Descrição de chapéu STF Folhajus

Quem convida paga, a gente continua trabalhando, diz Gilmar; Toffoli falta a evento na Espanha

Ministro do STF defende participação em fórum no exterior e diz que imprensa é principal beneficiada por desoneração analisada na corte

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Madri

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes disse nesta sexta-feira (3) em Madri, na Espanha, que quem convida costuma pagar as viagens para eventos e que, apesar da presença de integrantes do tribunal pela segunda semana seguida na Europa, os magistrados seguem trabalhando.

"Posso falar por mim. Não recebo cachês, e as viagens normalmente são pagas por quem convida. A gente faz isso e continua trabalhando. Ontem mesmo eu participei da sessão [do STF] a distância", afirmou à Folha.

Gilmar participou (e está listado como um dos coordenadores) do Fórum Transformações – Revolução Digital e Democracia, que acontece na Casa de América e que contaria ainda com a presença de Dias Toffoli, também ministro do Supremo.

Gilmar Mendes sentado em uma poltrona ao lado de outras pessoas
Gilmar Mendes durante fórum em Madri, na Espanha - Divulgação

Toffoli, no entanto, faltou ao debate do qual participaria pela manhã, sobre Inovações Regulatórias no Mundo Digital. Em vez disso, enviou uma mensagem pré-gravada de nove minutos que foi exibida no auditório. No vídeo, ele agradeceu aos organizadores e discorreu sobre inteligência artificial, sem explicitar a razão de sua ausência.

Um minuto após responder ao questionamento sobre as viagens, Gilmar chamou a reportagem da Folha e deu nova declaração: "Vi aqui que o UOL está fazendo eventos em São Paulo e chamando pessoas. Isso é irregular? Não, não deve ser...", afirmou.

O UOL é uma empresa em que o Grupo Folha possui participação indireta e minoritária.

Em seguida, Gilmar voltou a procurar a reportagem para falar sobre a desoneração da folha de pagamentos.

O ministro Cristiano Zanin suspendeu trechos da lei, a pedido do governo Lula (PT), e já há 5 ministros entre os 11 do STF a favor da medida. O ministro Luiz Fux pediu vista (mais tempo para análise).

"A maior causa que tem no Supremo hoje é a causa da desoneração, cujo carro-chefe é a imprensa. São R$ 15 bi. E os maiores beneficiários são as organizações de imprensa", afirmou Gilmar.

O repórter comentou que o setor de comunicação (no qual se insere o Grupo Folha, que edita a Folha) é um dos 17 da economia beneficiados pela desoneração. Também são contemplados os segmentos de calçados, call center, confecção e vestuário, construção civil, entre outros.

O ministro do STF respondeu: "Não. É ‘o’ setor mais 16, segundo se diz na Câmara". "Bom, então, quando vocês forem fazer... Só essa causa tem R$ 15 bi", completou.

Mais tarde, Gilmar voltou a comentar sobre o fórum em Madrid. "Esse é um evento relevante, sobre democracia digital. A própria Espanha vive uma crise nesse momento", disse, referindo-se ao fato de o primeiro-ministro Pedro Sánchez ter ameaçado sair do cargo após vídeos da ultradireita no YouTube terem servido de base para que sua mulher fosse investigada por tráfico de influência.

Quando o debate se aproximava do final, um grupo de 15 manifestantes se reuniu em frente à Casa de América para criticar o STF e o que chamou de "ditadura judiciária brasileira".

Com uma lista de réus do ataque golpista de 8 de janeiro estendida no chão, os manifestantes pediam a libertação do que diziam serem "presos políticos" e culpavam Alexandre de Moraes pelo fato de Cleriston Pereira da Cunha ter morrido na penitenciária da Papuda no ano passado.

Entre os presentes estava o influencer bolsonarista Oswaldo Eustáquio Filho, que disse morar em Madri há cerca de um ano. "Sou foragido no Brasil. E Alexandre de Moraes pediu para a Interpol me procurar, mas a Interpol não aceitou ordem do inominável", disse.

Grupo de manifestantes com bandeiras do Brasil e cartazes
Manifestação de bolsonaristas diante de evento em Madri - Ivan Finotti/Folhapress

Ministros do STF estão sob pressão nas duas últimas semanas devido a viagens para eventos na Europa, sobre as quais não divulgaram informações como custeio e período fora do Brasil.

José Roberto Afonso, vice-presidente do Fibe (Fórum de Integração Brasil Europa), que organizou o evento em Madrid, afirmou à Folha que "Toffoli trabalhou em audiências até a madrugada, por isso não pode comparecer à sua mesa".

O Fibe é uma associação sem fins lucrativos baseada em Lisboa, que "tem uma receita própria, originária de associados, formados por indivíduos e instituições". De acordo a organização, "não temos nenhuma despesa com a vinda dos ministros".

O evento foi feito em parceria com o IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público), faculdade de propriedade de Gilmar. O site do evento também indica que ele foi um dos responsáveis pela coordenação científica. O magistrado também participa do conselho consultivo do Fibe, ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

A lista de palestrantes incluiu ainda o procurador-geral da República, Paulo Gonet, os ministros brasileiros Edilene Lobo (TSE), Jorge Messias (AGU), Mauro Campbell (STJ) e o ministro presidente da Comissão de Regulação de Inteligência Artificial, Ricardo Villas Boas Cuêvas (STJ).

Além do fórum desta sexta, Gilmar e Toffoli devem participar de um segundo evento jurídico em Madri, entre a segunda (6) e a quarta (8).

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) vai realizar um curso sobre segurança jurídica e tributação, e a programação prevê também a participação de outros ministros do STF, como o presidente da corte, Luís Roberto Barroso, e Kassio Nunes Marques.

Também participam Gonet e outros integrantes de tribunais brasileiros.

Na semana passada, autoridades brasileiras participaram de quarta-feira (24) a sexta-feira (26) do 1º Fórum Jurídico - Brasil de Ideias, que foi realizado no Reino Unido.

Estiveram no evento os ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Alexandre de Moraes, além de Gonet e dos ministros do governo Lula Ricardo Lewandowski (Justiça) e Jorge Messias (Advocacia-Geral da União). Jornalistas foram impedidos de acompanhar o encontro.

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