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humberto luiz peron

 

11/07/2012 - 12h49

O torcedor deprimido

DE SÃO PAULO

Uma das coisas que ainda me fez ir aos estádios é observar o comportamento dos torcedores nas arquibancadas. Mas existe um tipo de fanático que me deixa fascinado: aquele que chamo de "torcedor deprimido".

Sei que é difícil classificar a paixão por um clube de futebol, mas acho que essa classe é a que traduz melhor a palavra "torcedor".

Para quem ainda não conhece a origem do termo que comumente usamos para definir quem acompanha um jogo de futebol, ele passou a ser utilizado quando foi observada, no início do século passado, que algumas mulheres, aflitas, não paravam de torcer seus lenços enquanto viam os prélios.

Atualmente, são raras as pessoas que usam lenços, mas ainda é fácil descobrir um "torcedor deprimido". Ele se senta sempre no mesmo lugar nas arquibancadas, e geralmente está sozinho - ou no máximo com um ou dois acompanhantes com quem troca poucas palavras. Quando precisa acompanhar o jogo pela televisão, também não quer muitas companhias no recinto.

Durante os 90 minutos, sua fisionomia é tensa. Nada de seguir os gritos de guerra da torcida. O máximo de movimentação que ele consegue fazer está num pequeno pulo na hora do gol ou no balançar dos braços para mostrar o que o time está fazendo de errado no gramado.

Muito exigente, nosso "torcedor deprimido" não admite nenhum descuido. Um simples erro de passe, mesmo com seu time vencendo o jogo por 4 a 0, já é motivo para que a eterna cara tensa fique ainda mais fechada.

Por vezes, nem a vitória leva os deprimidos à euforia. Sempre vai surgir um comentário que o triunfo só ocorreu por que o adversário era muito fraco e que é bom não ficar muito animado, já que, na próxima rodada, a derrota facilmente se dará, pois o time não tem padrão de jogo nenhum.

É incrível como, nas vezes em que você consegue falar com esse tipo de torcedor, ele sempre vai dizer que o pior vai acontecer.

Ele é capaz de, em poucos minutos, citar todos os fracassos do time e explicar, nos mínimos detalhes, o que fez a equipe ser derrotada, como os erros dos dirigentes, a falha específica de um jogador que deu início ao contra-ataque do adversário, que a equipe nunca dá sorte quando enfrenta determinados adversários, os erros de arbitragem e da má utilização do banco de reservas pelo técnico para mudar o resultado.

Também, depois de conhecer de perto um "torcedor deprimido", é possível observar outras características que vão além da eterna cara fechada.

Uma delas é que ele é um torcedor fanático por seu clube, um verdadeiro arquivo da história de seu time de coração e do futebol. Outra é que esse tipo de apaixonado, geralmente, acompanhou sua equipe em longos períodos sem títulos de times e sofreu calado com todas as gozações que teve que ouvir durante o jejum. Por isso, essa eterna certeza de que algo pode dar sempre errado para seu time.

Nunca se deve chamar um "torcedor deprimido" de "sem alma" ou pessimista, pois ele tão fanático - ou mais - quanto qualquer "torcedor comum". Está certo que, na conquista de um título, você jamais vai vê-lo dando saltos de alegria e gritando. Ele fica parado, olhando para o infinito, tremendo e vibrando internamente. A única marca exterior pode ser apenas uma lágrima, que vai escorrer pelo seu rosto. Afinal, se ele guardou tantas emoções nas derrotas, não é justo chorar em uma vitória.

PS. O "torcedor deprimido" tem tudo para se transformar em um jornalista esportivo.

Até a próxima!

Mais pitacos em: @humbertoperon

DESTAQUE
Eles podem estar em final de carreira, mas a chegada de jogadores como o holandês Seedorf, agora no Botafogo, e o uruguaio Forlán, Internacional, melhora tecnicamente - e motiva - o Campeonato Brasileiro. Sem dúvida, esses nomes são capazes de fazer sucesso em nossos gramados e levar mais torcedores aos estádios - o entusiasmo nas festas de apresentação de ambos mostra isso.

ERA PARA SER DESTAQUE
Mesmo com os términos da Copa Libertadores e da Copa do Brasil, ainda vai demorar mais um mês para que o Campeonato Brasileiro não tenha mais concorrência de outras competições importantes e os times possam utilizar seus melhores jogadores. Agora, teremos a seleção brasileira tentando ganhar o inédito ouro olímpico nos Jogos de Londres e vários times disputando o Nacional sem seus destaques.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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