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Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia

Combates continuam no sul da Rússia pelo terceiro dia; veja vídeo

Zelenski afirma que suas forças sabem surpreender; Moscou diz repelir ataques

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São Paulo

Pelo terceiro dia consecutivo, forças da Rússia estão combatendo em seu próprio território militares da Ucrânia, que realizaram um ataque-surpresa contra a região de Kursk (sul).

Segundo o Ministério da Defesa da Rússia disse nesta quinta (8), ao menos 660 ucranianos foram mortos ou feridos, e 82 blindados, destruídos. Imagens divulgadas pela pasta mostravam destroços de veículos, incluindo um Bradley norte-americano.

Imagem de drone russo mostra ataque contra blindados da Ucrânia perto de Sudja, na região de Kursk - AFP

Como ocorrera na véspera, o ministério e o governo de Kursk disseram que a situação está sob controle e os invasores, sendo repelidos. O fato de ambos admitirem que os combates continuam por si só indica a gravidade da situação —até aqui, ao menos 4 civis foram mortos. Um estado de emergência, que dá poderes extras às autoridades para realocar pessoas e controlar movimentos, foi decretado.

"É uma situação nova", disse por mensagem Ruslan Pukhov, diretor do Centro de Análise de Estratégias e Tecnologias, de Moscou. A intensidade da ação não foi vista nos ataques pela fronteira anteriores, que se assemelhavam mais a incursões com táticas de guerrilha, visando desmoralizar a população.

"Todos podem ver que o Exército ucraniano sabe como surpreender e como obter resultados", postou no Telegram o presidente Volodimir Zelenski, sem citar particularidades do ataque, que antes havia sido comentado no X de seu assessor Mikhailo Podoliak.

"A raiz de qualquer escalada, bombardeios, ações militares, evacuações forçadas, destruição de formas de vida normais, incluindo dentro de territórios como Kursk e Belgorodo, é somente a agressão inequívoca da Rússia", disse Podoliak.

A audaciosa ação, a maior do gênero ainda que incomparável com a invasão total russa do vizinho, começou na terça (6), quando cerca de mil soldados apoiados por tanques, blindados e ataques aéreos romperam a fronteira rumo à estratégica cidade de Sudja, de onde saem as ramificações de gasodutos russos rumo à Europa por meio do país vizinho.

Mesmo com a guerra iniciada em 2022, Moscou segue enviando gás para os europeus e pagando pedágio a Kiev pelo trânsito do produto, cujo consumo no continente caiu a 25% do que era antes da crise.

A incursão partiu da região de Sumi, que desde a quarta (7) é alvo de ataques com aviação tática. A área fica a noroeste de Kharkiv, palco de uma nova frente aberta por Putin em maio no conflito, que visava publicamente criar uma zona tampão para proteger Belgorodo, distrito russo a leste de Kursk.

Embora tenha sido bem-sucedida em atrair recursos ucranianos para aquela região, a ofensiva não logrou nem criar a área de proteção nem uma conquista de Kharkiv, como observadores acreditam ter sido seu objetivo inicial. Nesta quinta, uma pessoa morreu na capital homônima de Belgorodo, atingida por um bombardeio de Kiev.

Segundo blogueiros militares russos, a situação parece de fato pior para os invasores, mas o impacto psicológico e a necessidade de intervenção ainda serão sentidos. Ao menos 3.000 pessoas foram evacuadas de vilarejos fronteiriços em Kursk; também foram enviadas forças de reservas da região de Moscou, a cerca de 500 km de distância.

Um vídeo divulgado pelas Forças Armadas da Ucrânia mostra soldados russos se rendendo numa estrada, mas não se sabe quando ele foi gravado.

Na prática, mesmo que não consiga se estabelecer, a força ucraniana serve para mostrar capacidade ofensiva do cansado Exército de Kiev. As ações russas neste verão do Hemisfério Norte estão particularmente agressivas na guerra, com uma ameaça real de a região de Donetsk, no leste do país, ser toda conquistada.

Isso ocorre devido a avanços em ao menos cinco pontos que, embora pareçam pequenos no mapa, poderão expor as duas últimas cidades importantes controladas por Kiev na região, Kramatorsk e Sloviansk. Além disso, um saliente está sendo formado rumo a Pokrovsk, importante entroncamento ferroviário local.

Segundo a Rússia, desde julho foram tomados 420 km2 de Donetsk (o equivalente a 27% da área do município de São Paulo). O Instituto para o Estudo da Guerra (EUA) avalia um avanço sobre metade desse território, mas vê a situação ucraniana como bastante difícil. O mesmo órgão avalia que as forças da Ucrânia chegaram a avançar até 10 km em Kursk.

Donetsk é uma das quatro regiões anexadas ilegalmente por Putin em 2022 e aquela na qual há menos controle russo, talvez 55% do território. Mas o desenho da ofensiva de verão sugere que ela pode ser subjugada se as defesas ucranianas forem rompidas, estabelecendo um cenário em solo mais favorável a Moscou em uma eventual negociação de paz.

As conversas sobre o tema têm se avolumado, e tanto Kiev quanto Moscou se mostraram abertas após uma intervenção mais incisiva da China como mediadora. Segundo diplomatas ocidentais na Rússia, apesar do discurso público, Europa e EUA acreditam que em algum momento Zelenski vá ter de aceitar debater perdas territoriais.

Isso deve se acentuar na hipótese de Donald Trump vencer a eleição americana em novembro, a julgar pelas falas do candidato republicano e seu histórico de simpatia por Putin. Nesse sentido, o ataque a Kursk é uma espécie de lembrete acerca das capacidades ucranianas, mesmo que se revele fútil como ação militar.

Ao longo da frente de batalha, a violência continua. Ao menos duas pessoas morreram sob fogo de artilharia russa em Donetsk, e Kiev disse ter abatido dois de quatro mísseis e todos os quatro drones lançados durante a noite por Moscou contra alvos no país.

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