Siga a folha

Ciro Nogueira, ministro de Bolsonaro, cometeu crime de corrupção, diz PF

Relatório enviado ao Supremo afirma que Ciro recebeu propina da JBS para apoiar Dilma em 2014

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Brasília

A Polícia Federal afirmou ao STF (Supremo Tribunal Federal) que o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), cometeu os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por ter recebido propina da JBS.

De acordo com a PF, a empresa frigorífica teria feito os pagamentos para que o PP apoiasse a reeleição da então presidente Dilma Rousseff em 2014.

O ministro Ciro Nogueira - Pedro Ladeira-17.mar.22/Folhapress

Agora, cabe à PGR (Procuradoria-Geral da República) decidir se apresenta denúncia contra o ministro, se pede o arquivamento do caso ou se solicita a realização de mais medidas para aprofundar as investigações. A defesa do ministro diz estranhar o relatório, baseado "somente em delações".

Ciro Nogueira é o ministro da principal pasta do governo de Jair Bolsonaro (PL) e foi um dos principais articuladores da entrada dos partidos do centrão na gestão federal. Ex-aliado do PT, ele se tornou um defensor do chefe do Executivo e já garantiu o apoio do PP a ele nas eleições deste ano.

Segundo a PF, parte do repasse da JBS a Nogueira foi feito por meio de doação eleitoral oficial e outra parte foi repassada em dinheiro vivo por intermédio do supermercado do irmão do ministro.

No relatório, a corporação diz que os fatos apontam que Nogueira e os executivos da JBS não mantinham "relação republicanas entre um dirigente de um partido político —que deseja apoio financeiro para sua legenda— e um importante empresário".

A polícia diz que o dono da empresa, Joesley Batista, gravou uma conversa que teve com o político em sua residência e que na ocasião também estava presente Ricardo Saud, à época um dos diretores da frigorífica.

"Depois de ouvir o conteúdo do áudio, resta evidente que não se tratou de uma visita de cortesia a um amigo ou mesmo um jantar. Tampouco foi uma reunião de negócios lícitos. A reunião foi marcada por Joesley Batista, para entregar uma mala contendo R$ 500 mil em espécie para Ciro Nogueira", afirma a corporação.

A defesa de Ciro Nogueira afirmou que "estranha o relatório da Polícia Federal, pois a conclusão é totalmente baseada somente em delações que não são corroboradas com nenhuma prova externa".

"Continuamos à disposição do Poder Judiciário com plena convicção que a verdade prevalecerá. O império das delações falsas e dirigidas não mais se sustenta", disse o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro por meio de nota.

Segundo a PF, Nogueira afirmou em depoimento que as doações da JBS ao PP foram feitas de forma legítima, assim como faziam outras empresas na época.

A polícia, entretanto, contesta essa tese do ministro da Casa Civil. "Faz mais sentido entender e acreditar que os R$ 40 milhões doados pela JBS ao PP nada mais eram que o repasse de dinheiro ilegal, que tinha o propósito específico de ‘comprar’ o apoio do PP para as eleições de Dilma Rousseff."

A PF transcreve trecho da conversa entre os dois e diz que Joesley teria feito referência ao pagamento da propina. "E vamos fazer de 500 em 500. 500 em 500. Pá, pá". Depois, Nogueira responde: "Mas não tem sangria, não".

Na sequência do relatório, a PF expõe sua explicação para o conteúdo da conversa. "De tudo o que já foi demonstrado nessa investigação, resta evidente que Joesley está dizendo que, a partir daquele momento, eles iriam começar a fazer repasses de R$ 500 mil regulares", diz.

É normal que investigados da Lava Jato aleguem que as acusações são baseadas apenas na palavra de delatores. No relatório, a polícia tenta desconstruir essa tese e diz que conseguiu provas que vão além dos relatos das delações premiadas.

"A investigação conseguiu, por intermédio de provas autônomas, independentes e extrínsecas, comprovar o repasse de R$ 5 milhões do dinheiro da JBS para Ciro Nogueira por intermédio de um supermercado em Teresina", diz.

Segundo a polícia, após serem acionados pela PF, auditores fiscais verificaram as movimentações financeiras de Nogueira e identificaram "clara tentativa de dissimular a origem" das verbas recebidas pela JBS.

"Da forma como fora descrito pela Receita Federal, a estrutura atende perfeitamente aos interesses de alguém que queira integralizar recursos ilícitos, para dar a esses um certo grau de legalidade", diz a polícia.

A PF cita que em um momento da conversa gravada entre Joesley e Nogueira o ministro menciona o presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e diz que ele é "um dos seus" no órgão.

"Sua vinculação com Ciro Nogueira é noticiada em vários veículos de comunicação", diz a PF. A polícia também diz que pessoas que teriam participação no esquema prestaram depoimentos contraditórios.

A polícia diz que, além da verba para apoiar Dilma em 2014, o dono da JBS também ofereceu R$ 8 milhões a Ciro Nogueira para que ele retardasse o desembarque do PP do governo Dilma —a proposta teria sido aceita.

De acordo com a polícia, a reunião, de fato, foi adiada e parte do pagamento foi feito na data em que foi gravada a conversa entre eles.

"Na ocasião, foi dito a Ciro Nogueira que o pagamento seria realizado, a partir daquele dia, de forma parcelada, de 15 em 15 dias, sendo que o valor de cada parcela seria R$ 500 mil. Ricardo Saud foi a pessoa que colocou a mala contendo os R$ 500 mil em espécie, no carro de Ciro Nogueira".

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas