Manifestantes pró-Palestina se negam a votar no 'menor dos males' nos EUA

Protesto em Chicago, paralelo à convenção democrata, é também descontentamento com sistema de dois partidos

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Chicago

Uma multidão se reuniu no Parque Union, em Chicago, para protestar contra o apoio dos Estados Unidos a Israel e o que veem como um genocídio de palestinos na Faixa de Gaza nesta segunda-feira (19). No alvo dos manifestantes estavam tanto Joe Biden quanto Kamala Harris e Donald Trump.

O protesto ocorreu em paralelo ao início da convenção nacional democrata na mesma cidade. Após uma briga com o município, os manifestantes conseguiram garantir a autorização para marchar até o mais próximo possível do United Center, onde ocorrem os discursos desta segunda, inclusive o do presidente.

A imagem mostra uma grande manifestação com várias pessoas segurando bandeiras de diferentes cores, incluindo da Palestina. Há um grupo de policiais em uniforme, alguns com coletes de segurança, que estão monitorando a situação. O ambiente é urbano, com árvores ao fundo e uma rua ocupada pelos manifestantes.
Manifestantes protestam em Chicago contra apoio dos EUA a Israel - Eduardo Munoz/Reuters

Os atos se deram de forma pacífica, mas um pequeno grupo de manifestantes passou por cima de uma cerca próxima do United Center, de acordo com a agência de notícias Reuters. Não há relatos de violência ou prisões.

O Partido Democrata teme que uma escalada da tensão com manifestantes e um eventual conflito com a polícia atrapalhem a candidata, repetindo o desastre da convenção de 1968 na mesma cidade.

O perfil do público no protesto desta segunda era majoritariamente jovem, muitos vinculados a organizações políticas, e insatisfeitos com o sistema de dois partidos dos EUA.

"Estou aqui para protestar contra o Partido Democrata e seu sistema não democrático. Por justiça para a Palestina, para pressioná-los a adotar políticas de fato populares nos EUA", afirmou Sara Sokolinski, 27, enquanto fazia tricô sentada no gramado. De Twin Cities (região de Minneapolis e Saint Paul), a jovem veio a Chicago em ônibus fretado pelo Comitê Antiguerra.

"Nenhum partido representa de fato do povo americano hoje. Estou aqui porque a única coisa que provocou mudanças nesse país foi a mobilização em massa", completa ela, que se define como uma ativista ambiental. Sokolinski diz que pretende votar na candidata do Partido Verde, Jill Stein, como fez na última eleição.

"Eu não acho que votar no menor dos males é uma solução para o nosso problema", afirmou Josh Crowell, 27, integrante da organização Alternativa Socialista, uma das patrocinadoras do evento. Uma mesa da organização no entorno do parque oferecia panfletos e um jornal cuja capa dizia "jogue os dois partidos no lixo". "Nós precisamos de um novo partido, não de um novo democrata", diziam os cartazes.

Crowell disse que estava certo de que Trump venceria a eleição antes de Biden desistir. "Agora está muito mais incerto. Mas a mudança que eu quero ver nessa eleição é o fim das guerras, não apenas Israel e Palestina, Ucrânia, mas no mundo.".

Um adolescente de 17 anos, estudante da Universidade de Michigan, esteve no protesto acompanhado pela mãe (que pediu à reportagem para omitir seu nome). Ele disse que começou a se envolver com o movimento pró-Palestina depois de tomar conhecimento do tema por meio um streamer (influenciador digital que faz transmissões ao vivo).

Segundo o adolescente, o argumento de que um lado é pior que outro é cínico, e a mudança de Biden para Kamala é mais de retórica do que de programa político.

Mas nem todos na marcha pretendiam boicotar os principais candidatos. Tania Unzueta, 40, apoiadora de Kamala, vai poder votar pela primeira vez neste ano. Integrante da organização latina Mijente, a imigrante mexicana mora em Chicago e afirma que votou em protesto contra Biden nas primárias.

"Kamala não reflete todos os meus valores, mas tenho a oportunidade de impactar a eleição. Comparado com Trump, nós [latinos] temos melhores condições de conversar com Kamala", disse. "Com Trump, eu tenho que convencê-lo de que sou um ser humano."

O republicano tornou imigrantes um alvo preferido de ataque em sua campanha. O fluxo recorde durante o governo Biden é um problema para os democratas, e Kamala tem evitado se pronunciar sobre o que fará.

"Não importa o que ela disser, os republicanos vão achar ruim, e eu vou achar ruim também. Ela vai falar de mais controle na fronteira, mais patrulha… Mas protestos como esse servem para pressionar o partido", afirmou Unzueta.

Mais de 270 organizações formam a coalizão que organizou o protesto. Foram fretados ônibus de outras cidades e encomendados milhares de cartazes. Água, máscara (como as para Covid) e até protetor solar eram oferecidos de graça a quem chegava.

Os cartazes pediam o fim da ajuda a Israel, acusavam os democratas de financiarem um genocídio dos palestinos, pediam direitos e regularização de imigrantes, defendiam o direito de sindicalização e os relacionados aos LGBTQIA+ e reprodutivos.

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