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Ana Flávia Magalhães Pinto

Distrito Federal, encruzilhada e síntese do pós-abolição

Nos combates aos negacionismos, há urgência de histórias da capital desse Brasil negro

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Brasília

“Nasceu de um gesto primário de quem assinala um lugar, ou dele toma posse.” Ao falar dos marcos de Brasília, o urbanista Lúcio Costa associou o traço original de sua obra ao sinal da cruz. A nova capital representaria a concretização do desejo antigo de ter no centro do território nacional um símbolo da pujança de seus melhores homens, dispostos a preencher o vazio e suplantar a rudeza da nova terra.

Essas expressões de um duradouro repertório linguístico-cultural da dominação eram fortes sintomas de que, nos anos 1950 e 1960, as pretensões modernistas de políticos, empresários, arquitetos e urbanistas —porta-vozes da memória hegemônica dessa empreitada— anunciavam a atualização de projetos excludentes de Brasil. De maneira semelhante ao ocorrido quando da abolição da escravidão e da pressuposta universalização da cidadania entre quem nascera em solo brasileiro, Brasília e o Distrito Federal não eram sonhos sonhados para caber todo mundo.

Não por acaso, coube ao candango, restrito à imagem do trabalhador da construção civil, de pele escura e origens no Nordeste, ser incorporado na narrativa canônica como sujeito sem passado e futuro, cuja função histórica desaparecia com a finalização dos monumentos. Era, assim, o alvo fácil da nada cordial “Operação Retorno”, em 1964, e das remoções forçadas nos anos seguintes.

Ocorre, porém, que passados 60 anos da inauguração de Brasília e 132 anos da ilegalidade da escravidão, o Distrito Federal se revela um território de encruzilhada, local favorito de Exu, o orixá que “matou um pássaro ontem com a pedra que arremessou hoje”. Espécie de síntese do pós-abolição, o DF é, ao mesmo tempo, a verdade escancarada do racismo brasileiro e a sua insistente confrontação. Tal como o Brasil, é terra de maioria negra: 57% das mulheres e homens que aqui habitam são pretos e pardos, havendo regiões administrativas em que essa presença chega a 80%.

Nos combates aos negacionismos, há urgência de histórias da capital desse Brasil negro.

*

Ana Flávia Magalhães Pinto é professora do Departamento de História da UnB, curadora da exposição "Reintegração de Posse: Narrativas da Presença Negra na História do DF". @historianegradf

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