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Maioria das abelhas não morre depois de dar uma ferroada

Isso ocorre com 8 das quase 21 mil espécies; e há um subgrupo que não pode picar de forma alguma

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James B. Dorey

Professor em ciência biológicas na Universidade de Wollongong

Amy-Marie Gilpin

Professora de ecologia de invertebrados na Universidade de Western Sydney

Rosalyn Gloag

Pesquisadora de ciências da natureza na Universidade de Sidney

The Conversation

A maioria de nós já foi ferroado por uma abelha, e sabemos que isso não é muito legal. Mas talvez também tenhamos sentido uma pontada de arrependimento, ou de vingança, ao saber que a abelha agressora morrerá. Certo? Bem, para 99,96% das espécies de abelhas, esse não é realmente o caso.

Apenas 8 das quase 21 mil espécies de abelhas do mundo morrem quando ferroam. Outro subgrupo não pode picar de forma alguma, e a maioria das abelhas pode ferroar quantas vezes quiser. Mas há ainda mais do que isso.

Para entender os meandros das abelhas e seu potencial de picar, precisaremos falar sobre o formato dos ferrões, os órgãos genitais das abelhas e sua "atitude".

Abelha próxima a colmeia em Montrelais, na França - Stephane Mahe/Reuters

Amadas e mortais abelhas melíferas

A abelha que você lembra ter te ferroado provavelmente é a abelha melífera europeia (Apis mellifera). Nativas da Europa e da África, essas abelhas são hoje encontradas em quase todo o mundo.

Elas são 1 das 8 espécies de abelhas melíferas em todo o mundo, sendo que as abelhas Apis representam apenas 0,04% do total de espécies de abelhas. E sim, essas abelhas morrem depois de ferroar você.

Mas por quê?

Poderíamos dizer que elas morrem pela rainha e pela colônia, mas a verdadeira razão pela qual essas abelhas morrem após a picada é por causa de seus ferrões farpados. Essas farpas brutais, na maioria das vezes, impedem que a abelha puxe o ferrão de volta.

Em vez disso, a abelha deixa o apêndice embutido em sua pele e voa sem ele. Depois que a abelha se vai e morre do ferimento, o ferrão permanece alojado ali, bombeando mais veneno.

Além disso, abelhas e vespas (provavelmente as abelhas europeias) são os animais venenosos mais mortais da Austrália. Em 2017-18, 12 das 19 mortes por animais peçonhentos foram causadas por esses pequenos insetos (apenas uma pequena proporção de pessoas é alérgica a eles).

Isso é que são boas relações públicas.

Então, o que é um ferrão?

Um ferrão, pelo menos na maioria das abelhas, vespas e formigas, é na verdade um tubo para colocar ovos (ovipositor) que também foi adaptado para defesa. Esse grupo de insetos ferradores, as vespas aculeadas (sim, as abelhas e as formigas são tecnicamente um tipo de vespa), vem ferroando em autodefesa há 190 milhões de anos.

Pode-se dizer que essa é uma característica que as define.

Com tanta evolução, literalmente, elas também desenvolveram uma diversidade de estratégias de picada. Mas vamos voltar para as abelhas.

A ferroada da abelha melífera europeia é a mais dolorosa possível para uma abelha, com uma pontuação de 2 em 4 no índice Schmidt de dor na picada de insetos.

Mas a maioria das outras abelhas não tem a mesma força, embora tenhamos ouvido algumas críticas dolorosas de colegas menos cuidadosos. Por outro lado, a maioria das espécies de abelhas pode picá-lo quantas vezes quiser porque seus ferrões não têm as farpas encontradas nas abelhas melíferas. No entanto, se continuarem a picar, podem acabar ficando sem veneno.

Ainda mais surpreendente é o fato de centenas de espécies de abelhas terem perdido totalmente a capacidade de ferroar.

Quem está fazendo as malas?

Globalmente, existem 537 espécies (cerca de 2,6% de todas as espécies de abelhas) de "abelhas sem ferrão" na tribo Meliponini. Temos apenas 11 dessas espécies (nos gêneros Austroplebeia e Tetragonula) na Austrália. Essas abelhas pacíficas também podem ser mantidas em colmeias e produzir mel.

As abelhas sem ferrão ainda podem defender seus ninhos quando atacadas, mas mordendo. Você pode pensar nelas mais como um incômodo do que como um enxame com ferrões mortais.

A Austrália também tem a única família de abelhas (há um total de sete famílias em todo o mundo) que é encontrada em um único continente. Essa é a família Stenotritidae, e compreende 21 espécies. Essas gigantes gentis e belas (14-19 mm de comprimento, até duas vezes maiores do que as abelhas europeias) também se locomovem sem um ferrão funcional.

O leitor astuto pode ter percebido algo a essa altura do texto. Se os ferrões são tubos modificados para a postura de ovos… e os machos? As abelhas macho, de todas as espécies de abelhas, não têm ferrões e têm, aham, outra anatomia. No entanto, algumas abelhas macho ainda farão uma demonstração de "ferroada" se você tentar agarrá-las.

Algumas vespas macho podem até causar um pouco de dano, embora não tenham veneno para introduzir numa picada.

Por que sempre as abelhas melíferas?

Então, se a maioria das abelhas pode ferroar, por que é sempre a abelha melífera europeia que está atacando? Há algumas respostas prováveis para essa pergunta.

Primeiro, a abelha europeia é muito abundante em grande parte do mundo. Suas colônias normalmente têm cerca de 50 mil indivíduos e elas podem voar 10 km para procurar alimento.

Em comparação, a maioria das abelhas selvagens forrageia apenas em distâncias muito curtas (menos de 200 m) e precisa ficar perto de seus ninhos. As abelhas europeias, portanto, trabalham duro, percorrendo quilômetros.

Em segundo lugar, as abelhas europeias são animais sociais. Elas literalmente morrerão para proteger sua mãe, irmãs e irmãos. Em contraste, a grande maioria das abelhas (e vespas) é, na verdade, solitária (as mães solteiras fazem isso por si mesmas) e não têm a agressão altruísta de suas parentes sociais.

Um relacionamento complicado

Temos uma relação interessante com as abelhas europeias. Elas podem ser mortais, não são nativas em grande parte do mundo e defendem agressivamente suas colmeias. No entanto, elas são cruciais para a polinização de plantações e, bem, seu mel é de morrer.

Mas vale a pena lembrar que essas abelhas são uma pequena minoria em termos de espécies. Temos milhares de espécies de abelhas nativas (mais de 1.600 encontradas até agora na Austrália) que são mais propensas a simplesmente zumbir do que a picar.

Este texto foi publicado no The Conversation. Clique aqui para ver a versão original

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