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Bolsonaro busca diálogo com Renan, e senadores de CPI da Covid reclamam de pressões nas redes sociais

Presidente telefonou ao filho de emedebista, enquanto bolsonaristas cobram investigação de governadores

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Brasília

Em uma ofensiva para tentar minimizar danos na CPI da Covid e após fracassar na tentativa de impedir que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) seja indicado o relator da comissão, Jair Bolsonaro (sem partido) fez um aceno ao congressista.

O presidente telefonou na terça-feira (20) ao governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), filho do senador, e pediu que ele avisasse ao pai que buscaria contatá-lo, o que ainda não ocorreu. Na ligação a Renan Filho, Bolsonaro avaliou que o momento é inoportuno para a instalação da CPI.

De acordo com aliados, o governador se absteve de fazer comentários sobre a pertinência da hora para que se faça investigações, mas teria dito que o senador não cometeria injustiças no processo, até porque ele se sente injustiçado pelas apurações da Lava Jato que o atingiram.

Apesar de o mandatário não ter ligado ainda para Renan, o senador diz que vê como natural a ligação de um presidente da República para um governador e que não deixaria de atender.

"Não vejo nenhuma dificuldade ou obstáculo para conversar com o presidente. A minha carreira não se fez atacando, desconstruindo. Sempre me guiei pela ponderação", afirmou Renan à Folha.

O senador tem sido criticado por apoiadores de Bolsonaro exatamente por ser pai de um governador. A CPI investigará o repasse de verbas federais a estados.

Em resposta, Renan disse que Alagoas não é alvo de apurações e que, caso venha a ser, a CPI deverá designar um membro que seja insuspeito para tocar os trabalhos.

"Se houver fato cuja investigação gere suspeição, não permitiremos. Cabe-nos, como integrante ou como relator, garantir a apuração e a imparcialidade", afirmou o senador.

Renan passou a ser apontado nos últimos dias como a principal ameaça contra o governo, no âmbito da CPI da Covid. Os governistas são minoria na comissão, ocupando apenas 4 das 11 vagas titulares.

A situação permitiu que o grupo formado por independentes e oposição pudesse fechar um acordo para eleger como presidente Omar Aziz (PSD-AM), que por sua vez indicaria Renan para a relatoria.

A CPI EM CINCO PONTOS

  • Foi criada após determinação do Supremo ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG)

  • Investiga ações e omissões de Bolsonaro na pandemia e repasses federais a estados e municípios

  • Tem prazo inicial (prorrogável) de 90 dias para realizar procedimentos de investigação

  • Relatório final será encaminhado ao Ministério Público para eventuais criminalizações

  • É formada por 11 integrantes, com minoria de senadores governistas

Inicialmente, o governo tentou agir para que Aziz indicasse outro nome e depois tentou trocar membros da comissão considerados independentes por outros mais alinhados ao Planalto, o que não deu certo.

Em minoria na comissão e apartados dos principais cargos, governistas começam a se mobilizar para que seja criada uma sub-relatoria para tratar exclusivamente dos repasses de recursos federais para estados e municípios. A investigação de governadores, em especial, é defendida pelo próprio presidente Bolsonaro.

A oposição, por sua vez, passou a reagir a esse avanço do governo para controlar essa eventual sub-relatoria, com receio de que se torne uma "CPI paralela" e que seja um mecanismo para tumultuar as investigações do governo Bolsonaro.

A proposta de criar sub-relatorias estava em planos iniciais do grupo independente e oposicionista, mas os congressistas agora advogam que essas subdivisões sejam pontuais. A decisão final caberá ao próprio Renan Calheiros, na condição de relator.

"[Governistas] não podem manobrar [para criar a sub-relatoria]. Podem propor, podem querer, mas é uma decisão do relator", afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE), integrante da CPI.

"Vão pedir, vão fazer uma guerra política, vão dizer 'está vendo, eles não querem investigar, querem passar a mão para os governadores', vai ser sempre uma disputa", completou.

Renan, que tem sido alvo de ataques nas redes sobre o relatório que produzirá na CPI, disse que ainda não sofreu pressão de governistas e que também não cederia.

"Não há pressão sobre a investigação. Aliás, nenhuma pressão será bem-vinda, venha de onde vier. Não serei um relator monocrático e investigaremos unicamente em busca da verdade", afirmou à Folha.

Governistas, no entanto, reclamam que a comissão está desbalanceada. Um líder afirmou que será necessário subdividir a comissão, porque serão vários tópicos a serem investigados. E que a oposição, embora maioria, não pode concentrar todos.

