Cracolândia sem fim
Se a segurança pública não se aliar a saúde e habitação, problema vai perdurar
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), procura uma solução rápida para a cracolândia. Contudo tentativas fracassadas de gestões municipais e estaduais, somadas à reformulação cosmética de políticas públicas para o local a cada novo mandato, deveriam deixar evidente que, quando o assunto é tratamento para usuários de droga, o tempo deve ser aliado.
Experiências internacionais e especialistas apontam para a necessidade de medidas interdisciplinares e de longo prazo. Na contramão desse consenso, a atual gestão oferece propostas de tom populista.
Numa delas, pretende-se oferecer R$ 600 mensais para quem abrigar pessoas em situação de rua, chegando a R$ 1.200 caso o cidadão acolha famílias. Há dúvidas sobre a efetividade da política em larga escala. Ademais, o assistencialismo da medida esconde que o déficit de moradia é um problema complexo e estrutural em São Paulo.
No ano passado, a prefeitura ensaiou medidas mais condizentes com iniciativas de sucesso em outros países, como o "housing first" ("moradia primeiro"), ao conceder habitações transitórias por até 12 meses. Ações do tipo, combinadas com tratamento de saúde integral para usuários e combate ao crime organizado para traficantes de grande porte, deveriam ser o foco.
Outra proposta problemática é a prisão em regime semiaberto de usuários que recusem internação. A medida confunde punição com tratamento, como se a restrição de liberdade gerasse algum tipo de melhoria de saúde, ou provesse segurança para a população que trabalha ou reside na região já gravemente deteriorada.
Ao contrário do que pode sugerir o senso comum, investir em medidas penais para usuários tende a legitimar violência, sem benefícios diretos que perdurem.
A aposta de Nunes na internação compulsória (definida pela Justiça) e na internação involuntária (com consentimento de um familiar e de um médico) apenas retira usuários da paisagem urbana, em vez de promover tratamento individualizado, baseado na confiança do paciente e em evidências científicas sobre o vício.
A cracolândia é um problema interdisciplinar. De fato, o patrimônio, tanto público como privado, e a população da região devem ser protegidos. Mas, para alcançar esse objetivo, apenas ações na área de segurança pública não são suficientes. Devem-se privilegiar tratamento médico, geração de renda e habitação a fim de obter resultados menos efêmeros.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters