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humberto luiz peron

 

13/09/2012 - 14h12

Sobrevivendo à crise

DE SÃO PAULO

Não faz muito tempo precisei escrever uma matéria descrevendo como é a rotina de uma equipe que viaja para disputar uma partida do Campeonato Brasileiro. Por isso, consegui ter acesso quase total ao que acontece nesses trajetos, que duram quase dois dias, para o time atuar apenas 90 minutos.

Pude observar como é organizado todo o material na rouparia e como ele segue com a equipe de apoio que o organiza. Presenciei o comportamento de cada atleta durante todo o deslocamento, - inclusive a rotina concentração - e todo o preparativo para o time entrar no gramado.

Nessa experiência, o que mais me chamou a atenção foi o clima no vestiário depois de uma derrota - em tempo, era um jogo de meio de campeonato e o revés aumentaria o período sem vitórias do clube e o deixaria com uma pequena ameaça de rebaixamento. A cena que vi, vai totalmente contra a ideia simplória de que os jogadores de futebol não se importam com uma derrota.

O cenário era quieto e desolador. Em meio a materiais esportivos espalhados por todos os cantos, misturados a inúmeros copinhos com isotônicos, era possível observar um grupo de jogadores parados olhando para o chão, tentando achar uma explicação. Outros miravam o pequeno altar improvisado, onde uma vela que persistia em ficar acesa ao lado de uma imagem de Nossa Senhora, como que pedindo um conforto divino para mais um fracasso. O único barulho que se ouvia era apenas dos chuveiros.

O técnico, também num canto, trocava uma ou duas palavras com auxiliares próximos e se preparava para mais uma coletiva, em que tentaria explicar mais um vexame.

E a presença de cartolas, que, poderia sugerir um apoio deles para os atletas, ao mesmo tempo parecia uma grande ameaça, pois poderia mostrar indícios de mudanças.

Já no ônibus, do estádio para a concentração, o silêncio continua total, o refúgio é garantido graças aos fones de ouvido dos jogadores.

Na mesma viagem, no dia seguinte ao jogo, tive a chance de conversar com dois jogadores e pude ver como os profissionais tentam sobreviver a um momento ruim do time.

O que basicamente ouvi de ambos é que é péssimo ter de ir treinar e encontrar com 30, 35 pessoas desanimadas e cabisbaixas, onde nem são permitidas brincadeiras. Assim, com tantos atletas com o moral baixo, o ambiente fica péssimo. A pressão e cobrança surgem de todos os lados - torcedores, dirigentes, comissão técnica e dos próprios jogadores.

A sensação que fica é todos estão procurando um culpado para a sequência de maus resultados. Muitas vezes um ou outro profissional explode, perde a cabeça e aí tem de entrar alguém para evitar que as coisas piorem. Quando tudo está dando errado parece que não existe o fundo do poço.

Também o que eles me contaram que em um time em crise trabalha muito mais. A carga de treinos é muito maior. O problema é que quando o momento é ruim, o time toma gols nas jogadas que todos sabiam que iria acontecer e o elenco fica tão preocupado em seguir tudo que foi determinado, que fica preso e sem imaginação. O caos fica tão grande que tudo que é feito para melhorar o time não surge efeito.

O trabalho excessivo faz os jogadores sofrerem mais lesões, embora o elenco desconfie que algumas contusões funcionem como um escudo para alguns não estarem em campo nas fases mais delicadas.

Os momentos de crise também trazem grande intranquilidade para os atletas, pois eles sabem que qualquer deles um pode ser afastado do time a qualquer momento ou ser escolhido como único culpado pela sequência de resultados ruins -- todos sabem que nesses momentos, os dirigentes adoram se comportar como torcedores apaixonados.

Sem dizer que pode acontecer uma troca do treinador, que muitas vezes não é suficiente para mudar a situação da equipe. Pois, se há muitos atletas que não confiam mais no comandante, existe também uma boa parte que acreditam no técnico e a divisão tende a aumentar ainda mais.

Os dois jogadores concordaram que palestras motivacionais, vídeos, psicólogos, treinos fechados e longos períodos de concentração podem ajudar um time sair da fase ruim. Só que ambos afirmaram que apenas uma vitória é a solução definitiva para acabar com um momento ruim no futebol.

Até a próxima!

Mais pitacos em: @humbertoperon

DESTAQUE
Para Fluminense e Atlético-MG, que travam um belo duelo pela liderança do Campeonato Brasileiro com campanhas excepcionais. O time carioca, por exemplo, conseguiu dois triunfos importantes contra Internacional e Portuguesa, jogando fora de casa. Já os mineiros suportaram a pressão de jogar sabendo que não poderiam deixar o Fluminense escapar na classificação e tiveram competência para vencer o Palmeiras e o São Paulo.

ERA PARA SER DESTAQUE
Crítica a situação do Palmeiras. Agora, o clube vai precisar de, no mínimo, quatro rodadas para ter uma chance de escapar da zona do rebaixamento. Como disse lá atrás, o time precisa achar uma maneira de vencer uma partida o mais rápido possível, para diminuir a pressão no elenco conseguir fôlego para encarar a reta final do torneio.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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