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Descrição de chapéu imigrantes

Panamá inicia deportações de imigrantes de Darién com voos pagos pelos EUA

Nova estratégia para a região conhecida como a selva da morte é regada de incertezas, e cenário na Venezuela preocupa

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Buenos Aires

Na manhã desta terça-feira (20), às 8 horas (6h locais), o novo governo do Panamá realiza a primeira deportação de imigrantes em um voo pago pela administração de Joe Biden nos Estados Unidos. A parceria quer interromper o fluxo migratório pela selva de Darién.

Em um voo privado, cerca de 30 imigrantes colombianos partirão do Aeroporto Internacional Albrook, na Cidade do Panamá, rumo à Colômbia, disseram interlocutores do governo panamenho à reportagem. O país vizinho é entrada para o estreito de Darién.

Migrantes desembarcam de canoa ao chegar à Estação de Recepção Migratória de Lajas Blancas, no Panamá, depois de uma viagem pelo rio que dura cerca 5 horas, desde a comunidade indígena de Bajo Chiquito - Folhapress

A gestão de José Raúl Mulino, um ex-ministro de Segurança que comandou a retirada de guerrilhas colombianas de Darién numa época em que a região não sonhava ser palco da mais grave crise migratória das Américas e que fez campanha para a Presidência prometendo "fechar Darién", diz que só serão deportados imigrantes com histórico criminal e os que, voluntariamente, queiram retornar a seus países.

Mas os próprios membros do governo admitem reservadamente que são poucas as pessoas que, depois de enfrentar o martírio da região conhecida como "selva da morte", desejam voltar aos seus países de origem ou moradia. O objetivo da enorme maioria é chegar aos EUA, e de uma menor parcela, ao México.

Uma selva inóspita entre a Colômbia e o Panamá, o estreito de Darién se tornou paulatinamente desde 2018 um corredor de trânsito para imigrantes que, por terra, planejam cruzar as Américas para chegar aos EUA. Muitos são da própria região, mas outros, em menor escala, chegam de outros continentes, como África e Ásia.

Assim que assumiu o governo, o conservador Mulino estreitou uma parceria com os EUA com a justificativa de que Darién "é a nova fronteira do Texas", em suas palavras. Biden o elogia e chama de um "top partner" na tarefa de solucionar a crise migratória regional.

Há poucos dias o panamenho e o americano tiveram uma nova chamada telefônica, quando disseram estar preocupados com a possibilidade de a crise na Venezuela após a contestada reeleição do ditador Nicolás Maduro levar a um novo fluxo de venezuelanos.

Venezuelanos são a principal nacionalidade que cruza a selva de Darién, seguidos por equatorianos, haitianos e chineses. Somente no primeiro semestre deste ano, 201 mil pessoas cruzaram a selva e chegaram ao Panamá —133,4 mil eram venezuelanos. É um número muito parecido ao do primeiro semestre do ano passado (197 mil).

É na Venezuela que começam os dilemas da empreitada de Mulino. Os países recentemente romperam relações após o líder panamenho ser um dos primeiros a criticar o processo eleitoral. O espaço aéreo entre os dois países está fechado, e deportar venezuelanos para sua nação natal não é uma possibilidade. Enquanto isso, o governo segue em tratativas com o Equador e com a Colômbia sobre o tema.

Organizações humanitárias que atuam in loco em Darién expressam preocupação com essa possibilidade oriunda da Venezuela e também somam uma outra que, por razões óbvias, não será expressa pelo governo: a de que a possibilidade de que Donald Trump retorne à Casa Branca nas eleições de novembro faça mais imigrantes decidirem tentar atravessar Darién antes disso.

O republicano tem uma política migratória linha-dura e um discurso xenófobico. Ainda que Biden tenha também dificultado a imigração na fronteira sul de seu país, com o México, tem a imagem comum de inquestionavelmente menos repressor que Trump com os imigrantes.

Seja como for, Mulino se prepara para em breve anunciar uma queda no fluxo que cruza Darién. Ainda que o primeiro semestre tenha tido cifras similares às do mesmo período do ano passado, os meses de julho e agosto observaram uma queda no fluxo, como relatam todos os envolvidos no trabalho humanitário na região.

O Estado ainda não divulgou as cifras para os respectivos meses, mas, ao final da primeira semana de agosto, disse que naqueles sete dias do mês cerca de 2.000 pessoas haviam cruzado a selva. No mesmo mês do ano anterior, a média de travessias diárias foi de 2.600.

Como relatou à Folha durante entrevista no Paraguai, Mulino iniciou uma supervisão das rotas dentro da selva. Imagens da agência de notícias AFP mostraram recentemente que até cercas elétricas foram colocadas em alguns pontos para direcionar o fluxo. O plano, diz o governo, é assegurar um fluxo ordenado. Do país, a maioria dos imigrantes vai de ônibus até a Costa Rica e segue seu caminho.

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