Oceano escondido sob camada de gelo explicaria origem de CO2 em lua de Júpiter

Estudos publicados na Science reforçam as esperanças de que enorme volume de água oculta possa abrigar algum tipo de vida

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Daniel Lawler
Paris | AFP

O dióxido de carbono detectado em Europa, uma das luas de Júpiter, é proveniente de um vasto oceano escondido sob a camada de gelo do planeta, de acordo com dois estudos divulgados nesta quinta-feira (21).

Com dados obtidos pelo telescópio James Webb, ambas análises reforçam as esperanças de que esse enorme volume de água oculta possa abrigar algum tipo de vida.

Os cientistas têm certeza de que debaixo de quilômetros de gelo é possível haver um vasto oceano de água salgada em Europa, o que faz desta lua a principal candidata para abrigar vida extraterrestre no Sistema Solar.

Entretanto, ainda não é possível determinar se esse mar oculto tem elementos químicos para sustentar formas de vida.

Europa, uma das luas de Júpiter
Europa, uma das luas de Júpiter - Nasa/SWRI/MSSS/NYT

O CO2, considerado um dos principais componentes da vida, já havia sido detectado anteriormente na superfície deste satélite natural, mas sua origem era desconhecida.

Duas equipes de pesquisadores dos Estados Unidos utilizaram dados do espectro infravermelho do JWST para traçar um mapa do dióxido de carbono na superfície de Europa. Eles publicaram os resultados em dois estudos separados na revista Science.

A maior quantidade de CO2 foi encontrada em uma superfície de 1.800 quilômetros de extensão, chamada de Tara Regio. Essa é uma região de "terreno caótico", onde a superfície congelada está muito alterada.

Ainda não se sabe com certeza qual fenômeno está por trás do terreno irregular, mas a teoria é de que a água quente do oceano emerge e derrete o gelo da superfície, que não demora a congelar novamente.

O primeiro estudo utilizou dados do telescópio Webb para determinar se o CO2 pode ter chegado à superfície de outra forma, como o impacto de um meteorito, por exemplo.

Samantha Trumbo, astrônoma da Universidade de Cornell e principal autora do estudo, contou à AFP que os especialistas concluíram que o dióxido de carbono "em última instância veio do interior, provavelmente do oceano interno".

Os investigadores não descartam que essa origem esteja nos minerais ricos em carbono –semelhantes a rochas— do interior do satélite, que posteriormente foram decompostos por irradiação na superfície, para se transformarem em CO2.

Sal e micróbios

Sal também foi detectado na região de Tara Regio, o que explica o tom mais amarelado do terreno, em comparação a outras superfícies planas, brancas e bem marcadas em Europa.

Os pesquisadores dizem acreditar que esse mineral também possa ter se originado do oceano.

"Uma vez que temos sal e CO2, estamos começando a entender como pode ser esta química interna", afirmou Trumbo.

Utilizando os mesmos dados do telescópio, o segundo estudo também confirmou que "o carbono vem do interior de Europa".

Além disso, os cientistas da Nasa esperavam encontrar colunas d'água ou gases voláteis na superfície do satélite, mas até o momento não fizeram essa descobertas.

Duas grandes missões espaciais planejam agora se aproximar de Europa e seu misterioso oceano.

A sonda Juice, da Agência Espacial Europeia, foi lançada em abril, enquanto a missão Europa Clipper, da Nasa, está programada para outubro de 2024.

Um cientista do projeto Juice, Olivier Witasse, comemorou os dois novos estudos, considerando que ambos são muito interessantes.

Juice passará perto de Europa duas vezes em 2032 e poderá colher "muitas informações novas", incluindo sobre a química da superfície, explicou ele à AFP.

A sonda também observará outras duas luas de Júpiter, Ganímedes e Calisto, onde carbono já foi detectado anteriormente.

Witasse reforçou que o objetivo das duas missões é descobrir se estas luas possuem condições adequadas para sustentar a vida. Entretanto, as sondas não são capazes de fazê-lo integralmente.

Caso alguma missão futura detecte vida fora do planeta Terra, esta provavelmente se manifestaria em forma de micróbios, presos sob mais de 10 quilômetros de gelo.

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