

Na direção oposta, dois dos três grupos da ultradireita votaram por uma postura negociadora com Vladimir Putin –incluindo o Patriotas pela Europa, liderado pelo premiê húngaro, Viktor Orbán.

Ursula von der Leyen decretou um boicote à Hungria, que ocupa a presidência rotativa da União Europeia –em mais um sinal de que manterá o "cordão sanitário". Já o grupo de Meloni se posicionou a favor da Ucrânia –a primeira-ministra italiana pretende transformar o apoio informal em cargos na burocracia da União Europeia.

Trata-se de uma votação de tiro único. Se Von der Leyen não conseguir os 361 votos, o Conselho Europeu terá de recomeçar do zero o processo de escolha e apontar outro nome.

Nas conversas que manteve ao longo da quarta, Von der Leyen teve a difícil tarefa de sinalizar aos Verdes que manterá o Pacto Ecológico Europeu e ao mesmo tempo acalmar a ala de seu partido que defende os agricultores.

O resultado da votação dirá se foi bem-sucedida –e se a União Europeia seguirá no caminho verde e digital, um dos slogans de Von der Leyen em seu primeiro mandato.

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