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humberto luiz peron

 

20/06/2012 - 13h56

Conceitos da moda

Manter a posse de bola, marcar a saída de bola e utilizar o esquema 4-5-1, que se transforma em 4-3-3 quando a equipe vai para o ataque. De repente, como em um passe de mágica, parece que só é preciso ter essas três características para uma equipe se tornar invencível.

Também só é considerado moderno e antenado com o que acontece de melhor no futebol mundial quem fica repetindo essas frases, que se converteram em verdades absolutas do futebol atual a cada comentário.

Não acho ruim copiar soluções táticas --e expressões-- que apresentam resultados. O que me incomoda bastante é que, quando novos conceitos são usados no Brasil, eles são muito mal adaptados por nossos treinadores.

Foi assim, por exemplo, que o 3-5-2, que na sua essência é um esquema ofensivo, aqui no Brasil, virou sinônimo de sistema de retranca, pois os técnicos utilizam para na tentativa de melhorar a defesa de uma equipe. Como era considerado moderno usar o 3-5-2, poucos perceberam --e outros ainda estão se dando conta-- que o esquema com três zagueiros no Brasil sempre foi o 5-3-2.

Voltando aos termos da moda, começando com a expressão manter a posse de bola. Primeiro, ela não tem nada de moderno, pois é um dos conceitos mais antigos do futebol. Já que, com certeza, você deve ter ouvido seu avô dizer: "Quem está com a bola nunca leva gol".

Quando se fala em manter a posse de bola, significa trocar passes rápidos e ir envolvendo --e cansando-- a marcação adversária por meio das triangulações rápidas e viradas de jogo.

Agora, ficar com a posse de bola, no futebol brasileiro significa um festival de passes laterais trocados entre o zagueiro central e o quarto zagueiro, ou uma sequência de passes na defesa, em que vários jogadores tocam na bola, mas o time não evolui e o oponente nem precisa correr para fazer a marcação.

Outra coisa, não dá para se falar em valorizar a posse de bola quando não existe, no Brasil, uma equipe que sabe sair jogando com a bola no chão --invariavelmente um time vai para o ataque na base do chutão do goleiro ou de um zagueiro.

Já quando se fala em marcar a saída de bola significa bem mais do que um ou dois atacantes correndo como alucinados atrás dos beques rivais. Marcar por pressão significa ter um time que jogue de maneira bem compacta. Não antecipar a marcação se os três setores --defesa, meio de campo e ataque-- estiverem distantes. Assim, só vai facilitar para o adversário, que vai ter muito espaço para jogar.

No esquema 4-5-1, não resolve escalar volantes para fazer a função fundamental do esquema, que é os armadores que atuam pelos lados do campo se transformam em atacantes quando o time tem a posse da bola. Assim, quando ele atacar, vai haver poucos jogadores ofensivos, geralmente apenas um meia e o outro atacante e mais nada. O jogador com características defensivas pelo lado do campo ainda impede o avanço do lateral.

Vamos parar de querer transformar os pomposos termos da moda em formas certas de vitória. Pois o grande sucesso do futebol está no fato de que não existe a receita ideal --e nunca haverá-- para se conquistar um triunfo.

Até a próxima!

Mais pitacos em: @humbertoperon

DESTAQUE

Não concordo com o critério de alguns clubes de abandonarem totalmente uma das competições quando jogam dois torneios simultâneos. Acho um risco muito grande apostar todas as fichas em apenas uma competição, pois, por exemplo, as equipes que deixaram de lado o Campeonato Brasileiro neste início, se fracassarem na Copa do Brasil ou na Libertadores, não terão mais tempo para se recuperarem na disputa nacional. Lógico que alguns jogadores podem não aguentar a maratona de jogos, mas em partidas do Brasileiro, os treinadores poderiam usar equipes mescladas e não entrarem em campo com um time escalado com apenas com reservas e jogadores da base --que já entram em campo derrotado.

ERA PARA SER DESTAQUE

Por que só usamos a expressão "nó tático" quando um treinador usa a retranca para segurar o time adversário e por sorte acha um gol no contra-ataque? Queria ouvir a expressão quando um técnico conseguir taticamente furar o esquema defensivo do adversário com jogadas combinadas e alguma substituição que realmente mude o ritmo da partida. Infelizmente, para muitos, técnico competente é sinônimo de retranqueiro.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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