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'Caveira', chefe da Força Nacional que elogiou amotinados tinha confiança da PM do Ceará

Coronel Aginaldo de Oliveira comandou unidade do Batalhão de Choque subordinada à gestão Camilo Santana (PT)

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Recife

Coronel da Polícia Militar do Ceará e coordenador da Força Nacional, Antônio Aginaldo de Oliveira, que elogiou em discurso no domingo (1º) a "coragem" de PMs amotinados, é avesso à política, nunca participou de motins e comandou, até o ano passado, uma unidade especializada do Batalhão de Choque.

Aginaldo esteve à frente do CEP (Comando de Policiamento Especializado) até janeiro de 2019. Considerado um policial discreto e bem avaliado, gozava de prestígio e tinha a confiança do comando da Polícia Militar cearense, subordinado ao governador Camilo Santana (PT). 

O coronel Aginaldo de Oliveira, coordenador da Força Nacional de Segurança, e o ministro da Justiça, Sergio Moro, em solenidade em Brasília - Pedro Ladeira-3.jul.19/Folhapress

O coronel deixou o cargo no início do ano passado para assumir a Força Nacional após convite do secretário nacional de Segurança Pública, o general da reserva Guilherme Theophilo, que ficou em segundo lugar na disputa pelo governo do Ceará em 2018.

Camilo Santana, reeleito em primeiro turno, teve 79,9% dos votos, contra 11,3% do general Theophilo, que se desfiliou do PSDB após a eleição.

Nos bastidores, o fato de Aginaldo ter aceitado o convite do principal opositor de Camilo Santana gerou desconforto em setores do governo ligados à área de segurança pública.

Mesmo assim, o governo resolveu não impor obstáculos por entender que a escolha de Aginaldo para a Força Nacional mostrava a eficiência da polícia cearense.

O coronel orgulha-se de ser um dos dois únicos oficiais “caveira” no Ceará. A denominação é dada no meio policial àqueles que concluem o curso do Bope-RJ (Batalhão de Operações Especais).

Após ser baleado em uma operação policial, foi promovido por bravura de tenente para capitão. Participou das operações policiais da Copa do Mundo em 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.

Não tem perfil em redes sociais. Torcedor do Fortaleza, costuma ir ao Castelão ver o seu time jogar. Graduado em educação física pela Escola de Educação Física do Exército Brasileiro, gosta de correr nas horas vagas. 

Após se casar com a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), em fevereiro deste ano, uma das principais vozes no Congresso em defesa do governo Jair Bolsonaro, seu nome ganhou destaque nacional.

O ministro da Justiça, Sergio Moro, foi um dos padrinhos do casamento. Em entrevista a uma rádio de São Paulo, Zambelli, ao revelar que estava namorando, disse, em tom de brincadeira, que o presidente tinha autorizado.

“Estou apaixonada. O presidente já está sabendo. Já fui pedir autorização dele. Ele tem 51 anos”, falou.

Em seguida, ao escutar insinuações relacionadas à idade do então namorado, a deputada emendou: “Ele não precisa de Viagra. Ele é caveira. Caveira não precisa de Viagra. Ele se chama coronel Aginaldo”, disse em meio a risos.

Entre os companheiros da Polícia Militar, é tido como um policial eficiente e fiel à instituição. Não participou dos motins da PM do Ceará em 1997 e em 2011.

Reservadamente, um coronel da PM cearense diz ainda não ter entendido suas declarações em relação aos policiais que estavam amotinados no Ceará.

Outro colega o defende, alegando que ele fazia um contraponto às mulheres dos policiais, que estavam os chamando de frouxos por encerrar o movimento. 

“Acreditem, vocês são gigantes, vocês são monstros, vocês são corajosos e demonstraram isso nesses 10, 11, 12 dias que estão dentro desse quartel em busca de melhorias da classe. E vão conseguir, tenham certeza disso”, discursou Aginaldo.

A paralisação da PM do Ceará foi encerrada naquele dia, após acordo entre amotinados e o governo de Camilo Santana. Em meio ao motim, homens da Força Nacional de Segurança foram enviados ao estado pelo ministro Sergio Moro para reforçar a patrulhamento das ruas.

“Isso que os senhores estão fazendo não é para todo mundo. É aquela coisa: os covardes nunca tentam. Os fracos ficam pelo meio do caminho. Só os fortes conseguem atingir seus objetivos, e vocês estão atingindo”, disse Aginaldo os policiais. “Os senhores se agigantaram de uma forma que não tem tamanho.”

O discurso aconteceu pouco antes de uma votação em que os amotinados decidiram voltar ao trabalho, encerrando a paralisação. O coronel fez um apelo pelo retorno dos policiais às ruas, elogiando a coragem dos PMs.

“Encerrando essa paralisação hoje, podem ter certeza, os senhores vão sair daqui do tamanho do Brasil. Já são grandes, já são corajosos. É muita coragem fazer o que os senhores estão fazendo”, disse.

Nesta terça (3), a Assembleia do Ceará aprovou uma emenda à Constituição estadual que proíbe a anistia a PMs envolvidos em motins.

Durante a paralisação, que teve início na tarde do dia 18 de fevereiro, os índice de homicídio explodiram no Ceará.

De 19 a 27 de fevereiro, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social, foram 241 assassinatos no estado, uma média de 26,7 por dia. De 1 e 18 de fevereiro houve 164 homicídios, média de pouco mais de nove, número semelhante ao de janeiro de 2020, que teve 261 assassinatos o mês todo.

Em nota enviada pelo Ministério da Justiça, a Força Nacional disse que Aginaldo "fez um discurso interno para os policiais, parabenizando-os pelo fim da paralisação e por não condicioná-lo à exigência de benefícios, como a anistia”.

No dia 19, o senador licenciado Cid Gomes (PDT) foi baleado por amotinados em Sobral, no interior do estado, após tentar invadir um batalhão com uma retroescavadeira. Cid levou dois tiros, mas passa bem.

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