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Cientistas calculam a energia necessária para gestar um bebê

Em humanos, o custo energético da gravidez é de cerca de 50 mil calorias, muito mais do que se pensava antes

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Carl Zimmer
The New York Times

Uma gestação demanda muita energia, mas só agora cientistas têm uma ideia aproximada de quanta.

Em um estudo publicado nesta quinta-feira (16) na revista Science, estimou-se que uma gravidez humana exige quase 50 mil calorias dietéticas ao longo de nove meses. Isso equivale a cerca de 50 litros de sorvete e significativamente mais do que os pesquisadores esperavam.

Estimativas anteriores eram mais baixas porque os cientistas geralmente entendiam que a maior parte da energia envolvida na reprodução acabava armazenada no feto.

Mas o biólogo evolutivo Dustin Marshall, da Universidade Monash (Melbourne), e seus alunos descobriram que a energia armazenada nos tecidos de um bebê humano representa apenas cerca de 4% do custo total de energia da gravidez. Os outros 96% são combustível extra para o próprio corpo da mulher.

A imagem mostra um ultrassom obstétrico, capturando a silhueta de um bebê no segundo ou terceiro trimestre de gestação
A energia armazenada nos tecidos de um bebê humano representa cerca de 4% do custo total de energia da gravidez - Adobe Stock

Essa descoberta surgiu de uma pesquisa de longa data de Marshall sobre metabolismo. Espécies diferentes têm que atender a demandas diferentes de energia. Mamíferos de sangue quente, por exemplo, podem manter uma temperatura corporal constante e permanecer ativos mesmo quando a temperatura cai.

No entanto, ser de sangue quente também tem desvantagens. Manter uma taxa metabólica alta requer que os mamíferos comam constantemente. Uma cobra de sangue frio, por outro lado, pode passar semanas sem se alimentar.

Marshall se propôs a investigar a energia consumida por dezenas de espécies ao longo de suas vidas.

Quando começou a examinar os custos da reprodução, ele não conseguiu encontrar números sólidos. Alguns pesquisadores haviam suposto que os custos indiretos —ou seja, a energia que as fêmeas usam para alimentar seus próprios corpos durante a gravidez— poderiam representar apenas 20% da energia direta nos tecidos do bebê. Mas Marshall desconfiava dessas hipóteses.

Ele e seus alunos se propuseram a estimar os custos e vasculharam a literatura científica em busca de informações, como a energia armazenada nos tecidos de cada descendente. Além disso, procuraram a taxa metabólica geral das fêmeas durante a reprodução, que os cientistas podem estimar medindo quanto oxigênio as mães consomem.

"As pessoas estavam apenas coletando os dados, mas ninguém juntava tudo", disse Marshall.

Ao agregá-los, os pesquisadores estimaram os custos da reprodução para 81 espécies.

Com isso, descobriram que o tamanho de um animal exerce uma grande influência na quantidade de energia necessária. Animais microscópicos chamados rotíferos, por exemplo, requerem menos de um milionésimo de caloria. Já um cariacu, que pode atingir 2 metros de comprimento e 1 metro de altura, precisa de mais de 112 mil calorias para produzir um filhote.

O metabolismo de uma espécie também desempenha um papel. Mamíferos de sangue quente usam três vezes mais energia do que répteis e outros animais de sangue frio do mesmo tamanho.

A maior surpresa veio quando Marshall e seus alunos descobriram que, em muitas espécies, os custos indiretos da gravidez eram maiores do que os diretos.

Os resultados mais significativos vieram dos mamíferos. Em média, apenas 10% da energia que uma fêmea de mamífero usava durante a gravidez ia para sua prole.

"Isso me chocou", disse o biólogo. "Voltamos às fontes muitas vezes porque parecia surpreendentemente alto com base na expectativa da teoria."

David Reznick, biólogo evolucionista da Universidade da Califórnia, Riverside, que não estava envolvido no estudo, também ficou surpreso com o quão alto o custo indireto poderia chegar. "Eu não teria adivinhado isso." E ainda mais surpreendente para ele foi que a equipe de Marshall foi a primeira a determinar esses números.

O estudo oferece pistas sobre por que algumas espécies têm custos indiretos mais altos do que outras. Por exemplo, cobras que põem ovos utilizam muito menos energia indireta do que cobras que dão à luz filhotes vivos.

Pode haver várias razões pelas quais os mamíferos pagam custos indiretos tão altos por estarem grávidos. Muitas espécies constroem uma placenta para transferir nutrientes para seus embriões, por exemplo.

Em relação aos humanos, Marshall suspeita que apresentem um custo alto porque as mulheres permanecem grávidas por mais tempo do que a maioria dos outros mamíferos.

Segundo ele, os novos resultados também podem explicar por que as fêmeas de mamíferos dedicam tanto esforço para cuidar de seus filhotes após o nascimento: até ali, elas já investiram muito.

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