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'Tinta que não suja mãos é grande acontecimento', celebra leitora da Folha de décadas

Assinante Rebeca Belk comenta novo formato e recorda sua relação de mais de 40 anos com a Folha

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São Paulo

No final de semana passado, o ritual matinal de Rebeca Belk foi praticamente o mesmo que ela cumpre há décadas: acordar e logo tomar café lendo a Folha. A diferença é que a professora aposentada, 90 anos mas com a cabeça tinindo, folheou um jornal diferente.

Assinante há décadas (ela lembra que pelo menos desde os anos 1970), Belk foi uma das raras leitoras a receber antecipadamente um exemplar da Folha no novo formato, berliner em vez do standard que circulou até agora. A partir deste domingo (1º), quando a mudança será implantada, todos os leitores terão a mesma experiência.

A primeira impressão foi de estranhamento, conta Belk. Mas a assinante aposta que se acostumará rapidamente com o novo formato, e constatou com satisfação que a edição em berliner preservou todo o conteúdo da standard —na verdade, terá até uma oferta maior de textos.

E celebrou inovações trazidas pela mudança, como o retorno do Guia Folha destacável e as colunas de texto mais largas, mas sobretudo a impressão que não solta tinta, ou seja, que não suja as mãos —nem as portas brancas do seu apartamento, como às vezes ocorria. "Eu acho um grande acontecimento."

A professora aposentada Rebeca Belk, leitora da Folha desde os anos 1970, com uma edição do jornal no novo formato berliner, em seu apartamento em SP - Eduardo Knapp/Folhapress

Rebeca Belk foi professora de português dos ensinos fundamental e médio nas redes pública e privada. Leitora ávida de livros e jornais desde a mocidade, mantém o hábito. E continua exercitando o raciocínio de outras formas. Faz cursos de estímulo cerebral ("porque a minha memória recente às vezes falha"), de atualidades/mundo contemporâneo e de história da arte.

Alguns ela faz online —a família prefere, para evitar riscos de quedas nos deslocamentos, uma vez que Belk mora sozinha. Mas, na hora da leitura, seu fraco é mesmo pelo papel. "Gosto de folhear."

Eu sou uma pessoa conservadora quanto aos costumes. Eu estranhei o formato do jornal, porque eu estava acostumada com o tal do formato standard. Mas eu acredito que, depois de uma semana familiarizada com o novo formato, eu não vou ter problema algum, porque o que mais me importa realmente é o conteúdo.

O que eu mais gostei é que não vai sujar as mãos. Porque as portas aqui [de casa] são brancas. Meu marido [o engenheiro Samuel Belk], por exemplo, a gente dividia o jornal, ele ficava com o primeiro caderno e eu com Cotidiano. Quando acabava de tomar o café e ia ao banheiro, ele ia batizando todas as portas de preto, com as mãos bem sujas. E, já que essa tinta não vai sujar as mãos, eu acho um grande acontecimento.

Eu me importo muito com o conteúdo e percebi, pelo exemplar que você me trouxe, esse tal modelo berliner, que o conteúdo era identicamente igual àquele que eu havia lido na terça-feira. Desde que eu tenha o conteúdo necessário e suficiente, eu acho ótimo.

Percebi que as colunas estão mais largas, eu achei ótimo. Se pudesse aumentar um pouquinho a letra eu também gostaria.

Eu estou achando ótimo que o Guia Folha será um caderno, porque aqui no prédio o jornal depois de lido é doado, mas o Guia Folha vou guardar para a semana seguinte, para me informar a respeito de filmes e exposições que vão estrear e estão em cartaz. Você pode pelo menos guardar por 15 dias, qualquer coisa nesse sentido. Eu acho ótimo.

Acho ótimo se for ter mesmo uma oferta maior de conteúdo, como está se dizendo. Só vem enriquecer o jornal.

Eu sou disciplinada, recebo o jornal às 6h30 da manhã e já começo a ler no meu café. Atualmente, a primeira coisa que eu leio é Mundo. Eu estou preocupada com as guerras de Israel, contra o Hamas e agora com o Hezbollah, e com a guerra entre Ucrânia e Rússia.

Aí eu já passo para a página dois, porque eu gosto do Ruy Castro, gosto do Bruno Boghossian, do Álvaro Costa e Silva, da Mariliz Pereira Jorge, ela escreve muito bem. E o Hélio Schwartsman, muitas vezes eu gosto, e outras, quando ele se apoia única e basicamente num livro inglês que só ele leu, eu não gosto, porque não gosto de perder tempo com uma coisa que eu não entendo.

Gosto muito da página três, não são todos os artigos que eu aprecio, às vezes são assuntos de que eu não gosto. Eu leio o Painel do Leitor, e assim vai. Leio Política, gosto de ler Cotidiano, eu leio sempre a Tati Bernardi, aos domingos eu adoro Antonio Prata. Cada dia há colunistas diferentes, eu gosto da Vera Iaconelli, gosto da Ilona Szabó.

Nas terças-feiras eu gosto do João Pereira Coutinho, mas ele não escreve no Cotidiano, ele escreve na Ilustrada, leio Luiz Felipe Pondé. Eu adoro o João Pereira Coutinho, adoro esse português, estava me fazendo falta às terças-feiras, quando ele estava de férias. Eu gosto do pessoal da Folha.

Eu leio a Folha há muitos anos, muitos anos. Eu me alfabetizei aos quatro, cinco anos de idade lendo jornais. Mas, naquele tempo —eu tenho uma idade provecta, você sabe— eu nem sei se a Folha existia [existiam a Folha da Noite e a Folha da Manhã, que, em 1960, foram fundidas na Folha de S.Paulo].

O fato é que meu pai comprava o Estadão [O Estado de S. Paulo]. Houve uma época, talvez até o final da década de 70, começo dos 80, nós éramos assinantes de ambos os jornais, Folha e Estado. Mas meu marido e eu trabalhávamos bastante, e não nos sobrava tempo suficiente para ler os dois jornais.

Como ainda era a época do Cláudio Abramo, depois do Clóvis Rossi, eu adorava, depois o Gilberto Dimenstein, ele foi para Nova York, eu adorava as crônicas que ele escrevia a partir de Nova York, eu então optei pela Folha. Hoje eu nem me sinto à vontade lendo o Estadão, tal é a minha familiaridade com a Folha.

Eu fui professora de português por muitos anos, dei aula em escola pública e, quando se tratava do curso colegial, hoje ensino médio, eu muitas vezes usei textos da Folha, porque eram bem escritos, o Clóvis Rossi, o Cláudio Abramo, escreviam divinamente, eram muito, como diria, eles eram muito sensatos nas proposições.

A vida toda eu li jornal porque meus pais eram pessoas humildes, que tiveram instrução básica, mas culturalmente eram muito instruídos. Havia muitos livros na casa dos meus pais, e meu pai fazia questão que eu lesse. Eu era adolescente quando li Tolstói, Dostoievski.

Eu gosto do jornal e do livro impresso, não gosto de ler na internet. Gosto de folhear, dependendo do livro eu até assinalo frases ou trechos interessantes —se o livro for meu.

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