Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia acusa Ucrânia de tentar invadir fronteira com tanques

Três ataques inéditos foram repelidos, diz Defesa; ação sugere diversionismo sobre ofensiva

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São Paulo

A Rússia acusou Kiev nesta quinta (1º) de tentar, pela primeira vez na Guerra da Ucrânia, uma incursão em sua fronteira sul, na região de Belgorodo, com o apoio de tanques, blindados e lançadores de mísseis.

De acordo com o Ministério da Defesa em Moscou, foram três tentativas depois do bombardeio intenso da cidade de Chebekino, que já vinha sofrendo ataques com obuses e mísseis nos últimos dias. Nenhuma delas, afirma a pasta, chegou a entrar no território russo.

Imagem divulgada pelo grupo Legião Liberdade da Rússia do que seriam blindados russos destruídos em Chebekino, na região russa de Belgorodo
Imagem divulgada pelo grupo Legião Liberdade da Rússia do que seriam blindados russos destruídos em Chebekino, na região russa de Belgorodo - Legião Liberdade da Rússia via Reuters

Kiev, que sempre nega tais ações, ainda não comentou o caso. Elas são reivindicadas por grupos como a Legião Liberdade da Rússia ou o Corpo de Voluntários Russos, que participaram de uma incursão em Belgorodo na semana passada com armas ocidentais.

Não há relatos independentes para validar os detalhes fornecidos pelos russos, mas, se confirmados, eles indicam uma escalada considerável por parte dos ucranianos. A alternativa conspiratória, de que Moscou infla a situação para tomar medidas mais drásticas, até aqui não passou disso.

O governo russo chamou os atos de ações terroristas e disse que ao menos 50 inimigos foram mortos, entre 120 atacantes. Também foram destruídos, diz Moscou, quatro veículos de combate blindados e um lançador de foguetes Grad.

A denominação visa a evitar chamar o incidente de ato de guerra, dado que o presidente Vladimir Putin insiste em classificar a guerra que iniciou em 24 de fevereiro do ano passado de "operação militar especial".

Isso obedece a uma lógica surrada a essa altura, de tentar minimizar o impacto do conflito entre os russos, particularmente as classes médias e altas de centros urbanos grandes. Chamar a guerra de guerra implica decretos de mobilização nacional que Putin tem evitado —até aqui, fez apenas uma convocação de 300 mil reservistas, no fim de 2022. Contudo, como a crescente violência em Belgorodo e os ataques com drones em Moscou e a alvos como refinarias mostram, a validade dessa retórica está vencida.

As tentativas de invasão ocorreram em três pontos de fronteira, das 3h57 (21h57 de quarta em Brasília) às 9h50 (3h50 em Brasília). Ao menos cinco tanques, de modelos não especificados, participaram de uma das ações, segundo o relato. A resposta envolveu artilharia e a Força Aérea russa.

Segundo a imprensa local, ao menos 11 pessoas ficaram feridas nos bombardeios ucranianos à região. Imagens em redes sociais mostraram o prédio da administração desta última cidade em chamas na manhã desta quinta (madrugada no Brasil), indicando que os ataques foram mesmo intensos.

Na quarta (31), os Estados Unidos chegaram a advertir o governo de Volodimir Zelenski a não atacar alvos em solo russo, pelo temor de uma escalada que envolva os fornecedores das armas ucranianas —Washington e seus parceiros ocidentais. Ao mesmo tempo, no que foi denunciado como hipocrisia por políticos em Moscou, anunciou mais um pacote de ajuda militar, agora de US$ 300 milhões (R$ 1,5 bilhão).

Há um problema adicional, já que os grupos que assumem a autoria das ações e usam armas ocidentais são, como no caso do Corpo de Voluntários Russos, abertamente neonazistas, dando gás à usual acusação do Kremlin acerca de seus rivais e à justificativa de que Moscou quer "desnazificar" a Ucrânia.

Como não parece exatamente crível que a Ucrânia deseje anexar Belgorodo, os ataques servem como diversionismo, visando a atrair a atenção russa para uma situação cada vez mais complexa na região.

O motivo é a contraofensiva prometida por Kiev para esta primavera no Hemisfério Norte, que em breve já será uma ação de verão dado o atraso. Analistas debatem se Zelenski busca um momento ideal para agir ou se o entrincheiramento russo ao longo dos quase 1.000 km de frente está dificultando seus planos.

Inicialmente, a especulação principal era a de que Kiev buscaria algum ataque na região de Kherson, ao sul, visando cortar a ponte terrestre estabelecida por Moscou entre seu território, as áreas russas étnicas do Donbass (leste) e a Crimeia, anexada em 2014 após a queda de um governo pró-Kremlin na Ucrânia.

Tal plano enfrentaria problemas logísticos, uma vez que há uma barreira natural também estabelecida na região, o rio Dnipro, que a corta de leste a oeste, vindo do norte. As Forças Armadas ucranianas vêm gritando lobo há semanas, como no vídeo de seu comandante divulgado no domingo (28), em que o general Valeri Zalujni afirma que "chegou a hora de retomar o que é nosso".

Esta semana tem sido marcada por ações mais espetaculosas, como o ataque com qualquer coisa entre 8 (número oficial russo) e 30 (conta da mídia local) drones contra Moscou, particularmente os subúrbios chiques do oeste da capital, onde aliás fica a principal residência de Putin.

A essas ações se somam ataques com drones a refinarias no sul russo, alvos de maior importância. As defesas aéreas russas são consideradas das melhores do mundo, mas são mais ineficazes contra drones em áreas saturadas de sinal de GPS, como centros urbanos, devido ao tamanho diminuto dos alvos.

Com as incursões e a transformação de Chebekino —cidade com 40 mil habitantes de resto desimportante do ponto de vista político— em um alvo constante a ser usado em redes sociais como exemplo da fragilidade russa, resta saber se o diversionismo de Kiev se dá como tática militar ou por falta de opções. Os próximos dias deverão trazer a resposta.

Enquanto isso, na Ucrânia os ataques russos continuam. Kiev tem sido em especial alvejada nos últimos dias, e nesta quinta ao menos três pessoas morreram, inclusive uma criança, devido a ações com mísseis balísticos Iskander —os dez projéteis teriam sido derrubados, mas seus destroços atingiram edifícios.

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