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humberto luiz peron

 

30/08/2012 - 13h02

Muito mais que emoção e vontade

Gosto de ler e ouvir comentários sobre as partidas de futebol, sobretudo daquelas que consigo assistir os 90 minutos. A primeira conclusão que chego é que um jogo admite diferentes tipos de leitura, mas o que realmente me surpreende é que, assim como já é comum chamar qualquer atleta mediano de craque, já temos uma classe de torcedores --e também de analistas-- que transformam qualquer jogo comum em um confronto sensacional e inesquecível.

Poderia citar vários exemplos que muitos consideraram o jogo do ano, mas vou ficar com o clássico entre Cruzeiro e Atlético-MG, disputado no último domingo.

Não faltaram aqueles que afirmaram categoricamente que o confronto entre os mineiros foi uma grande partida. Sinceramente, achei um jogo ruim tecnicamente, com muitos erros de passes, faltoso em alguns momentos e com uma arbitragem atrapalhada.

A meu ver, quem achou que o empate de 2 a 2 foi um jogo muito bom foi influenciado pelo número de tentos da partida, pelo belo gol feito por Ronaldinho Gaúcho --o segundo do Atlético-MG-- e pelo empate marcado em cima da hora pelo cruzeiro.

Por isso, a partida no Independência, assim como tantas outras, foi, no máximo, um jogo emocionante e nada mais que isso. Para boa parte das pessoas, um jogo que tem mais de três gols ou um tento marcado nos acréscimos já ganha o título de magnífico.

Pode parecer estranho, mas o brasileiro que sempre gostou do futebol bem jogado não exige mais que um time tenha padrão de jogo definido, variações táticas e que os atletas possam ter liberdade para fazer uma jogada individual. Atualmente, a primeira característica que é cobrada de uma equipe é que ela tenha atitude --palavra da moda-- e que os jogadores mostrem garra.

Todos gastam elogios demais com jogadores que só entram em campo para dar chutões para as laterais. Já temos uma geração que comemora um carrinho na lateral do campo como se fosse um gol. Em contrapartida, quando existe um jogador que pensa um pouco mais, e tenta dosar a correria desenfreada, que virou moda em nosso futebol, ele é taxado de lento e sem alma.

Também é preciso tomar cuidado com alguns entendidos que se acham modernos e antenados. Na semana passada, quando foi anunciada a convocação da seleção brasileira, questionei sobre a presença de apenas um armador de ofício, no caso, Oscar.

Pronto! Foi a senha para que os "modernos" já se manifestassem para me explicar que, seguindo o que acontece no futebol mundial, os times jogam com duas linhas de quatro --uma de zagueiros, uma de meias-- e dois atacantes, e que, por isso, o time de Mano Menezes não joga com armadores, e sim com "wingers".

Aos que acham que esse esquema tático é moderno, preciso dizer que a Inglaterra de 1966 já usava essa tática e que armador atuando pelos lados do campo e ajudando na marcação quando o time está sendo atacado é mais antigo ainda.

Também ouvir alguém que se acha moderno usando terminologias em inglês para me dizer a posição de um jogador no campo, me soou tão estranho quanto meu pai ainda chamar os laterais de "halfo" --termo usado nos anos 1940/1950.

Dramaticidade é um ingrediente importante, mas o espetáculo do futebol só se torna completo quando existe técnica. E, quando temos quem sabe jogar no gramado, temos muito mais possibilidades de acompanharmos jogos muito mais emocionantes.

Até a próxima!

Mais pitacos: @humbertoperon

DESTAQUE

Para o Grêmio, que se aproximou dos líderes Atlético-MG e Fluminense e já pode sonhar com a conquista do título do Brasileiro. Além de ter um elenco experiente e de bons jogadores, a equipe conta com o apoio incondicional da torcida quando joga em casa. Nos últimos jogos do time no Olímpico, vai ser muito difícil alguém tirar pontos dos gaúchos em Porto Alegre.

ERA PARA SER DESTAQUE

Para o Vasco, que desmontou seu time no meio do torneio e perdeu fôlego na competição. De uma das equipes que chegou a brigar com a liderança, com o elenco atual, vai ter dificuldades até para assegurar uma das vagas para a próxima Copa Libertadores.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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