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Rubens Figueiredo

Pablo Marçal é a nova direita

O que está em jogo mexe com as placas tectônicas da política brasileira

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Rubens Figueiredo

Cientista político pela USP, é autor de “Sofrendo Feliz da Vida” (ed. MM)

Tivemos dois grandes "outsiders" eleitos presidentes da República: Fernando Collor de Mello (1989) e Jair Bolsonaro (2018). Podemos entender um "outsider" como um candidato de um partido pequeno, com discurso forte e "antiestablishment". Em pouco tempo, se transformam em fenômenos.

Collor foi prefeito de Maceió (1979-82), deputado federal (1982-86) e governador de Alagoas (1987-89). Seu pai, Arnon Afonso de Mello, foi deputado federal, governador de Alagoas e senador por três mandatos consecutivos. Ao ser alçado à Presidência, Bolsonaro havia sido deputado federal sete vezes e um dos seus filhos, Flávio, acumulava quatro mandatos de deputado estadual pelo Rio de Janeiro.

Pablo Marçal e Jair Bolsonaro, que entregou uma medalha ao influenciador - Reprodução/@pablomarcal1 no Instagram

Collor e Bolsonaro eram "outsiders fakes": seguiram o caminho da política para se posicionarem contra a política. Não eram estranhos no ninho. Já o tsunami Pablo Marçal, que disputa uma eleição para prefeito de São Paulo, é um corpo estranho ao mundo político-partidário. Nunca se elegeu a cargo algum. Sai do campo das novidades eleitorais para se inscrever na categoria das aberrações.

O empresário-coach domina com maestria o terreno das redes sociais. Sinceridade parece ser o seu forte. É um caleidoscópio temático: tecnologia, autocuidado, religião, teleférico, educação, crianças, família, empreendedorismo... Ataca os seus adversários com violência e palavras de efeito: "bananinha", "aspirador de pó", "Dapena", "para-choque de comunista". Exorcizou Guilherme Boulos com a carteira de trabalho.

Fala com desenvoltura atrocidades que inviabilizariam qualquer candidatura, vamos dizer, normal. Em um dos países mais desiguais do mundo, assume sem problemas que é ricaço e, paradoxalmente, ganha a simpatia dos pobres, pois Marçal diz que eles "podem chegar lá", qualquer um pode vencer. Aeronaves? Tem quatro. Carros importados? "Uns" 20. Imposto de Renda com mais de R$ 200 milhões de patrimônio? "Isso é só na pessoa física, minhas empresas valem bilhões".

Outra característica de Marçal é a coragem. Avisa que vão querer acabar com ele. Aí usa uma das suas frases favoritas: "Não vou arregar". Respondeu a Bolsonaro, de quem precisaria apoio, que não irá retroceder: "Me perdoe". Um voluntarismo algo messiânico dá as cartas quando insinua que recebeu um chamado para ajudar o povo. Autodefine-se como "o servo", poderia estar vivendo na Suíça e é o único candidato que tem algo a perder sendo prefeito.

Mas o que está em jogo é algo mais profundo, que mexe com as placas tectônicas da política brasileira: a possibilidade de a bandeira da direita estar mudando de mãos. A última pesquisa Datafolha já aponta empate técnico entre o número de eleitores de Marçal (21%) e de simpatizantes de Bolsonaro (20%).

Pablo Marçal é entretimento, transmite uma raiva suave. Tem vida própria. Origem humilde (filho de faxineira), empatia, espontaneidade, firmeza, assertividade, experiência de quem deu certo na vida, criatividade, família estruturada, juventude, bom humor, respostas na ponta da língua... Não são poucos seus atributos. E nunca, nunca um "outsider" raiz chegou tão longe em tão pouco tempo.

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