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Trump ignora apelo de conselheiros e quer manter tom de campanha

Ex-presidente diz a aliados que vai continuar com estratégia e relata dificuldade em evitar ataques pessoais contra adversários

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Michael C. Bender Michael Gold
The New York Times

A resistência política de Donald Trump este ano tem sido atribuída em parte à memória desbotada dos eleitores sobre por que lhe negaram um segundo mandato há quatro anos.

O ex-presidente está fazendo o possível para lembrá-los.

Apesar de uma semana cuidadosamente planejada de eventos de campanha com o objetivo de contraprogramar a Convenção Nacional Democrata, Trump minou grande parte de sua mensagem com uma série de comentários improvisados, desabafos e erros que ameaçaram alimentar o tipo de ansiedade republicana que ele passou grande parte do último mês tentando acalmar.

Donald Trump durante entrevista a jornalistas em Chicago, no estado de Illinois - 31.jul.2024 - AFP

Na segunda-feira, na Pensilvânia, ele teve dificuldade em esclarecer um comentário de que a Medalha Presidencial da Liberdade, que homenageia civis, era "muito melhor" do que a Medalha de Honra dada a membros militares.

Na terça-feira em Michigan, ele afirmou que a vice-presidente Kamala Harris havia vencido a indicação democrata após um "golpe presidencial violento e cruel" e chamou Chicago, que sediou a convenção democrata, de "uma zona de guerra pior do que o Afeganistão".

Ele rejeitou abertamente conselhos de aliados para limitar seus ataques pessoais à Kamala e a outros democratas durante um discurso na quarta-feira na Carolina do Norte.

Trump chamou a primeira vice-presidente negra do país de preguiçosa durante uma parada no Arizona na quinta-feira à tarde e, naquela noite, divagou durante uma ligação de dez minutos com a Fox News. Os apresentadores acabaram cortando a ligação e encerrando a entrevista, mas Trump continuou de onde parou ao ligar rapidamente para a Newsmax.

E, na sexta-feira, Trump concluiu sua semana abraçando Robert F. Kennedy Jr. em troca de seu apoio, um movimento com impacto incerto em inclinar a corrida a seu favor.

"Uma das maneiras de conquistar os eleitores indecisos não é por meio de ataques pessoais —por natureza, eles não amam a política partidária, mas também não estão entusiasmados com a atual direção do país e o desempenho da economia", disse Kevin Madden, estrategista republicano de longa data que trabalhou em campanhas presidenciais em 2004, 2008 e 2012. "E todo dia que Trump não está falando sobre isso é um dia perdido."

Ainda assim, várias pessoas próximas a Trump disseram estar satisfeitas com seu desempenho na semana passada. Partes de seus discursos focaram políticas, e ele conseguiu transmitir seus pontos sobre a necessidade de cortes de impostos, desregulamentação e produção doméstica de combustíveis fósseis que seus aliados consideram cruciais para a vitória.

E a corrida permanece acirrada nacionalmente e nos estados-chave, de acordo com uma média de pesquisas do New York Times.

David Urban, um conselheiro político de Trump, disse que o ex-presidente mostrou considerável melhora nesta semana, sinal de que estava focado nas novas dinâmicas da corrida. "Vai ser uma corrida difícil, sem dúvida, mas se ele apenas falar sobre os grandes problemas —a economia, a inflação, a imigração e o crime— nós venceremos", disse.

Apesar dos apelos para focar nos problemas, Trump deixou claro que pretende continuar conduzindo sua campanha do seu jeito. "Eu acho que, em relação ao que eles estão fazendo, e o quão radicais eles são e o quão doentes são de muitas maneiras, eu acho que estou fazendo uma campanha muito calma", disse Trump recentemente aos repórteres, acrescentando: "Eu tenho que fazer do meu jeito."

Privadamente, Trump tem se sentido mais confortável com as dinâmicas da corrida. Nas últimas semanas, ele enfrentou uma enxurrada de críticas internas e conselhos de aliados, incluindo Steve Wynn, o magnata dos cassinos de longa data. Wynn pagou por pesquisas que disse ao ex-presidente terem mostrado que os eleitores independentes eram essenciais para sua vitória —e que eles queriam que ele se apegasse aos problemas.

Trump disse a duas pessoas que tem dificuldade em evitar ataques pessoais por causa do quanto sente de animosidade por seus oponentes. Ele disse que a hostilidade avassaladora —seja por Jeb Bush, Hillary Clinton, Biden ou agora Harris— torna difícil para ele não disparar, segundo duas pessoas, que insistiram no anonimato para discutir conversas privadas.

Trump estava relativamente focado no início da semana. Dentro de uma fábrica em York, na Pensilvânia, na segunda-feira, ele em grande parte seguiu sua mensagem sobre a economia. As digressões foram relativamente poucas.

Mas ele parecia cada vez mais desviar-se para mais digressões à medida que a semana avançava. Conforme a convenção democrata prosseguia, ele deixou claro em seus comentários que estava assistindo, praticamente minando os esforços de sua campanha para minimizar os democratas no palco nacional.

Trump disse que se sentiu compelido a se defender de críticas e ataques. Biden, ele disse várias vezes nesta semana, era um "homem zangado que estava fermentando". Barack Obama era desagradável.

Durante o discurso de Harris na quinta-feira, Trump disparou uma série de postagens nas redes sociais em tempo real, criticando o número de pessoas que ela agradeceu. Depois que ela elogiou sua falecida mãe por incutir nela o valor do trabalho árduo, Trump postou: "A biografia de Kamala não vai baixar os preços no supermercado, ou na bomba!"

E ele também mirou alvos curiosos. Trump reclamou nesta semana nas redes sociais e durante eventos públicos sobre a governadora Kathy Hochul de Nova York, cujo discurso na convenção de segunda-feira recebeu relativamente pouca atenção.

Ele mirou o governador Josh Shapiro da Pensilvânia nas redes sociais, dizendo que seus comentários foram "muito ruins e mal entregues" e o chamando de "governador judeu altamente superestimado".

Na terça-feira, a campanha de Trump esperava que ele anunciasse novas políticas. Isso incluía pedir a pena de morte para estupradores de crianças e traficantes de pessoas, além de apoiar punições criminais para médicos que realizam cirurgias em crianças transgênero sem consentimento dos pais, embora especialistas tenham dito que tal consentimento já era necessário.

Mas, quando Trump não mencionou nenhuma das políticas no evento, um assessor de campanha disse que o ex-presidente não queria que a notícia se perdesse na agitação da semana da convenção. Trump então mencionou seu apoio à pena de morte para traficantes de pessoas na metade de seu discurso no Arizona na quinta-feira.

Parte da luta de Trump para manter o foco pode estar ligada à sua visível falta de interesse no palco quando lê seu discurso preparado. Quando Trump se apegava ao roteiro, muitas vezes soava sem emoção, como se estivesse resignado a apenas passar pelos comentários. Mas ele parecia energizado quando recorria a hábitos familiares e interagia com apoiadores.

"É simplesmente insano, mas você não pode atravessar a rua para comprar um pão, você é baleado, é assaltado, é estuprado, é o que for —e você viu, e eu vi. E é hora de uma mudança", disse Trump em Michigan sobre as cidades americanas.

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