Livro esmiúça 70 anos de história da ciência brasileira pelas mãos da SBPC

Fundada em 1948, entidade teve papel chave para o fortalecimento científico e social do país

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São Paulo

A SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) foi fundada em 1948 em São Paulo. Era uma sociedade científica inusual —dela quem queria participava, até não cientistas. Era uma alternativa à Academia Brasileira de Ciências (ABC), criada em 1916 e sediada no Rio, da qual só os mais destacados pesquisadores podiam ser membros.

Na última semana foi lançado o livro “Ciência para o Brasil: 70 anos da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)”, que esmiúça a trajetória da entidade entre 1948 e 2018. A obra de 512 páginas foi organizada pelas cientistas Helena Bonciani Nader e Vanderlan Bolzani e pelo jornalista José Roberto Ferreira.

Hoje é mais comum ver SBPC e ABC na mesma trincheira, em busca do desenvolvimento do país por meio de políticas para ciência e tecnologia. A SBPC, contudo, tem DNA mais político, combativo. Não são raras em sua história manifestações críticas a políticos e governos, muitas formalizadas em assembleias.

A entidade nasceu da motivação de cientistas como o médico farmacologista Maurício Rocha e Silva (1910-1983), um dos descobridores da bradicinina, peça-chave no desenvolvimento de fármacos anti-hipertensivos, o biólogo Paulo Sawaya (1903-1995), que doou quase metade do terreno onde hoje fica o Cebimar (Centro de Biologia Marinha da USP, em São Sebastião) e o médico e comunicador José Reis (1907-2002), que escreveu para esta Folha e que empresta o nome ao maior prêmio de divulgação científica do país.

De 1940 a 1946, quando trabalhou nos EUA e no Reino Unido, Rocha e Silva conheceu de perto o trabalho da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), fundada em 1848, e da BAAS (Associação Britânica para o Avanço da Ciência), criada em 1831 em oposição à Royal Society.

Ambas tinham importante função na difusão do conhecimento científico, por exemplo por meio da publicação de jornais e revistas para o público geral, além de fomentar a colaboração entre diferentes áreas e grupos de pesquisa.

Outra característica desse tipo de entidade é o poder de aglutinar e catalisar a criação de outras sociedades científicas especializada.

No Brasil, muitas delas nasceram em reuniões anuais da SBPC, como a de Sociedade Brasileira de Física, na 18ª Reunião Anual, em 1966, e a da Química, na 29ª Reunião Anual, em 1977. No fim de 2018 já eram 136 entidades filiadas, nas áreas de de ciências biológicas e da vida, exatas, humanas e tecnológicas.

“Esperava-se com ansiedade as reuniões da SBPC [...] Era uma instituição importante na formação de uma consciência democrática, o que estava além da questão propriamente científica. [...] É bom lembrar que sou da área de ciências sociais, e o diálogo com outras áreas, apesar de difícil em algumas circunstâncias, foi importante para a minha formação”, conta o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista publicada no livro.

O objetivo da SBPC era contribuir para enriquecer e aperfeiçoar o trabalho do cientista.​

Depois, “em razão do atraso brasileiro em diversos aspectos, a maioria deles passíveis de observação, estudo e proposições da ciência, assumiu o papel de lutar também pelo país. Tornou-se, portanto, não apenas uma entidade com propostas e ações para o progresso per se da ciência, mas também para o progresso do país tendo a ciência como instrumento”, escreve Ferreira no capítulo de abertura.

Desde o início, a SBPC e seus membros influenciaram os rumos da política científica do país, como na criação de agências estaduais de fomento à pesquisa, no envio de propostas da categoria para a Constituinte de 1988, na conscientização sobre a importância do estudo e preservação da biodiversidade, na expansão do acesso ao ensino público e na criação de instituições de ensino superior, como a UnB.

“A SBPC antecede nossos dois primeiros órgãos de promoção científica, o CNPq e a Capes. Foi a voz dos pesquisadores tanto nas manifestações em torno do fazer científico e tecnológico quanto naquelas em que expressou sua posição de resistência ao regime militar”, escreve o ex-presidente José Sarney.

A combatividade da entidade durante o regime militar também foi lembrada pela ex-presidente Dilma Rousseff: “A SBPC construiu uma história de apoio decisivo ao desenvolvimento da ciência e, em momentos difíceis para o nosso país, desempenhou papel relevante na defesa da democracia, da liberdade de pensamento, manifestação e opinião. Foi assim durante a ditadura militar nascida no golpe de 1964, período no qual a SBPC lutou bravamente pela liberdade, pela anistia e atuou em apoio a professores e cientistas perseguidos”.

Além de questões nacionais, aspectos locais também entraram no escopo da SBPC. As reuniões regionais acontecem oficialmente desde 1974 (a primeira foi sediada na UFPE) e se intensificaram a partir da década de 1980, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste.

Diferentemente das reuniões anuais, sediadas em universidades de grande porte, as regionais buscam atender a demandas específicas e dar visibilidade a pesquisas e trabalhos de alunos e professores locais. Entre temas explorados estão abundância e escassez de água, crescimento econômico no cerrado e biodiversidade e sustentabilidade na Amazônia.

RAIO-X SBPC

Fundação 8 de julho de 1948

19 presidentes já comandaram a entidade, entre eles o agrônomo Warwick Kerr (1969-1973), o geógrafo Aziz Ab’Saber (1993-1995), o físico e matemático Marco Antônio Raupp (2007-2011) e a biomédica Helena Nader (2011-2017)

Missão

Contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico do país;
Lutar pela qualidade e universalidade da educação em todos os níveis;
Defender os interesses dos cientistas;
Promover a disseminação do conhecimento científico por meio de divulgação da ciência;
Lutar pela remoção dos empecilhos e incompreensão que embaracem o progresso da ciência

Ações da entidade

Participação da criação das agências federais de fomento Capes e CNPq;
Encontro anual, desde 1949, é um dos maiores eventos científicos da América Latina;
Difusão de conhecimento científico por meio de eventos e publicações e da participação de estudantes de ensino fundamental e médio em projetos de pesquisa;
Conscientização de governos e parlamentares

Ciência para o Brasil: 70 anos da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)

  • Autor Helena Bonciani Nader, Vanderlan da Silva Bolzani e José Roberto Ferreira (org.)
  • Editora ed. SBPC, 512 págs
  • Link: https://portal.sbpcnet.org.br

Disponível para download no site da SBPC (http://portal.sbpcnet.org.br)

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