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Bolsonaristas migram para rede social conservadora após terem posts apagados

Jair, Eduardo e Flávio Bolsonaro estão entre os novos usuários do Parler, visto como alternativa a Facebook e Twitter

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Brasília

O universo virtual bolsonarista tem um novo lugar para chamar de seu. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), seus filhos e apoiadores têm migrado conteúdos para a rede social Parler, criada como uma "alternativa sem censura" ao Twitter e ao Facebook.

O Parler, que em francês significa falar, afirma em sua descrição que "não é um regulador". A rede diz que todos têm o "direito de expressar online seus pensamentos, opiniões e ideias".

Segundo seu criador, John Matze, o local é uma alternativa "a falta de transparência em grandes tecnologias, supressão ideológica e abuso de privacidade".

O novo espaço do bolsonarismo é uma das saídas adotadas pela direita americana frente a investidas promovidas por outras redes tradicionais como Twitter e Facebook.

Grupos conservadores americanos acusados de disseminar discursos de ódio e desinformação começaram a ser punidos ou banidos das redes após pressão de grupos econômicos e civis por mais regulação.

Post na rede social contra Alexandre de Moraes, relator na corte do inquérito das fake news - Reprodução

Na quarta-feira (8), o Facebook removeu uma rede com 73 contas ligadas a integrantes do gabinete do presidente, dos filhos e de aliados. Parte delas promovia propagação de ódio e ataques políticos.

De acordo com a empresa, as contas atuaram para manipular o uso da plataforma antes e durante o mandato de Bolsonaro —incluindo a criação de pessoas fictícias que se passavam por repórteres.

O Parler é uma rede similar ao Twitter. As postagens podem ter até mil caracteres, com imagens e vídeos e é possível usar hashtags, responder ou compartilhar publicações de usuários.

Um dos entusiastas do novo espaço de encontro virtual do conservadorismo brasileiro é o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

O "03" da família Bolsonaro foi o primeiro do clã a aderir ao Parler, em 30 de junho. Em 11 dias, ele conseguiu mais de 120 mil seguidores. O número ainda é muito inferior ao que ele conquistou no Twitter, onde tem 2 milhões de adeptos.

Eduardo mantém o tom crítico ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao Congresso na nova rede social. Em pouco mais de dez dias, ele fez cinco postagens criticando ministros da corte.

Postagem do deputado Eduardo Bolsonaro na rede social Parler contra o ministro do STF Celso de Mello - Reprodução

Um dos alvos foi o ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que apura uma rede de fake news usada para difamar e atacar o STF e o Congresso.

O presidente Jair Bolsonaro também está na rede. Ele tem 156 mil seguidores, ante aos mais de 6 milhões no Twitter. As postagens no perfil do chefe do Executivo se limitam a reproduções do que já era publicado no Twitter.

Em março, a rede social apagou duas publicações da conta oficial do presidente. Nelas, Bolsonaro defendia o fim do isolamento social durante a pandemia do novo coronavírus.

Em um dos vídeos apagados, o presidente conversa com um ambulante, defende que as pessoas continuem trabalhando e diz para "quem tem mais de 65 ficar em casa". Ele ainda acena positivamente quando uma das pessoas na aglomeração diz que "tem que abrir os comércios e trabalhar normalmente".

No segundo vídeo, ele entra em um supermercado, volta a provocar aglomerações, critica as medidas de isolamento e diz para jornalistas que "o país fica imune quando 60, 70% forem infectados" e que um remédio "já é uma realidade" contra o novo coronavírus, sem apresentar comprovação científica.

O Twitter afirmou que modificou as regras de postagens para abranger conteúdos contrários a informações de saúde orientadas por fontes oficiais e que assim poderiam aumentar o risco de transmissão do coronavírus.

Bolsonaro é um entusiasta da hidroxicloroquina. Nesta semana, o presidente anunciou que contraiu o vírus e se isolou no Palácio da Alvorada. Ele tomou o remédio.

Outro membro do clã Bolsonaro que teve postagem apagada foi o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).

O Twitter tirou do ar uma postagem dele de um vídeo descontextualizado em que o médico Drauzio Varella aconselhava que população não mudasse o estilo de vida por causa do novo coronavírus.

O vídeo era de janeiro de 2020 quando ainda não havia casos de Covid-19 no Brasil —o primeiro foi confirmado em 26 de fevereiro— e não se tinha a dimensão real da crise.

No dia 1º deste mês, o senador estreou sua conta no Parler e pediu que seus seguidores no Twitter migrem com ele. "Siga-me no Parler! A rede social que tem como prioridade a liberdade de expressão!"

Quem não aderiu ainda ao ambiente foi o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Apontado como o mentor do sucesso digital do presidente nas redes, Carlos permanece ausente do novo ambiente conservador.

Outros expoentes da direita brasileira também aderiram recentemente ao novo ambiente.

O blogueiro Allan dos Santos, proprietário do canal conservador Terça Livre, criou um perfil pessoal na semana passada e, na quinta-feira (9), o do seu canal conservador. Ele é um dos investigados no inquérito conduzido por Moraes.

Já no Parler, o escritor Olavo de Carvalho usa seu vocabulário escatológico sem nenhum tipo de freio. "Não precisam rastrear minhas mensagens, senhores juízes e congressistas. Só tenho uma, é pública e dirigida a todos vocês: VÃO TOMAR NO(S) CU(S).", postou nesta segunda (6).

De acordo com especialistas em estratégias digitais ouvidos pela Folha, o Parler dificilmente vai substituir o Twitter ou outra rede social em um curto tempo por causa de seu impacto.

Enquanto o Twitter tem 166 milhões de usuários ativos monetizáveis, o Parler tem 1,5 milhão, segundo seu criador.

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