Antigo refúgio, chácara de Lula às margens de represa tem obras paralisadas
Com bens e contas indisponíveis, petista adiou reforma da Los Fubangos, em São Bernardo do Campo (SP)
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As obras de reforma da chácara Los Fubangos, propriedade do ex-presidente Lula (PT) em Riacho Grande, zona rural de São Bernardo do Campo, estão paralisadas desde 2018 por falta de dinheiro do petista.
Na década de 1990, o lugar foi uma espécie de refúgio de Lula nos finais de semana e feriados.
Após 580 dias preso na Polícia Federal em Curitiba, Lula foi solto no início de novembro, beneficiado por um novo entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) segundo o qual a prisão de condenados somente deve ocorrer após o fim de todos os recursos. O petista, porém, segue enquadrado na Lei da Ficha Limpa, impedido de disputar eleições.
Após sair da prisão, o petista voltou ao seu apartamento no centro de São Bernardo, na Grande São Paulo, mas tem dito a amigos que pretende se mudar. Ele não revela qual será seu destino. O petista está namorando a socióloga Rosângela da Silva e diz que vai se casar com ela.
Lula foi alvo de decisões judiciais decorrentes de investigações da Lava Jato que determinaram o bloqueio de seus bens e de suas contas bancárias.
Em abril de 2017, o então juiz federal Sergio Moro bloqueou pouco mais de R$ 600 mil de contas bancárias e cerca de R$ 9 milhões de dois planos de previdência privada do ex-presidente.
Além do dinheiro, apreendeu quatro imóveis e dois veículos. Também sofreu bloqueio o espólio da ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro de 2017. A decisão de Moro foi dada em inquérito que investigou o pagamento de palestras de Lula, algumas delas para empresas envolvidas na Lava Jato.
Em junho deste ano, o juiz Luiz Antonio Bonat, que substituiu Moro à frente da Lava Jato, determinou o bloqueio de R$ 77,9 milhões em bens do ex-presidente.
A decisão de Bonat foi dada no processo em que Lula é acusado de receber cerca de R$ 12 milhões da Odebrecht por meio da compra de dois imóveis —o petista sempre negou as acusações.
Já o valor bloqueado foi calculado com base no montante atribuído às propinas pagas por empreiteiras em oito contratos da Petrobras, e não no patrimônio do ex-presidente.
Com bens e contas indisponíveis, dizem aliados, Lula ficou sem condições de comprar material de construção e pagar os funcionários da obra da chácara, às margens da represa Billings.
A reforma da chácara começou porque, em 2011, após a saída da Presidência, Lula e Marisa decidiram que morariam no local. A estrutura, no entanto, era considerada precária.
Havia somente uma edícula com um quarto pequeno que servia também como depósito, onde cabia apenas uma cama. A área da cozinha e da copa ficava em um espaço aberto, com paredes só nas laterais.
A Los Fubangos (nome sem significado) foi comprada por Marisa, em 1992. Lá ele reunia amigos e preparava receitas como coelho à caçadora, espaguete à carbonara, arroz carreteiro e polenta mole. Marisa pescava na represa e jogava baralho com amigas.
Em 2004, com Lula na Presidência, dois cachorros, algumas galinhas e faisões foram mortos a facadas na chácara. O caso foi investigado pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, que recomendou que o petista parasse de frequentar o local.
Quando deixou o Planalto, Lula praticamente abandonou a Los Fubangos. O destino preferido do petista passou a ser o sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP) —no papel, propriedade de Jonas Suassuna e Fernando Bittar, filho de Jacob Bittar, amigo do petista.
Reformas no sítio de Atibaia basearam o processo em que Lula foi condenado a 12 anos e 11 meses de prisão. Uma reportagem da Folha descobriu que a Odebrecht havia pago por obras no imóvel.
Mais tarde, a Lava Jato apontou que reformas na propriedade foram pagas também pela OAS e pelo pecuarista José Carlos Bumlai.
A força-tarefa diz que as benfeitorias no imóvel eram propina das empreiteiras ao ex-presidente em troca de contratos com a Petrobras. A defesa de Lula recorreu, e o caso aguarda julgamento em segunda instância.
Para o projeto de reforma da chácara, Lula contratou o arquiteto Rafael Antonio Cunha Perrone, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. O responsável técnico pela obra é o petista e ex-prefeito de Diadema José de Filippi Júnior, que é engenheiro.
O pedido para o alvará de construção e o licenciamento ambiental para a reforma foi feito em novembro de 2016 na Prefeitura de São Bernardo, quando o prefeito da cidade era Luiz Marinho, petista amigo de Lula e que tem uma propriedade vizinha.
Em maio do ano seguinte, já na gestão do prefeito tucano Orlando Morando, a prefeitura emitiu um alvará ambiental autorizando o manejo (troca de lugar de vegetação, como espécies de bromélias que existiam no local) e remoção de área verde.
Em outubro do mesmo ano, a prefeitura emitiu uma guia de arrecadação, indicando que o alvará estava aprovado. Mas, uma semana após a emissão, a administração cancelou o alvará, justificando que o nome da rua que dá acesso à propriedade estava errado.
O caso se desenrolou com ações na Justiça e recursos. Em março deste ano, enfim, foi expedido o alvará autorizando a construção. A prefeitura, porém, multou Lula em R$ 49,4 mil por entender que o trabalho de terraplanagem foi feito quando não havia autorização.
A chácara tem 24 mil metros quadrados e é uma faixa de terra longa (400 metros de profundidade) e estreita (60 metros de largura).
A reportagem da Folha esteve no local na semana passada. Não havia ninguém na propriedade, e os vizinhos disseram que há muito tempo que não percebem a presença de pessoas no imóvel.
Filippi Júnior é quem cuida da burocracia da obra. Segundo ele, há um funcionário que de vez em quando vai à chácara para fazer serviços de manutenção e limpeza.
As obras continuam em estágio inicial. Foram feitos até agora a terraplanagem do terreno, o remanejo da vegetação e 51 estacas foram cravadas no solo para servirem de alicerce da casa.
O projeto do imóvel prevê uma casa térrea de 380 metros quadrados de área, com três suítes, uma ampla sala e cozinha com fogão e forno à lenha. Até agora, Lula já gastou, segundo o engenheiro, cerca de R$ 200 mil com a obra.
Erramos: o texto foi alterado
Diferentemente do que afirmou versão anterior desta reportagem, a área da chácara Los Fubangos é de 24 mil m² quadrados, não 3.000 m². O texto foi corrigido.
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