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anna veronica mautner

 

04/09/2012 - 03h30

Reencontro de gerações

Cada vez mais vão sendo diluídas as fronteiras entre as diferentes fases da vida.

Hoje em dia, as avós envelhecem, mas demoram a se aposentar. As mulheres se tornam avós muito cedo e ainda são bem jovens quando seus netos e netas se tornam capazes de fazer as mesmas coisas que elas, tendo uma participação na sociedade semelhante à delas.

No trabalho, os adultos --hoje com vida útil mais longa-- se encontram com os jovens que estão chegando.

Minha neta trabalha no meu consultório depois que eu saio. Trabalhamos na mesma atividade e no mesmo lugar, em turnos diferentes. A longevidade, os bons tratos, a diminuição de preconceitos em relação à terceira idade nos brindam com esse luxo.

Há poucas décadas, não era previsível esse reencontro de gerações em ocupações semelhantes. Não estou aqui falando de herança de bens ou de sobrenome, mas sim de duas ou três gerações que trabalham juntas, exercendo a mesma atividade, compartilhando um mesmo interesse que nasce talvez na conversa do jantar, em casa.

Antes isso só ocorria no pequeno artesanato. Dizia-se que filho de peixe era peixinho. O filho aprendia o ofício do pai, na oficina do pai.

Nos últimos tempos, essa tradição quase desapareceu. Os frutos quiseram cair bem longe do tronco das árvores. Os jovens fugiram dos ofícios de suas famílias. Mas, hoje, flores, caules e frutos já não se afastam uns dos outros.

Gosto desse paralelismo que não é culturalmente herdado nem forçado. Apesar do número de anos que continua separando avós de netos, a idade já não tem a importância que tinha.

Filho de médico, de dentista, de advogado pode até seguir a carreira do pai, mas não "tem que"... Não se trata de uma passagem de conhecimento, mas de transmissão de status entre profissionais liberais. Isso vem ocorrendo, apesar de não haver pressão social.

As distâncias diminuem e já é muito comum que avô, pai e neto produzam ou atendam no mesmo escritório ou consultório.

Nesse nosso mundo onde a prestação de serviços é mais dominante, o profissional liberal ganha uma condição especial. A prestação de serviços propicia esse tipo de herança. Exige garantia --e a linhagem é uma garantia. O nome indica berço: berço de conhecimento, berço de especialidade, não de bens.

Esse é o novo mundo. Confiamos no neto que se imbuiu do saber, da atitude e da ética profissional "em casa".

anna veronica mautner

Anna Veronica Mautner psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, é autora de "Cotidiano nas Entrelinhas" (Ed. Ágora) e "Educação ou o quê?" (Ed. Summus). Escreve às terças, a cada quatro semanas, na versão impressa do caderno "Equilíbrio".

 

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