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Descrição de chapéu The New York Times

Finlândia faz diplomacia com nudez em sauna de sua embaixada nos EUA

País leva tradição a postos diplomáticos e cria até sociedade fechada em que políticos e empresários insistem para entrar

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Alyson Krueger
Washington | The New York Times

"Quando você está meio ou até mesmo completamente nu, é possível ter uma discussão mais profunda", disse Mikko Hautala, embaixador da Finlândia nos Estados Unidos. "Você fala de uma maneira que não acontece quando está sentado em volta de uma mesa com gravata ou em algum evento formal."

A diplomacia se manifesta de diferentes maneiras: reuniões formais no Salão Oval e jantares de Estado na Casa Branca, recepções informais em embaixadas e reuniões individuais com martínis nos saguões de hotéis cinco estrelas.

E então há a maneira como o governo finlandês prefere conduzir os negócios. Eles gostam que suas reuniões aconteçam na sauna e, na maior parte do tempo, nus. "Temos uma regra de ouro de que o que acontece na sauna fica na sauna", disse Hautala. "Procuramos garantir que haja plena confiança e segurança."

Letreiro de néon na sauna localizada na embaixada da Finlândia em Washington, nos EUA - 10.jul.24/The New York Times

Na Finlândia, a sauna faz parte da vida cotidiana, explicou o embaixador. "Há 5,5 milhões de pessoas e 3 milhões de saunas", disse. "Até um pequeno apartamento tem uma sauna."

Os finlandeses a utilizam várias vezes por semana à noite ou de manhã antes de começar o dia, em um ritual que envolve tomar banho, ficar em calor extremo e se refrescar com água fria. Essa prática, tradicionalmente realizada sem trajes de banho, é repetida várias vezes antes que os frequentadores da sauna se sentem para uma refeição saudável. É uma experiência social.

Há 16 anos, a Embaixada da Finlândia em Washington decidiu convidar pessoas influentes —políticos, diplomatas, jornalistas, funcionários públicos e acadêmicos— para experimentar a sauna juntos como um meio de criar conexões.

A Sociedade da Sauna Diplomática, como os encontros são chamados agora, é um convite cobiçado, graças à crescente influência da Finlândia nos assuntos internacionais e ao desejo de profissionais de levar uma vida mais saudável.

Presidente do Estados Unidos, Joe Biden, cumprimenta o embaixador da Finlândia, Mikko Hautala, e a embaixadora da Suécia, Karin Olofsdotter, durante conversa sobre a entrada dos países na Otan - Evelyn Hockstein - 9.ago.22/Reuters

"Há muitas pessoas tentando conseguir um convite, e é muito procurado", disse Robbie Gramer, 33, que escreve sobre diplomacia e segurança nacional para a revista Foreign Policy. Depois que ele escreveu sobre sua experiência, recebeu "um monte de pessoas do Departamento de Estado, do Pentágono, funcionários do Congresso, outros repórteres, todos me perguntando como entrei e 'Você pode falar bem de mim?'"

Hautala disse: "Recebo pedidos de deputados e deputadas para irem à sauna." A embaixada contou que recebe vários pedidos por semana.

Em Washington, existem dois tipos de eventos da Sociedade da Sauna Diplomática. Vale dizer que configurações semelhantes existem em embaixadas finlandesas ao redor do mundo, incluindo em Berlim e Londres.

No primeiro tipo, a delegação finlandesa reúne um grupo de 15 a 20 pessoas na embaixada cerca de uma vez por mês. A noite começa em um bar escuro no andar de baixo, iluminado por um letreiro de néon. Os participantes são separados por gênero, e cada grupo é levado a um vestiário abastecido com roupões da Marimekko e produtos de banho da Lumene, duas marcas de luxo finlandesas.

Os participantes se despem —a nudez é encorajada, mas trajes de banho são permitidos— e então passam pelo ritual da sauna: banho, calor, frio, e repetem. Após algumas rodadas, todos se trocam e voltam para a área do bar. Bebidas e petiscos tradicionais finlandeses são servidos, incluindo almôndegas e salmão em pão de centeio com molho de endro.

O embaixador também hospeda sessões semanais de diplomacia na sauna em sua residência particular. Sua sauna é menor (pode acomodar cerca de dez pessoas) e fica do lado de fora, com uma piscina para se refrescar. Todos os participantes recebem um diploma que diz: "A filiação à Sociedade é concedida apenas a indivíduos que demonstraram sisu (coragem) extraordinária ao conversar sem esforço e eloquentemente no calor de 82ºC da sauna diplomática da embaixada."

"Postei uma foto minha no Twitter. Foi uma honra", disse Marie Royce, que foi secretária-assistente de Estado no governo Trump.

Gramer, o jornalista, disse que os encontros de sauna são uma mudança bem-vinda em relação a outros eventos na capital do país. "As embaixadas em Washington sempre têm eventos diferentes e, muitas vezes, são engravatados e bem chatos", disse ele. "A sauna é diferente. É muito mais quente. É muito mais acolhedora."

Homem finlandês em uma sauna pública, bastante comum no país, na cidade de Vaasa, oeste da Finlândia - Olivier Morin - 27.set.22/AFP

Ben Cantrell, chefe de gabinete do senador Markwayne Mullin, disse que apreciava a capacidade de fazer networking enquanto fazia algo saudável. "Não sou de me esquivar de ter uma reunião difícil na quadra de tênis ou no campo de golfe, e isso pareceu mais alinhado a isso", disse ele, que nem se importou em dedicar seis horas de uma sexta-feira à noite para isso.

Walter Landgraf III, membro sênior do Programa Eurásia no Instituto de Pesquisa de Política Externa na Filadélfia, disse que adoraria um convite para a sauna. "Acho que a atmosfera, o ritual de fazer sauna e compartilhar essa experiência com outra pessoa promove uma abertura, e realmente permite que as pessoas baixem a guarda", disse Landgraf. "Também é privado. Você está atrás de portas fechadas; as pessoas estão mais inclinadas a conversar."

De fato, Hautala disse que uma das partes mais valiosas das reuniões na sauna é que elas duram significativamente mais do que as reuniões de negócios regulares: "Não vou mencionar nomes, mas passei cinco, seis horas com o editor de uma importante empresa de mídia nacional, e isso não costuma acontecer."

Sala na entrada da sauna localizada na embaixada da Finlândia em Washington, nos EUA - 10.jul.24/The New York Times

Também ajuda o fato de haver um interesse particular na Finlândia agora que o país se juntou à Otan após a invasão russa da Ucrânia. "Se você quer entender como funcionam os centros de poder de Putin, se não pode falar com os russos, o que muitas vezes não pode, o próximo passo são os finlandeses", disse Gramer. A Finlândia tem uma fronteira com a Rússia que tem mais de 1.200 km de extensão.

Max Bergmann, diretor do programa Europa, Rússia e Eurásia no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, disse que também é do interesse da Finlândia cultivar relações próximas nos EUA. "As pessoas que frequentam uma sauna têm essa experiência memorável e se lembrarão dos finlandeses que os hospedaram, e na próxima vez que os finlandeses pedirem uma reunião, eles a terão", disse ele.

Gramer concordou que o cenário é vantajoso para ambos: "Nunca pensei que diria isso, mas fazer networking nu é simplesmente melhor."

Erramos: o texto foi alterado

Mikko Hautala é embaixador da Finlândia nos EUA, não embaixadora, como publicado em versão anterior deste texto e em legenda de uma das fotos.

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