Descrição de chapéu Eleições 2022

Discurso de Bolsonaro inflama grupos que pedem golpe e bloqueios de estradas

Militância radicalizada no Telegram entendeu que deve manter atos pelo país

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São Paulo

A militância radicalizada que incentiva e organiza bloqueios nas estradas via Telegram entendeu que deve manter os atos que questionam o resultado da eleição depois do pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (PL), que rompeu o silêncio após 45 horas.

O presidente incentivou o que chamou de manifestações pacíficas, não reconheceu a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e se limitou apenas a dizer que é contrário ao cerceamento de ir e vir.

A fala serviu como gasolina para os grupos que têm defendido um golpe de Estado.

"Vamos pedir sim intervenção federal", "estou mais animada e otimista para ir às ruas amanhã!", "ele não falou que não é para manifestar. Esse é o sinal que ele nos deu". "O recado ele deu: Manifestação pacífica sem trancar as passagem. E sim é ir para frente dos quartéis. Gente, essa é a hora" são exemplos de mensagens de repercussão do discurso.

Presidente Jair Bolsonaro rompe silêncio de dois dias e faz pronunciamento após derrota nas urnas
Presidente Jair Bolsonaro rompe silêncio de dois dias e faz pronunciamento após derrota nas urnas - Gabriela Biló/Folhapress

A movimentação dos grupos nas horas que antecederam o pronunciamento de Bolsonaro sinalizava que aqueles que estão buscando coordenar as comunicações queriam transmitir a ideia de que o teor do discurso não deveria ser levado em consideração.

Mesmo que Bolsonaro fosse enfático em reconhecer a derrota ou mesmo em pedir o encerramento das manifestações, isso não deveria ser acatado pela militância.

A leitura era de que Bolsonaro estaria impedido de falar o que quer e que está apenas seguindo um protocolo institucional para não ser visto como o responsável pelas paralisações.

Bolsonaro, no entanto, sequer chegou a mencionar sua derrota ou a vitória de Lula. Disse, por outro lado que manifestações pacíficas são bem-vindas.

"Atuais movimentos populares são frutos de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral. As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas nosso métodos não podem ser como os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedade, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir", afirmou.

"Em nenhum momento houve qualquer indicação clara do presidente da República sobre o reconhecimento do resultado. Os protestos tendem a se intensificar a partir desta terça-feira, levando milhões de brasileiros às ruas", são exemplos de mensagens que circularam após o pronunciamento.

Alguns poucos usuários repercutiram a fala do ministro da Casa Civil Ciro Nogueira, visto como um reconhecimento da derrota. "Reconheceu sim. Não viu a fala do Ciro Nogueira, logo depois da do Presidente?", escreveu um usuário.

Além dos bloqueios nas estradas, desde segunda-feira (30), estão sendo compartilhadas listas com endereços de quarteis e comandos militares de diferentes cidades do país incentivando que os apoiadores se dirijam a esses locais para pedir uma intervenção federal.

Uma das teorias, sem qualquer embasamento na realidade, é que os movimentos devem durar ao menos 72 horas para que Bolsonaro possa tomar alguma medida. Já há atos ocorrendo em diferentes locais desde segunda, mas a orientação predominante é para concentração nesta quarta-feira às 15h.

Antes do pronunciamento, o tom das mensagens era de que o silêncio de Bolsonaro também era um sinal para continuar as manifestações ou de que mesmo que ele se pronunciasse isso não deveria ser considerado com uma mensagem a ser seguida.

"O silêncio de Bolsonaro foi um recado para nós. Infelizmente, ele é obrigado a falar [para cessar as manifestações], caso contrário, interpretarão que o silêncio dele é responsável pela paralisação", disse uma ativista em um dos grupos, numa mensagem que resume a ideia predominante. "Bolsonaro já fez sua parte."

"Por mais que ele fale, não vamos levar em consideração suas palavras. Agora o que importa é a vontade do povo que está revoltado por conta das fraudes utilizadas para entregar ao ladrão o comando do nosso querido Brasil!" é outra mensagem.

Desde a noite de domingo, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito, grupos de Telegram passaram a intensificar discursos golpistas, violentos e xenófobos. O silêncio de Bolsonaro virou um assunto constante e gerou diversas interpretações.

A ideia predominante é a de que Bolsonaro não se manifestava para não ser culpado pelas manifestações, mas que era papel dos "patriotas" manterem a resistência civil" por 72 horas. A expectativa dos radicais era a de que, em algum momento, as Forças Armadas atuassem em favor deles e contra a vitória de Lula.

Diversas mensagens nos grupos passam as orientações para os presentes nas barricadas. Pedem que, se abordados pela polícia, os militantes não citem Bolsonaro e nem mencionem o artigo 142 da Constituição ou intervenção militar.

Também foram compartilhados vídeos antigos de Bolsonaro dizendo que precisava do povo nas ruas para tomar qualquer medida, caso contrário, seria um ditador.

Organizadores estão pedindo ajuda da militância para levar comida, água, TVs e banheiros químicos para as barricadas, além da divulgação de números de Pix para financiamento de protestos.

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