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Bolsonaro quebra silêncio, critica bloqueios e fala em indignação e injustiça com eleição

Presidente faz, na prática, um reconhecimento implícito à votação e condena o cerceamento do direito de ir e vir

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) fez nesta terça-feira (1º) pronunciamento no qual quebrou um silêncio de 45 horas após o resultado do segundo turno, condenou bloqueios nas estradas por aliados e falou em indignação e injustiça com a eleição na qual foi derrotado pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral", afirmou o presidente, que leu o pronunciamento. Bolsonaro evitou classificar como violentos os movimentos de bloqueio nas estradas ou mesmo usar palavras negativas para descrevê-lo.

"As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir", completou.

Bolsonaro faz pronunciamento no Palácio da Alvorada - Gabriela Biló/Folhapress

Ao chegar para o discurso, o mandatário se virou para o lado e teve sua fala com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), captada pelos microfones: "Vão sentir saudade da gente?".

Na fala de cerca de 2 minutos no Palácio do Alvorada, disse ter enfrentando o que chamou de "sistema", não citou Lula em nenhum momento nem fez um reconhecimento claro sobre a derrota no último domingo (30). Mas, ao criticar o processo eleitoral, ele faz na prática um reconhecimento implícito à votação, dando-o como válido.

O presidente não falou diretamente sobre eleições, a derrota ou o adversário. Mas, após a sua declaração, Ciro Nogueira disse que será responsável pelo processo de transição.

As autoridades não aceitaram responder perguntas de jornalistas.

Bolsonaro ainda afirmou que continuará cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição. Ele agradeceu aos 58 milhões de eleitores que votaram nele, disse ter "enfrentado todo o sistema" e exaltou a representação "robusta" da direita no Congresso.

"Quero começar agradecendo os 58 milhões de brasileiros que votaram em mim no último dia 30 de outubro."

O presidente também exaltou o crescimento da direita nas últimas eleições, citando particularmente o crescimento das bancadas conservadoras tanto na Câmara como no Senado Federal. O chefe do Executivo disse que seguirá cumprindo todos os mandamentos da Constituição.

"Mesmo enfrentando todo o sistema, superamos a pandemia e as consequências de uma guerra, sempre fui rotulado como antidemocrático e ao contrário dos meus acusadores sempre joguei dentro das quatro linhas da Constituição Nunca falei em controlar ou censurar mídia e as redes sociais", afirmou.

"Enquanto presidente da República e cidadão continuarei cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição", completou o presidente.

O mandatário quebrou o silêncio depois de diversos protestos de seus apoiadores fecharem rodovias pelo país entre segunda e terça-feira. O STF (Supremo Tribunal Federal) teve que tomar uma decisão para determinar a liberação das estradas.

O presidente disse que manifestações pacíficas são bem-vindas, mas que os métodos "não podem ser os da esquerda", e condenou o cerceamento do direito de ir e vir.

"As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas. Mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir."

"A direita surgiu de verdade em nosso país. Nossa robusta representação no Congresso mostra a força dos nossos valores: Deus, pátria, família e liberdade."

Bolsonaro afirmou que sempre foi "rotulado como antidemocrático", mas que continuará cumprindo "todos os mandamentos da nossa Constituição".

"Mesmo enfrentando todo o sistema, superamos uma pandemia e as consequências de uma guerra. Sempre fui rotulado como antidemocrático e, ao contrário dos meus acusadores, sempre joguei dentro das quatro linhas da Constituição."

"Nunca falei em controlar ou censurar a mídia ou as redes sociais. Enquanto presidente da República e cidadão, continuarei cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição." A menção a Lula, neste trecho do discurso, foi indireta: Bolsonaro sempre falou que o petista quer controlar a mídia, com a proposta do presidente eleito de regulamentação.

Bolsonaro estava acompanhado de todo o seu primeiro escalão, com exceção de Fábio Faria (Comunicações), que está em São Paulo.

Faria comentou o discurso do presidente nas redes sociais. "Presidente Bolsonaro agradeceu os 58 milhões de votos, falou em injustiças, mas disse que respeitará a Constituição, que o povo dele é ordeiro e pediu respeito ao direito de ir e vir, mas contra a paralisação de estradas que prejudicam a economia. Ciro Nogueira comanda a transição", disse.

Outros auxiliares da ala mais radical do presidente também acompanharam de perto o seu discurso, como o olavista Filipe Martins e Tércio Arnaud, integrante do chamado "gabinete do ódio".

Ex-ministros João Roma (Cidadania), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Gilson Machado (Turismo) estavam presentes, assim como o deputado Hélio Lopes (PL-RJ). O único filho do presidente presente foi Eduardo Bolsonaro (PL-SP) —o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), coordenador da campanha do pai, não estava no momento do pronunciamento.

O ministro-chefe da Casa Civil falou após Bolsonaro, brevemente. Disse que foi autorizado pelo chefe do Executivo a iniciar o processo de transição, quando o governo for provocado pela chapa vencedora, conforme diz a lei.

"A presidente do PT, segundo ela, em nome do presidente Lula, disse que na quinta-feira será formalizado o nome do vice-presidente Geraldo Alckmin. Aguardaremos que isso seja formalizado para cumprir a lei no nosso país", afirmou.

Após o pronunciamento, Bolsonaro foi acompanhado do ministro Paulo Guedes (Economia) para o Supremo Tribunal Federal. A corte soltou uma nota, logo após a fala do chefe do Executivo, afirmando que ele reconheceu o resultado das eleições.

