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Confissão de ex-guerrilheiro sobre morte na ditadura não se refere ao pai do presidente da OAB

Entrevista se refere ao assassinato em 1971 do militante da ALN Márcio Leite de Toledo

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São Paulo

Diferentemente de postagens que circulam nas redes sociais, trecho de entrevista de ex-guerrilheiro da Ação Libertadora Nacional (ALN) ao programa Dossiê Globo News não se refere à morte de Fernando Santa Cruz Oliveira, pai do presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Como verificado pelo projeto Comprova, o trecho da entrevista se refere à participação de Carlos Eugênio Paz na morte de Márcio Leite de Toledo, um dos dirigentes da ALN. A reportagem completa foi ao ar em julho de 2012 e mostra entrevista concedida por Eugênio Paz ao jornalista Geneton Moraes Neto.

O vídeo começou a circular fora de contexto depois de Jair Bolsonaro (PSL) ironizar o desaparecimento de Fernando Santa Cruz Oliveira, pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz.

Felipe Santa Cruz, presidente da OAB, em jantar organizado em São Paulo pelo órgão com a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia - Marcus Leoni/Folhapress

Sem contexto, no trecho viralizado da entrevista, aparece a pergunta “você participou diretamente da execução então?”. A que Eugênio Paz respondeu “Participei, sim, da ação a tiros na rua, numa rua nos Jardins, num daqueles jardins lá de São Paulo. Como você disse, no dia 23 de março de 1971”.

Na versão reduzida da entrevista, não consta a pergunta feita pelo entrevistador aos 42min39 e que esclarece que o relato se refere a Toledo: “você participou no dia 23 de março de 1971 da execução de um militante da ALN, Márcio Leite de Toledo, que defendia uma pausa na luta armada e foi considerado inconfiável. Que argumento você usou na época para defender essa execução?”.

A entrevista completa tem quase uma hora de duração. O trecho referente ao assassinato de Toledo começa aos 38min36s do vídeo e se estende até os 43min23s.

Fernando Santa Cruz consta na lista de mortos e desaparecidos políticos do relatório final da Comissão da Verdade (CNV). De acordo com o documento, ele desapareceu em 23 de fevereiro de 1974, quase três anos depois do assassinato de Márcio Leite de Toledo, do qual Eugênio Paz confessou ter participado.

Além disso, Santa Cruz desapareceu na cidade do Rio de Janeiro, enquanto a morte de Toledo, conforme mencionado na entrevista, ocorreu em São Paulo. Outro ponto divergente é que tanto Eugênio Paz quanto Toledo faziam parte da ALN, já Santa Cruz foi das organizações Ação Popular (AP) e Ação Popular Marxista Leninista (APML).

No item "Circunstâncias de Desaparecimento e Morte" do relatório da CNV, consta que Santa Cruz foi visto pela última vez ao deixar a casa do irmão. Ele disse à família que encontraria o amigo de infância Eduardo Collier Filho e que, se não voltasse até o fim da tarde, provavelmente teria sido preso, já que o amigo passava por processo na Justiça Militar.

Na segunda (29), ao reclamar sobre a atuação da OAB na investigação do caso de Adélio Bispo, autor do atentado à faca do qual foi alvo, Bolsonaro disse que poderia explicar ao presidente da entidade, Felipe Santa Cruz, como o pai dele desapareceu durante a ditadura militar (1964-1985).

“O pai do Santa Cruz integrava a AP, a Ação Popular de Recife, era o grupo terrorista mais sanguinário que tinha. Esse pessoal tinha algumas ramificações pelo Brasil, tinha uma grande no Rio de Janeiro. E o pai dele veio para o Rio de Janeiro”, disse o presidente, em transmissão ao vivo pela internet enquanto cortava o cabelo na sede do governo. Segundo ele, integrantes da AP decidiram “sumir o pai do Santa Cruz”.

"Não foram os militares que mataram, não. Muito fácil culpar os militares por tudo o que acontece", afirmou o presidente. "Até porque ninguém duvida, todo mundo tem certeza, que havia justiçamento. As pessoas da própria esquerda, quando desconfiavam de alguém, simplesmente executavam."

Contestado com o fato de haver documentos públicos que mostram que o desaparecimento se deu após prisão pelo Estado, Bolsonaro questionou a CNV, grupo criado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2011 que investigou violações aos direitos humanos ocorridos durante o regime.


Participou também da apuração deste texto o Metro Brasil, que integra o Comprova, projeto que visa identificar, checar e combater rumores, manipulações e notícias falsas sobre políticas públicas. É possível sugerir checagens pelo WhatsApp da iniciativa, no número (11) 97795-0022.

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