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clóvis rossi

 

17/11/2010 - 13h07

Realeza é para sempre

A realeza, especialmente a britânica, pode ter sofrido um retrocesso no prestígio em consequência do comportamento inicialmente adotado quando da morte da princesa Diana. Mas continua sendo um tremendo ímã para o olhar do público, do que dá prova o noticiário em torno do noivado do príncipe William com a plebeia Kate Middleton.

Na terça-feira, logo cedo, todos os "breaking news" dos quais tenho alerta chamavam para o anúncio do iminente casamento. Logo, como bem constatou Vaguinaldo Marinheiro, correspondente da "Folha" em Londres, a televisão britânica parecia não ter outro assunto para pôr no ar.

Na quarta-feira, até o "Guardian", que não é exatamente o porta-voz da monarquia, deu seu título principal para o noivado, com uma foto enorme do casal, mais duas páginas internas e, nas duas páginas centrais do primeiro caderno, foto deles de novo, na entrevista em que anunciaram o noivado.

O "Daily Telegraph" lançou caderno especial, com informações tão relevantes quanto o fato de Kate ser a mais velha a casar-se com "um rei-em-espera", se excetuadas duas divorciadas que se casaram com futuros reis no remotíssimo século 12.

Valeu até comparecimento do primeiro-ministro David Cameron diante dos jornalistas, para festejar o anúncio. Ironiza Jonathan Freedland, no "Guardian": "Seu sorriso [o de Cameron] poderia ser perdoado mesmo se fosse também o de um político aliviado por ser o portador --ao menos uma vez-- de boa notícia, tendo calculado que o casamento real atuaria como conveniente distração da melancolia econômica e do corte de gastos que vai morder nos primeiros meses de 2011".

Se ainda dá para entender a fixação dos britânicos (tradição é tradição), mais difícil é entender porque o resto do mundo também se excita. De "O Dia", no Rio de Janeiro, ao "Bild" alemão, passando pelo "Samoa Observer", um punhado de jornais levaram à capa a foto do casal. A "Folha" dedicou uma página inteira ao tema.

Pode-se especular que a realeza entrou para o rol de celebridades, já que poder tem pouco, e que celebridades passaram a ser foco de notícias mais do que assuntos tido como sérios. Pode ser. O fato é que, a olho nu, vê-se que o Palácio de Buckingham é muito mais visitado por turistas do mundo inteiro do que o Parlamento, a sede do poder, mesmo ficando este atrás (ou ao lado) do Big Ben e à frente da Catedral de Westminster.

Já nem falo de Downing Street número 10, residência e escritório do primeiro-ministro, porque a ruazinha foi fechada com uma imensa grade de ferro depois de um atentado praticado pelo IRA, o Exército Republicano Irlandês.

Não vale, pelo menos na Inglaterra, a velha história de "rei morto, rei posto". A realeza está sempre "posta", e 2011 será mais um ano de exposição intensa de seu apelo público.

clóvis rossi

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.

 

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