Estudantes pró-Palestina invadem prédio da Universidade Columbia, em NY; veja vídeo

Manifestação continua após instituição ameaçar alunos de expulsão; Casa Branca diz que abordagem de ato é errada

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Estudantes invadiram um prédio da Universidade Columbia, em Nova York, na madrugada desta terça-feira (30), horas depois de a instituição ter estabelecido um prazo para que eles desmontassem o acampamento erguido em protestos pró-Palestina no campus.

A reitoria ameaça expulsar os estudantes que continuam acampados e, como resposta, um grupo se estabeleceu no Hamilton Hall, um histórico edifício acadêmico, após marchar pelo campus sob gritos de "Palestina Livre".

Manifestantes gesticulam em janela do Hamilton Hall após invadirem o prédio da Universidade Columbia - Reuters

Os manifestantes usaram mesas para formar barricadas na entrada do edifício. Segundo o jornal americano The New York Times, muitos estudantes usavam capacetes, óculos de segurança e máscaras. Uma estudante usou um martelo para quebrar parte do vidro de uma porta.

A punição aos alunos é uma forma de reprimir os atos sem a atuação de forças de segurança e detenções, como ocorrido na semana retrasada no campus –o que ajudou a espalhar os protestos para outras instituições do país.

O Columbia University Apartheid Divest, que organizou o acampamento, afirmou nas redes sociais que um "um grupo autônomo" de "membros da comunidade de Columbia" havia tomado o prédio. "Ocupar um edifício é um risco pequeno comparado com a resistência diária dos palestinos em Gaza", diz a nota.

O texto afirma ainda que os ativistas passaram a chamar o prédio de Hind Hall em referência à palestina Hind Rajab, uma menina de seis anos que morreu durante a guerra em Gaza —em quase 7 meses de conflito, mais de 34 mil pessoas foram mortas no território, segundo autoridades locais, ligadas ao Hamas.

Ao longo do dia, ativistas usaram cordas para enviar alimentos e outros itens aos alunos que ocupam o prédio. A universidade fechou o campus, e funcionários só permitiram a entrada de estudantes que moram nos dormitórios do local e de trabalhadores que prestam serviços essenciais.

O porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, afirmou que a invasão do prédio representa uma "abordagem absolutamente errada" dos manifestantes. "Uma pequena porcentagem de estudantes não deveria ser capaz de interromper a experiência acadêmica e o estudo legítimo do restante do corpo discente. Os alunos que pagam para frequentar a universidade e querem estudar deveriam fazer isso sem interrupções", disse.

Já Jeffrey Maddrey, chefe da polícia de Nova York, disse que as forças de segurança mantêm contatos diários com a direção da universidade. Segundo ele, até a tarde desta terça, a instituição policial não havia sido acionada para agir novamente no campus. "A polícia está sempre pronta, mas não entraremos em Columbia sem um pedido específico. No momento não temos esse pedido."

Autoridades esperam que haja desmobilização nos próximos dias em função do fim do ano letivo. As aulas de alguns dos cursos em Columbia terminaram na segunda (29), segundo o New York Times. Os exames finais começam na próxima sexta (3) e continuam até 10 de maio. As cerimônias de formatura estão previstas para o próximo dia 15.

Na série de protestos, os manifestantes fazem três exigências principais: que a universidade se desconecte de empresas que apoiam as Forças Armadas de Israel, transparência nas finanças da universidade e anistia para os estudantes e professores punidos por suas participações nos atos.

Essa não é a primeira vez que o edifício Hamilton Hall, inaugurado em 1907, é invadido. Em 1968, no mesmo 30 de abril, o prédio foi o primeiro que centenas de manifestantes ocuparam durante os protestos contra a Guerra do Vietnã. Na época, os estudantes também protestavam contra os planos para a construção de um ginásio universitário em um parque público próximo e contra o envolvimento da instituição em pesquisas de armamentos.

Quase mil ativistas ocuparam cinco prédios, incluindo a reitoria. Eles foram retirados do local por policiais, em uma das maiores prisões em massa da história de Nova York e que teve cenas de violência. Os agentes agrediram os estudantes com cassetetes e arrastaram alguns alunos por degraus.

O mesmo edifício foi tomado em 1972 por manifestantes contrários à Guerra do Vietnã, que acabaria três anos depois, e durante uma greve em 1985 contra o apartheid na África do Sul. Na época, os alunos também pediam que a instituição rompesse laços com empresas que faziam negócios com o país.

A ocupação da década de 1980 se desfez três semanas depois, pouco antes da ordem de um juiz para reabrir o prédio. Naquele mesmo ano, porém, a administração da universidade votou pela venda de todas suas ações em empresas americanas que faziam negócios no país africano.

As manifestações pró-Palestina dos últimos dias provocaram intenso debate nas universidades. Estudantes que protestam contra a ofensiva militar em Gaza, incluindo ativistas judeus pela paz, dizem estar sendo censurados por meramente criticar o governo israelense ou expressar apoio aos direitos dos palestinos. Outros grupos, porém, argumentam que a retórica dos protestos é antissemita e, portanto, não deve ser tolerada.

Esse raciocínio foi utilizado por grupos que pressionaram a Universidade do Sul da Califórnia há duas semanas para vetar sua oradora principal, Asna Tabassum, uma estudante muçulmana, por suas visões pró-Palestina. A universidade, com sede em Los Angeles, posteriormente anunciou o cancelamento de toda a cerimônia.

Grupos de direitos civis criticaram táticas de aplicação da lei em algumas instituições, como a Universidade Emory, em Atlanta, e a Universidade do Texas, em Austin. Em ambos os locais, policiais detiveram dezenas de estudantes, que posteriormente tiveram suas acusações retiradas por falta de provas.

Em Austin, protestos eclodiram novamente nesta segunda. A segurança do campus, apoiada por policiais estaduais do Texas, tentou dispersar um grande protesto estudantil usando spray de pimenta e dispositivos de explosão e deteve pelo menos 43 pessoas, de acordo com o advogado George Lobb, que disse ter confirmado o número com funcionários do tribunal e da prisão que processaram as detenções.

Na Universidade da Virgínia, em Richmond, a polícia e os manifestantes entraram em confronto quando os agentes avançaram após o anoitecer para dispersar um acampamento. A TV local exibiu vídeos da polícia em trajes de choque usando o que parecia ser spray de pimenta nos manifestantes e fazendo prisões.

Além da Universidade Columbia, outras instituições começaram a punir alunos que participaram dos protestos. A Universidade de Nova York e a Universidade Cornell anunciaram a suspensão de estudantes que teriam ignorado ordens da direção.

Com Reuters, AFP e The New York Times

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.