Em outra frente, senadores têm reclamado de ataques de aliados de Bolsonaro pelas redes sociais criticando a abertura da investigação e pressionando para que a apuração foque no repasse de verbas a governadores.

Costa, um dos titulares da CPI, recebeu xingamentos por mensagens individuais e grupos que foram criados com esse propósito.

O assunto chegou a ser tópico de discussão na reunião de líderes realizadas nesta quinta-feira (22). Senadores falaram que as mensagens dão impressão de serem articuladas, embora evitem inicialmente apontar que seja uma iniciativa do Planalto e do gabinete do ódio.

"Vários senadores colocaram que estariam recebendo, de novo, sendo bombardeados de mensagens. Durante o feriado, principalmente, aconteceu muita disseminação de desinformação em massa, vamos dizer assim", afirmou o líder da minoria, senador Jean Paul Prates (PT-RN), em conversa com jornalistas após a reunião de líderes.

"Falou-se das novas características dessas mensagens, bem customizadas, dirigidas aos senadores com os seus nomes, os nomes dos cidadãos que estão mandando, a região. Vários aprimoramentos em relação ao ano passado, a 2019", completou o congressista.

Os senadores então discutiram formas de combater e criminalizar as fake news. Lembraram de propostas que já tramitam na Casa legislativa, como um projeto de lei e mesmo uma proposta de emenda à Constituição.

O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, fez uma série de postagens nas redes sociais em que ironiza a CPI e critica governadores.

Em uma delas, ele publicou um vídeo em que o governador Helder Barbalho (MDB-PA) fala sobre a compra de lotes de hidroxicloroquina e azitromicina, mas ressalta que cabe aos médicos definir se vão prescrever ou não os medicamentos.

Como legenda, o vereador escreveu que a CPI focará no apoio do presidente à hidroxicloroquina e que por isso, "o senador Jader Barbalho, membro da CPI, certamente vai ouvir o filho Helder [governador]".

Jader é membro da CPI como suplente. A mensagem de Carlos foi encarada como forte provocação.

Além desta, Carlos também fez publicações relacionadas aos governadores João Doria (PSDB-SP) e Flávio Dino (PC do B-MA).

A investigação sobre governadores foi tema de conversa que o presidente Jair Bolsonaro teve com o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO). No diálogo, que foi divulgado nas redes sociais pelo parlamentar, Bolsonaro pedia para para ampliar o objeto da CPI para mirar estados e municípios.

Em sua live na noite desta quinta-feira, Bolsonaro voltou a defender medicamentos que não têm efeito comprovado contra a Covid. Mas, desta fez, temendo que sua live fosse derrubada, evitou dar os nomes dos remédios.

"Por que neste caso [da pandemia de Covid] não se pode falar em remédio, meu Deus do céu? O ano passado eu falei em remédio. Fui massacrado", afirmou Bolsonaro.

"Tem alguma coisa aí, não vou falar para não cair a live, eu tomei um negócio no ano passado, se eu tiver problema de novo, eu vou tomar essa mesma coisa, a mesma coisa. Não faz mal. E aquilo que eu tomei serve para malária, para lúpus e para artrite, se eu não me engano", prosseguiu Bolsonaro.

O presidente disse ainda que, dado o consumo "disso" no ano passado, foi necessário recompor o estoque regulador, com produção pelo Exército.

"Aí vem a imprensa: 'ah, fez em excesso'. Não tem excesso. Três milhões de comprimidos por ano o Brasil consome. Então, não tem problema no tocante a isso", afirmou.

Como a Folha mostrou, o Exército viabilizou recursos públicos para a ampliação da produção de cloroquina dois dias depois de Bolsonaro determinar ao então ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, o aumento da fabricação da droga.

"É um crime o que fazem no Brasil. É uma patifaria o que fazem no Brasil no tocante ao Covid [sic]. Parece... parece não. Interessa morrer gente", disse Bolsonaro.

OS MEMBROS TITULARES DA CPI

Governistas
Jorginho Mello (PL-SC), Eduardo Girão (Podemos-CE), Marcos Rogério (DEM-RO) e Ciro Nogueira (PP-PI)

Demais
Humberto Costa (PT-PE), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Renan Calheiros (MDB-AL), Otto Alencar (PSD-BA), Omar Aziz (PSD-AM), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Eduardo Braga (MDB-AM)

Suplentes
Jader Barbalho (MDB-PA), Luis Carlos Heinze (PP-RS), Angelo Coronel (PSD-BA), Marcos do Val (Podemos-ES), Zequinha Marinho (PSC-PA), Rogério Carvalho (PT-SE) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE)

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