"O Supremo Tribunal Federal consigna a importância do pronunciamento do Presidente da República em garantir o direito de ir e vir em relação aos bloqueios e, ao determinar o início da transição, reconhecer o resultado final das eleições."

A nota foi emitida pouco antes de o próprio presidente Bolsonaro chegar ao STF para se reunir com os ministros da corte, por volta das 17h40.

O ministro Edson Fachin disse que Bolsonaro usou a expressão "acabou" em encontro com ministros do tribunal. "[Ele] utilizou o verbo 'acabar' no passado. Ele disse 'acabou'. Portanto, olhar para frente", disse Fachin, ao ser questionado se Bolsonaro havia reconhecido o resultado do pleito.

Bolsonaro passou seus quatro anos de governo em situação constante de crise com as instituições, em especial o STF.

A manifestação do chefe do Executivo ocorre após o mandatário se ver isolado. Aliados internos, como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e presidentes dos maiores países do mundo, como os líderes da Rússia, Vladimir Putin, dos Estados Unidos, Joe Biden, e da China, Xi Jinping, parabenizarem Lula pela vitória nas urnas.

Na segunda-feira (31), o chefe do Executivo havia recebido seu filho mais velho, o senador Flávio, o vice em sua chapa, o general Walter Braga Netto, e alguns ministros, como Fábio Faria (Comunicações) e Célio Faria (Secretaria de Governo) para reuniões.

Na manhã desta terça, o comandante da FAB (Força Aérea Brasileira), Carlos Baptista Junior, Braga Netto e outros ministros também estiveram no Alvorada com o presidente. Também foi à residência oficial o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto.

Lula foi eleito para um terceiro mandato, ao vencer o atual mandatário por uma diferença de mais de 2 milhões de votos. O petista terminou com 50,9% dos votos, contra 49,1% do presidente Jair Bolsonaro.

Durante todo seu mandato Bolsonaro fez ataques infundados às urnas eletrônicas e evitou afirmar que aceitaria o resultado da eleição. Nesta terça, voltou a criticar o sistema eletrônico de votação, mas indicou que aceitará o resultado do pleito.

Bolsonaro e os membros da campanha manifestaram confiança na vitória ao longo de praticamente todo o domingo de eleição. O presidente chegou para votar antes mesmo da abertura de sua sessão, no Rio de Janeiro. Depois, reservou o resto da manhã para encontrar e acompanhar jogadores do Flamengo, que retornaram ao Brasil após ganharem a Taça Libertadores.

Chegou-se a divulgar a informação de que o presidente iria para a Esplanada dos Ministérios, para comemorar a vitória ao lado de seus apoiadores.

O domingo de votação foi marcado pela polêmica atuação da Polícia Rodoviária Federal, que aumentou o número de abordagens a veículos de transporte coletivo na região Nordeste, tradicional reduto do PT.

O presidente começou a campanha no segundo turno embalado, após os resultados da primeira rodada de votação serem melhores do que previam as pesquisas de intenção de votos. Bolsonaro e seus aliados iniciaram uma ofensiva contra os institutos e buscaram tirar a credibilidade dos levantamentos, a cada nova divulgação.

Além disso, Bolsonaro fechou alianças importantes nos primeiros dias do segundo turno e obteve o apoio dos governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil) e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Zema era apontado como peça fundamental para trazer para o lado bolsonaristas os prefeitos do estado e assim virar o jogo, em um colégio eleitoral apontado como fundamental para a vitória.

Depois de angariar apoios, a campanha bolsonarista começou a sofrer um grande desgaste, com a notícia de que o ministro Paulo Guedes pretendia mudar as regras de correção do salário mínimo. Reportagem da Folha mostrou que o nome forte da Economia havia elaborado um plano que tinha como um dos pontos centrais a desindexação do mínimo e das aposentadorias da inflação registrada no ano anterior.

A pressão sobre o presidente também aumentou quando seu aliado, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), resistiu à prisão disparando tiros de fuzis e lançando granadas contra a Polícia Federal.

Membros da campanha ainda culparam fortemente a deputada reeleita Carla Zambelli (PL-SP), que, às vésperas do segundo turno, perseguiu com arma em punho um militante petista, durante o dia, em um bairro nobre de São Paulo.

LEIA A ÍNTEGRA DA FALA DE BOLSONARO

Quero começar agradecendo os 58 milhões de brasileiros que votaram em mim no último dia 30 de outubro.

Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral.

As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas. Mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir.

A direita surgiu de verdade em nosso país. Nossa robusta representação no Congresso mostra a força dos nossos valores: Deus, pátria, família e liberdade.

Formamos diversas lideranças pelo Brasil. Nossos sonhos seguem mais vivos do que nunca. Somos pela ordem e pelo progresso.

Mesmo enfrentando todo o sistema, superamos uma pandemia e as consequências de uma guerra.

Sempre fui rotulado como antidemocrático e, ao contrário dos meus acusadores, sempre joguei dentro das quatro linhas da Constituição.

Nunca falei em controlar ou censurar a mídia ou as redes sociais.

Enquanto presidente da República e cidadão, continuarei cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição.

É uma honra ser o líder de milhões de brasileiros que, como eu, defendem a liberdade econômica, a liberdade religiosa, a liberdade de opinião, a honestidade e as cores verde e amarela da nossa bandeira.

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